Pequenos negócios sofrem para repassar aumento de custos

Pesquisa mostra que 76% dos empreendedores sofreram aumentos de custos, mas apenas 9% repassaram o valor integralmente para os consumidores

Postado em: 20-10-2022 às 08h00
Por: Sabrina Vilela
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Pesquisa mostra que 76% dos empreendedores sofreram aumentos de custos, mas apenas 9% repassaram o valor integralmente para os consumidores | Foto: reprodução

O aumento no custo de matérias primas, materiais e prestação sofreu com reajustes ao longo do ano. Com a pandemia e a guerra na Rússia e Ucrânia produtos que dependem de exportação sofreram alta e não teve outra alternativa a não ser repassar para o consumidor final. Segundo a primeira edição da Pesquisa Pulso dos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),  somente 9% deles repassaram o valor total para os clientes. Cerca de 43% não elevaram os preços de produtos ou serviços e 47% fizeram um repasse apenas parcial. 

Contudo, 76% dos empresários registraram crescimento dos gastos conforme aponta o Pulso dos Pequenos Negócios. As informações mostram ainda que no período de um mês a elevação dos gastos com insumos e mercadorias, combustíveis, aluguel, energia, entre outros, foi a principal dificuldade para 42% dos empresários, seguida de falta de clientes (24%), além das dívidas com empréstimos (10%), impostos (4%) e com fornecedores (3%).  

O presidente do Sebrae, Carlos Melles, destaca como principal fator para o receio de repassar valores, a falta de clientes e a redução do poder de compra das famílias. Ele afirma que os pequenos negócios vão resistir ao máximo repassar esses custos para não perder vendas.

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O Sebrae chama a atenção para a estratégia de não repassar os aumentos de custos adotadas tanto pelos microempreendedores individuais (MEI) quanto pelos donos de micro e pequenas empresas. A pesquisa revela que o repasse total do aumento de custos para o preço final foi adotado por apenas 10% das micro e pequenas empresas e 9% dos MEI.  Para a pesquisa foram coletados dados  entre os dias 26 de agosto e 11 de setembro nos 26 estados e no Distrito Federal. Foram ouvidos 6 mil donos de pequenos negócios e a margem de erro é de 1% para cima ou para baixo. 

Preço congelado

Veterinária,  Hellen Christina Martins Brandão sofreu o impacto das oscilações de preços no bolso. Ela possui uma clínica no setor Urias Magalhães há 14 anos e durante a pandemia ela teve uma boa procura porque nesse período as pessoas passaram a ter mais tempo para os animais. A profissional afirma ainda que houve um reajuste em seus produtos e serviços recentemente, mas não pode repassar todos os aumentos. 

Brandão declara que a cada compra que ela faz ela percebe aumentos. “Diante do cenário de instabilidade da economia não conseguimos repassar todos os reajustes pois podemos perder mercado frente aos concorrentes que muitas fazem preços abaixo da média oferecendo serviço de má qualidade com custo menor e o cliente nem tem ciência disso”, detalha. 

As maiores dificuldades enfrentadas por Hellen são fazer os repasses sem perder clientes. Para isso, muitas vezes ela tem que se desdobrar para não perder a qualidade do produto prestado e perdendo parte dos lucros. 

“Normalmente assim que os produtos chegam eu já passo o novo valor para os clientes, já vejo os custos e a possibilidade de absorver ou repassar. Também tento negociar uma quantidade de compra maior para ter descontos e segurar o preço”, conclui.

Números da pesquisa 

Na pesquisa realizada foi perguntado se o aumento de custos da empresa foi repassado para os clientes. De empresários de Pequenos Negócios 43% afirmam que não repassaram, 47% repassaram parcialmente e 9% passaram integralmente. As micro empresas não repassaram em cerca de 42%, 48% foi parcial e 10% repassaram o total. Já os MEIs apenas 9% se preocuparam em fazer o repasse, 44% não repassaram e 47% repassaram parcialmente. 

Outra pergunta foi  “nos últimos 30 dias, sua empresa teve aumento dos custos?”. Para este questionamento 4% dos pequenos negócios responderam que não sabe, 20% que não teve aumento e 76% afirmaram que sim. Das micro e pequenas empresas , 2% não sabe, 22% disseram que não e 76% que tiveram o aumento. No caso de MEI, 6% não sabe, 19% não e 75% sim. 

Gerente Sebrae da Unidade de Estratégias, Francisco Lima Júnior explica que a situação de Goiás não é muito diferente de outros estados do Brasil. “Os negócios de uma maneira geral estão sofrendo muito com os custos dos insumos de produção e produtos para revenda de varejo como produtos do setor de serviços”. 

Ele afirma que quando o valor é repassado fica mais difícil conseguir novos clientes. Então muitas empresas acabam absorvendo grande parte do orçamento de custos e não repassando o valor para os clientes para ter giro e atender os mais clientes.

Lima destaca que tem um conceito dentro da economia chamado de elasticidade de preço. Ou seja, as pessoas estão determinadas a pagar por um determinado produto com um valor já em mente também e quando passa do preço imaginado a pessoa pode deixar de finalizar a compra. “A renda da população vem caindo ao longo dos últimos anos, mas o salário médio da população diminuiu e a inflação aumentou”, esclarece.

Quanto maior o repasse para o consumidor, menos clientes ele  terá para uma compra final, conforme afirma o gerente. Para ele, o  varejo de uma forma geral está sofrendo muito devido à inflação expressiva do último ano. O segredo para que a empresa não sofra os impactos devido a falta de repasse são planejamento e o controle financeiro, de acordo com Francisco Lima. “O empresário não pode olhar para um número e tomar uma decisão, tem que compreender o seu negócio, fazer uma análise profunda para tomar uma decisão mais acertada”, orienta. (Especial para O Hoje)

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