Torcedor morto teria reagido à voz de prisão

Lucas Pereira Neves foi morto ao atirar em um ônibus com esmeraldinos. GCM diz que ele reagiu à voz de prisão

Postado em: 06-02-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Lucas Pereira Neves foi morto ao atirar em um ônibus com esmeraldinos. GCM diz que ele reagiu à voz de prisão

Marcus Vinícius Beck*


Torcedor esmeraldino, o borracheiro Lucas Pereira Neves, 24, vestia uma camiseta do Goiás e entrou num ônibus cheio de torcedores do Vila Nova no Setor Campinas. Minutos depois foi alvo de tiros. No entanto, quem o matou não foram os rivais colorados, e sim policiais sem farda da Guarda Civil Metropolitana (GCM). A corporação disse que ele teria atirado contra um eixo-Anhanguera e reagido à voz de prisão. Após o ocorrido, três guardas foram afastados das ruas. 

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Lucas, pai de família, deixou a esposa grávida de seis meses. A mãe do borracheiro, Maria de Lourdes Pereira Neves, 54, pediu que a morte do seu filho seja investigada o mais rápido possível, pois o que “fizeram foi uma crueldade”. Ela disse que o rapaz era carinhoso e responsável, e nunca tinha se envolvido em casos de briga entre torcidas rivais. Por fim, declarou-se indignada com a “injustiça que fizeram” com seu filho. “Era uma pessoa excepcional”, diz. 

Por meio de nota, a Guarda Civil Metropolitana afirmou que os policiais que dispararam contra o borracheiro estão na corporação há 12 anos e nunca tiveram “nenhuma mancha em seus currículos”. “No dia, eles estavam de folga e se depararam com o Lucas atirando contra o ônibus”, diz. De acordo com o GCM, Lucas tinha cerca de dez passagens pela polícia. “Há vários níveis de abordagem e aquele era o nível 5. É preciso agir de acordo com a intensidade que o fato exige”. 

Em entrevista na última quinzena de janeiro ao O Hoje, o representante do Batalhão de Eventos da Polícia Militar (PM-GO), major Arantes, disse que a PM trabalha para assegurar a segurança durante os clássicos. “Cada estádio de futebol possui suas particularidades, mas, em princípio, a torcida única e a quantidade de ingressos será reduzida no Olímpico”, afirma. “É importante frisar que dentro das organizadas algo em torno de 5% a 7% são perigosas. Mas é uma minoria perigosa”, complementa.


Temor

No último final de semana, O Hoje relatou o medo da população que mora ao entorno do Estádio Olímpico, em dia de clássico. Morador de um prédio em frente ao estádio, o músico Robson Oliveira, 34, relatou que em dia de clássico centenas de torcedores passam pela rua gritando e brandando cânticos de apoio aos times. “É possível constatar que a maioria ali são pessoas de má índole”, afirma.

Coordenador do Núcleo de Sociologia do futebol da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Maurício Murad, explicou que o futebol exprime a visão geral da sociedade, pois é impossível desassociá-lo da violência que assola a sociedade como um todo. De acordo com ela, as torcidas organizadas, em sua maioria, não podem ser consideradas um antro de marginais. “É importante frisar que dentro das organizadas algo em torno de 5% a 7% são perigosas. Mas é uma minoria perigosa”, reconhece ao Instituto de pesquisas Universidade do Futebol.

O sociólogo, ainda, compara o aumento de ações violentas na realidade brasileira com o esporte mais popular do Brasil. Os torcedores, diz, “vão parar nas páginas dos jornais e no horário nobre da televisão “depois de um ato de violência e acabam gostando disso”. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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