População sofre com escorpiões

Setor Urias Magalhães, na região norte de Goiânia, diminuiu casos de escorpiões. Porém, população ainda toma medidas de precaução

Postado em: 07-02-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Setor Urias Magalhães, na região norte de Goiânia, diminuiu casos de escorpiões. Porém, população ainda toma medidas de precaução

Marcus Vinícius Beck*


A presença de animais peçonhentos tem gerado pânico aos moradores do Setor Urias Magalhães, na região norte de Goiânia. O clima chuvoso, somado aos entulhos encontrados no bairro, são apontados como os principais causadores da proliferação do animal. Bastante usado para combatê-lo, os inseticidas só possuem eficácia se forem aplicados diretamente no animal. A secretaria municipal de saúde (SMS) garantiu que no ano passado foram realizadas 141 visitas técnicas para orientação e realização de medidas de controle de escorpiões em Goiânia.

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A reportagem de O Hoje percorreu na tarde de ontem vários pontos que são considerados favoráveis à proliferação de animais peçonhentos. Por unanimidade, os transeuntes afirmaram que a situação já chegou a ser insustentável, e que atualmente é raro se deparar com os animais peçonhentos. Servidor da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), José Marçal, 58, relatou que, na época em que trabalhava no cemitério do setor, era comum ter de matá-los para prosseguir com os trabalhados. “O índice de escorpiões tem caído, mas aumentou consideravelmente as aranhas caranguejeiras”, diz. 

Moradora de um condomínio na região do Urias Magalhães, a educadora física Danyelle Pimenta Golart, 24, afirmou que ainda é possível encontrar alguns escorpiões. Na última semana, assevera ela, moradores postaram imagens em um aplicativo de mensagem em que mostravam três escorpiões mortos. “Eram bem grandes”, descreve, acrescentando: “Depois da dedetização melhorou um pouco”.  Sobre a iniciativa, disse diminuiu bastante a presença dos insetos, “mas ainda assim uns rebeldes cismam em aparecer”.

O porteiro Luiz Celso, 35, garante que a incidência dos animais baixou nos últimos anos. O problema, de acordo com ele, é a presença das aranhas caranguejeiras. “Faz tempo que não vejo um escorpião aqui, mas aranha caranguejeira é a coisa mais comum do mundo por essas bandas”, diz. Outros bichos comuns de serem encontrados, principalmente em seu local de trabalho, são as baratas. No entanto, atribui a presença do inseto aos entulhos que estão em frente ao prédio onde bate ponto todos os dias. “Com isso aqui [acena para os entulhos] é impossível não ter baratas, né?”, indaga. 


Medidas preventivas

Os moradores, visando apaziguar o problema, optam por formas aletrnativas. A dona de casa Marlucia Vieira dos Santos, 51, disse que é comum colocar um pano atrás da porta para evitar a entrada dos insetos para seu apartamento. Houve uma vez, relata ela, que estava sentada na sala de casa, assistindo televisão, e foi surpreendida quando percebeu um escorpião vindo em sua direção. “Fiquei apavorada”, diz, completando: “Tive uma prima que foi picada e quase morreu de dor”.

O gerente de Controle de Animais Sinantrópicos da SMS, Wellington Tristão disse que a incidência desses animais nesta época do ano é motivada por conta das chuvas. “O período chuvoso os desabriga e, por isso, eles procuram as residênciais”, diz. Ele explicou que os escorpiões, alvo de queixas dos moradores do Setor Urias Magalhães, se alimentam de baratas que ficam em entulhos. Desta forma, é fundamental sempre optar pelos serviços de dedetização e evitar lixos que possam atrair baratas, pois, sem a presença delas, os escorpiões não aparecem.  


Idosos, crianças e cardíacos são mais vulneráveis a picadas de escorpião 

O biólogo Helder Lúcio Rodrigues, especialista em animais peçonhentos e professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) disse que, ao ser picado por um escorpião, é necessário procurar atendimento médico. Ele lembrou que idosos, cardíacos e crianças são mais vulneráveis ao veneno do animal, e afirmou que em determinadas pessoas os sintomas podem ser mais brandos enquanto que em outras mais ‘pesados’. O tratamento mais usual são medicamentos e soros. 

De acordo com o biólogo, imediatamente após a picada é preciso procurar um médico. “Dependendo do quadro clínico, o médico escolhe como vai proceder”, afirma. Ele lembrou que em Goiás há escorpiões amarelos, que são considerados um dos mais perigosos e mais fortes. “Eles são perigosos e podem matar”, diz. 


Alternativa

Os pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um teste para confirmar uma nova forma de tratamento. Descoberto em 2016, o novo medicamento é realizado com soro do venero do próprio escorpião. Alguns testes em farmácias do país comprovaram que o medicamento vendido é capaz de aliviar os incômodos. Médicos afirmam que o anti-inflamatório é capaz de reverter casos mais graves de edema pulmonar. 

O medicamento é direcionado aos casos considerados graves e gravíssimos. Os sintomas da picada do escorpião são vômito, sudorese, insuficiência respiratória, desorientação, alteração da frequência cardíaca e da pressão arterial. A pessoa que sofreu a picada também poderá ter insuficiência cardíaca e edemia pulmonar aguda devido à grande liberação de adrenalina. 


Picadas por animais peçonhentos são um dos maiores problemas de saúde  

É durante as temporadas de chuva que é possível perceber com mais frequência a presença de animais peçonhentos em casas e apartamentos. Em Goiás, os acidentes com animais peçonhentos por muito tempo ocupou o segundo lugar entre os atendimentos do Hospital de Doenças Tropicais (HDT). 


HDT

Segundo o Núcleo de Vigilância Epidemiológica do HDT, no ano de 2016 foram notificados 587 casos e até o início de dezembro de 2017 foram 595 casos, totalizando 1.182 notificações nos dois anos. Desse total, 477 casos foram por serpente, 354 por escorpião e 212 por aranha. É possível, inclusive, fazer uma relação com o período em que as chuvas são intensas. Em um mês de clima seco, como julho de 2017, foram registrados 71 casos, já em novembro, foram 92 notificações. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor Cidades Rhudy Crysthian) 

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