Seis viadutos ameaçam desabar

Em estudo, entidade diz que vários pontos devem apresentar problemas de infraestrutura nos próximos anos. Órgão afirma que prefeitura já foi alertada sobre riscos

Postado em: 09-02-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Em estudo, entidade diz que vários pontos devem apresentar problemas de infraestrutura nos próximos anos. Órgão afirma que prefeitura já foi alertada sobre riscos

Marcus Vinícius Beck*


Após viaduto que desabou nesta semana em Brasília, a 200 quilômetros de Goiânia, o Instituto Brasileiro de Perícias e Avaliações de Engenharia de Goiás (Ibape) divulgou ontem estudo sobre a condição das pontes na Capital. No texto, seis pontos da cidade apresentam riscos de desabamento se não houver nenhuma intervenção por parte do Poder Público no futuro. A instituição disse ao O Hoje que já informou, por meio de assessoria de comunicação, a Prefeitura sobre os riscos de queda. 

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A reportagem foi até o cruzamento da avenida T-63 com a Cascavel, no Setor Jardim América. Problemas com drenagem puderam ser vistos após rápida observação pelo local. É possível identificar guarda-corpo com armaduras expostas na parte inferior, além de manutenção preventiva e corretiva. Excesso de umidade nas proximidades, como um córrego que passa por baixo da ponte, leva água às lajes e tampas quebradas do sistema de drenagem da pista próxima a ponte, e são um dos problemas mais perigosos.

De acordo com o presidente do Ibape em Goiás, Lamartine Moreira Júnior, os seis pontos que constam no estudo foram escolhidos de forma aleatória. Desde o ano passado, o órgão vem estudando várias pontes e viadutos no âmbito nacional. “Começou no ano passado e terminamos em fevereiro”, diz. Sobre o percentual de pontes que estariam apresentando risco em Goiânia, não soube responder e disse: “Como o estudo foi desenvolvido aleatoriamente, não consigo afirmar um percentual seguro de quantas pontes estariam danificadas”.

O engenheiro civil explicou que, mesmo não tendo condições de afirmar um percentual exato de pontes que expiram cuidados, os seis viadutos que fazem parte do estudo apresentam problemas estruturais que podem ser intensificados nos próximos anos, caso não haja manutenção. “Esse número nos dá uma mostra de como está a situação das pontes na cidade”, afirma. Se não for feito nada, segundo o engenheiro, “vai acontecer como em Brasília”. 

Já a engenheira civil Veriane Passos, também do Ibape, afirmou que é “difícil assegurar em quanto tempo poderá ter desabamentos”. Ela reforçou a explicação de Lamartine, e acrescentou: “em época de eleição, não é interesse do Poder Público ajustar as condições das vias da cidade”. Integrante da equipe que redigiu o relatório, a engenheira declarou que a prefeitura deve prestar atenção ao problema que está surgindo e tomar como exemplos outras cidades em que houver acidentes. 


Avenida 85

Outro ponto que apresenta problemas, a avenida 85, uma das principais vias da cidade, pode ser vilã dos motoristas que passam diariamente por lá. Ao contrário do contado no relatório do Instituto Brasileiro de Perícias e Avaliações de Engenharia de Goiás (Ibape), a avenida possui metais que ficam à mostra e acabam batendo nos carros. E, não raro, resvalam nos veículos e geram acidentes.

Segundo o presidente da Ibape em Goiás, Lamartine Moreira Júnior, a diferença é que metais na avenida 85 oferecem riscos aos condutores. “O risco que oferece é o riscos aos veículos. Placas são amassadas por conta de acidentes que houve com veículos. O problema lá é relacionado ao acabamento da ponte, e não a infraestrutura e do embelezamento da ponte”, diz, finalizando: “Estamos falando de algo que foi feito nas décadas de 1980 e 1990. Certamente foram usadas as melhores tecnologias da época”. 

A reportagem procurou a Prefeitura de Goiânia para obter maiores esclarecimentos acerca do que tem sido feito no sentido de realizar a manutenção das pontes, mas até o fechamento desta edição não teve retorno.  


Motoristas afirmam que as vias geram insegurança 

Com medo de sofrerem acidentes, motoristas ouvidos pela reportagem de O Hoje na tarde de ontem afirmaram que o trânsito em Goiânia piora por conta do risco que as pontes oferecem. Alguns chegaram relataram que as pontes estão “abandonadas” e “esquecidas”. E andar ali, em determinadas horas do dia, é uma atividade que suscita certos cuidados para não sofrer acidentes, tampouco se envolver em um. 

Condutor há 42 anos, o comerciante Sílvio Dias Souza, 59, disse que nunca viu tantas pontes em estado “ruim”. De acordo com ele, que trabalha pelas ruas vendendo abacaxi e outros frutos, o problema não é apenas uma realidade exclusiva de Goiânia. “Infelizmente, em outras cidades do Brasil, já estamos vendo pontes caírem e gerarem um medo enorme na população”, afirma. Questionado sobre a solução para o problema, relatou que a manutenção é a saída mais eficiente. “A ponte cai mesmo, né? Por isso, é fundamental mantê-las sempre em ordem”.

O pasteleiro Divino Eterno, 50, ex-motorista de aplicativo de transporte, relatou que é comum encontrar lugares que apresentam problemas na Capital. No tempo em que tinha como ocupação profissional a direção, não era incomum de se deparar com pontes e viadutos sem manutenção. “Mas nunca vejo ninguém arrumando essas pontes”, reclama. De acordo com ele, em ano eleitoral, os políticos não estão afim de fazer obras para melhorar a qualidade, a mobilidade e a segurança da população. “Vão empurrando, empurrando e nunca melhoram”.


Brasília

Em Brasília, duas pistas de um viaduto na região central desabaram. Anos atrás, estudos já tinham alertado para possíveis quedas ali por falta de manutenção das construções. No último final de semana, a avenida que leva aos ministérios e palácios na Esplanada foram alvo do descaso por parte do Poder Público.

Como saldo, houve carros que foram destruídos pelo impacto dos pilares. O laudo com as causas do acidente vai sair em 30 dias, mas nos últimos anos o que não faltou foram alertas acerca do risco. Entidades ligadas a construções urbanas, como o Sindicato de Arquitetura e Engenharia e o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) fizeram vários alertas sobre possíveis problemas. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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