Cresce número de derrames ligados a aneurisma

Hipertensão e tabagismo são fatores de risco para o problema

Postado em: 25-11-2022 às 11h00
Por: Alexandre Paes
Imagem Ilustrando a Notícia: Cresce número de derrames ligados a aneurisma
Hipertensão e tabagismo são fatores de risco para o problema. | Foto: iStock

A dor de cabeça afeta cerca de 140 milhões de pessoas no país, segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia. Por ser algo comum, pode ser difícil diferenciar o tipo da dor e saber quando se preocupar com ela. De acordo com o Ministério da Saúde, muitas doenças neurológicas são confundidas com enxaquecas, e na maioria das vezes esse pode ser um aneurisma e até mesmo indícios de um suposto Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Segundo um estudo publicado na revista “Neurology”, os registros de um tipo de AVC, a hemorragia subaracnóide, aumentaram, principalmente, em homens negros acima de 65 anos. O trabalho avaliou dados de quase 40 mil pacientes americanos hospitalizados na Flórida e em Nova York entre 2007 e 2017, além de ter comparado os casos entre homens e mulheres, por faixa etária e etnia.

Esse tipo de AVC ocorre principalmente pela ruptura de um aneurisma – quando um vaso se dilata formando uma espécie de bolsa de sangue – localizado entre o cérebro e a membrana que o reveste. Hipertensão e tabagismo estão entre os principais fatores de risco para essa ruptura.

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“É um estudo coorte, retrospectivo, bem desenhado que como tal se propõe a observar por um período uma população específica e, a partir dessa observação, analisar possíveis associações. Mesmo mostrando uma realidade de dois estados americanos, é possível extrapolar os dados para nossa realidade”, avalia a neurologista Polyana Piza, do Hospital Israelita Albert Einstein.

O artigo sugere dificuldades de acesso a cuidados e tratamentos que acabam aumentando a chance de um AVC. “O resultado pode ser um reflexo da não prevenção, detecção, tratamento e acompanhamento dos fatores de risco a que o indivíduo é exposto. Precisamos discutir a dificuldade de ter esses fatores monitorados e controlados”, diz a especialista.

Mulheres são mais propensas a doença

A cada 18 minutos, um aneurisma cerebral sofre rompimento. Dentre dez pessoas que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC) ocasionado por um aneurisma, 4 morrem. A doença acomete 1 a cada 50 pessoas, porém a ruptura é mais incidente nas mulheres a partir da quinta década de vida. Com objetivo alertar a população sobre os fatores de riscos que contribuem para ocorrência desta doença silenciosa, neste mês é intensificada a conscientização sobre o aneurisma cerebral.

Essa alteração neurológica consiste numa dilatação (sáculo) que se forma na parede de um vaso sanguíneo cerebral (artéria), responsável por levar o sangue oxigenado ao cérebro. A mulher é 1,5 vez mais afetada que o homem, sofre influências hormonais devido à idade, sendo acometida em torno de 45 a 55 anos de idade. Mesmo não sendo exclusividade do gênero feminino, alguns fatores contribuem para uma maior incidência nessa população.

Sirlene Fernandes, 52, é brasileira, mas atualmente mora na Bélgica. Durante um dia de trabalho ela se sentiu mal, e de repente acordou deitada em uma cama de hospital. “Eu estava chegando na casa que trabalho semanalmente da minha cliente, e senti uma dor muito forte na cabeça e na nuca. Eu abaixei, me sentei, minha visão ficou completamente escura e apaguei. Foi uma sensação horrível, e só me recordo de acordar com meu esposo e minhas filhas em volta da cama do hospital”, conta Sirlene.

De passeio no Brasil em agosto desse ano, ela teve mais um momento de agonia e desespero, mas dessa vez por conta de um derrame. Enquanto estava correndo para pegar sua cadela que havia saído pra rua, Sirlene caiu e machucou o braço. Quando chegou em casa, sentou-se e sentiu um mal estar. Ao ir até o hospital, os médicos informaram que ela estava tendo um AVC.

“Sou uma pessoa muito ansiosa, e sei que isso pode me atrapalhar um pouco. Desta segunda vez foi algo repentino, e por sorte eu já estava no hospital sendo atendida, e a agilidade dos neurologistas salvaram minha vida. De lá pra cá voltei pra minha casa na Bélgica e infelizmente tive mais 2 inícios de AVC. Venho me tratando e seguindo o acompanhamento profissional de recuperação. Um longo caminho pela frente!”, relata. 

“Acreditamos que os hormônios contribuem para a formação de aneurismas no sexo feminino. Isso explica o aumento da incidência após os 50 anos, durante a menopausa, quando os níveis de estrogênio estão mais baixos. É provável que esse hormônio possa colaborar na manutenção da elasticidade dos vasos sanguíneos e causar um efeito protetor durante a idade reprodutora”, diz o neurorradiologista Marco Aurélio.

Alguns fatores, comuns a ambos os sexos, influenciam no desenvolvimento de um aneurisma, tais como o tabagismo, a hipertensão arterial, o diabetes mellitus, o sedentarismo, o alcoolismo, o colesterol alto, assim como enfermidades genéticas (Doença de Marfan, Doença de Ehlers Danlos, Doença Renal Policística). Segundo Paschoal, essa lesão também “é mais frequente entre os asiáticos e finlandeses, por isso a origem étnica mostra uma pista das pessoas com maior possibilidade de possuir esse diagnóstico”.

O especialista alerta que o aneurisma é perigoso, desenvolve-se de forma silenciosa e pode ser fatal. Ele explica que a saculação (abaulamento) da artéria pode ter um rompimento causando um tipo de AVC hemorrágico, conhecido como hemorragia subaracnóidea ou meníngea. “Esse tipo de sangramento representa 5% entre os casos de AVC, mas a mortalidade é muito elevada podendo chegar até 60% devido às complicações inflamatórias que a doença determina no cérebro”, alerta o especialista.

Baixo risco de ruptura

De modo geral, os aneurismas não rotos, chamados incidentais, apresentam baixo risco de sangramento, em torno de 1%. “Nesse contexto, podem ser apenas acompanhados com o monitoramento dos fatores de risco para sua ruptura e a observação de possíveis mudanças em suas características físicas como, por exemplo, crescimento e irregularidade do seu contorno”, explica o neurologista.

O tratamento pode ser através do acompanhamento sem a necessidade de cirurgia devido a localização e ao pequeno tamanho. No entanto, a maioria necessita de cirurgia que pode ser dividida, em casos submetidos a microcirurgia ou embolização- cirurgia através do cateterismo. “A microcirurgia ocorre através da clipagem (uso de um clipe ou grampo) para ocluir o aneurisma cerebral por fora do vaso. O tratamento invasivo cirúrgico ou endovascular é recomendado principalmente para aqueles aneurismas maiores do que 5 a 7 milímetros. No entanto, quando se rompe, a chance de morte ou de sequelas graves é muito alta”, finaliza o médico.

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