Vencer o Déficit de Atenção é possível

Alzenar Abreu

Filhos agitados. Pais desapontados. Esse é o cenário de famílias que descobrem que o ente mais querido sofre de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDHA). Mas o grande dilema levantado por profissionais e familiares é como tratar a criança para alcançar a superação. A história do luthier (fabricante de violinos) Ezequiel Carvalho, 49, é o exemplo de que com força de vontade e persistência é possível suplantar os desafios impostos pela doença.

O (TDHA) aparece na infância e frequentemente acompanha o individuo por toda sua vida. Suas principais características são a desatenção e hiperatividade. Radicado em Goiânia e conhecido como um dos melhores luthiers do Brasil, Ezequiel não perde encomendas de instrumentos musicais que são objeto de desejo de jovens estudantes e profissionais no país. Ele foi diagnosticado com o transtorno na fase adulta.

As peças fabricadas pelo artífice são elogiadas e respaldadas pelos melhores maestros brasileiros como Cláudio Cruz que é, atualmente, um dos violinistas mais prestigiados do Brasil além de ser maestro titular e diretor artístico da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo.

“Quando criança eu não conseguia aprender a ler e tinha dificuldade em estudar. Na infância eu aprendi a fabricar meus próprios brinquedos. E usava madeira porque meu pai era marceneiro. Quando jovem vi um violino e me apaixonei pela peça. Decidi que fabricaria e me concentrei no projeto. Na verdade, você não pode desistir dos seus sonhos. Tem de ser persistente e descobrir qual é a sua vocação. E seguir por ela. Não adianta. Se a pessoa não tem dom para ser advogado, por exemplo: Não deve insistir. Só porque é uma profissão de amplo mercado”, ensina.

Depois da primeira peça, as outras fluíram. Ele fabrica com esmero e perfeição violinos, violoncelos e violas, além de bicicletas de madeira inspiradas em um modelo japonês. Ezequiel garante que são mais resistentes que as outras. “Admiro o Ezequiel pela garra que ele tem. Ele não se deixa abater pelas críticas. Ao contrário, ele as usa como forma de estímulo”, diz a musicista Alina Carvalho, 44, casada com o artista há mais de 24 anos.

Para a neurocoaching brasileira Kelley Marques, que acompanha o trabalho do luthier e o menciona em suas palestras como exemplo de superação, Ezequiel é um empreendedor nato e possui como força motriz a confiança em si mesmo. “Não existem limites para alcançar o sucesso para quem acredita em si mesmo. Ainda que sofra com TDHA, medos, ou outros desafios”, explicou.

Kelley  é conhecida pelo trabalho executado em neurociência, na qual é especialista e também doutora em Educação. O “Coaching SOS” é fruto da proposta executada por ela como ferramenta de mudança comportamental. Nas palestras de Kelley a “plasticidade do cérebro” é treinada a ponto de adaptar-se diante dos desafios. “Tratam-se de exercícios de inteligência capazes de alterar toda a nossa estrutura cognitivo-comportamental. O que facilita o entendimento para alcançar a meta desejada”, explica.

Resiliência

Para o pediatra coordenador do departamento de desenvolvimento e comportamento da sociedade goiana de pediatria, Fábio Pessoa, a resiliência frente ao problema permitiu que Ezequiel vencesse todos os desafios impostos pela vida. “E é justamente esse ponto que deve ser considerado pela família com relação à criança, ou seja, conduzi-la a esse entendimento. Mas é fundamental que os pais fiquem atentos para realizar o diagnóstico oportuno e acompanhar-la com tratamento adequado. Assim, na fase adulta, não haverá prejuízo. A autoestima deve ser estimulada sempre. Cercados por esses elementos, pais e filhos vão conseguir passar por todas as fases do desenvolvimento com êxito”, pontuou.

Um concerto de cordas especial com mais de 20 instrumentos fabricados por Ezequiel acontecerá no dia primeiro de março, às 20h, no Basileu França. O repertório vai do clássico à Musica Popular Brasileira. A entrada é um quilo de alimento não perecível. (Alzenar Abreu especial para O Hoje)