Goiânia está sem infraestrutura para chuvas; períodos problemáticos

O período chuvoso na Capital assusta a população, que sofre com alagamentos e desabamentos nas principais vias da cidade

Postado em: 24-02-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O período chuvoso na Capital assusta a população, que sofre com alagamentos e desabamentos nas principais vias da cidade

Gabriel Araújo*

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Em Goiânia as chuvas estão concentradas no início e final de cada ano. Esses períodos são os mais problemáticos para a Capital, quando ocorrem alagamentos, desabamentos e acidentes em diversas vias da cidade. Especialistas apontam que as soluções, mesmo implantadas agora, só devem ter efeito em alguns anos. 

O sistema de drenagem urbano é o principal meio de escoamento de água da chuva. Como estes sistemas são sobrecarregados pela grande quantidade de lixo, as chuvas causam sérios danos à população. Alagamentos, enxurradas, aumento da transmissão de doenças, além de perdas materiais.

As enchentes urbanas são causadas pela incapacidade das cidades em escoar as águas provenientes da chuva. Tal fato é ocasionado pela alta impermeabilização da superfície dos centros urbanos e pelos problemas apresentados pelos sistemas de drenagem, que não suportam o grande volume de água. Quanto maior a quantidade de m2 impermeabilizados maior será a quantidade de água mantida na superfície, isso tem reflexo no escoamento da água e nas consequentes inundações.

Para a professora e especialista em Climatologia Geográfica, Gislaine Cristina Luiz, do Instituto de Estudos Socioambientais (IESA) da Universidade Federal de Goiás (UFG), o principal problema enfrentado não é a chuva,   e sim a forma como a cidade está preparada para recebê-la. “Precisamos considerar que sempre aguardamos uma grande quantidade de chuvas neste período, então não existe justificativa de que fomos pegos de surpresa. As chuvas então ocorrendo como sempre ocorreram, os problemas são os efeitos que esse volume de água na superfície, causada pela falta de impermeabilização e de estrutura de engenharia para receber o fluxo desses eventos.”, afirmou.

Segundo pesquisadores da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) a construção de edifícios residenciais e comerciais ocorre, em muitos casos, sem planejamento e de forma desorganizada, tal fato pode influenciar na taxa de escoamento e de infiltração da água no solo, o que leva as enchentes.

De acordo com a professora, a água não consegue infiltrar o solo em razão de camadas de concreto, asfalto, entulhos e lixos, o que leva ao acumulo de água em certas regiões. “A questão é que a cidade, em seu processo de expansão, ocorre sem considerar a necessidade de um planejamento baseado nas características das chuvas na nossa região, que são intensas e rápidas”, avaliou.

As condições climáticas não devem mudar, portanto as chuvas continuarão a ocorrer nos períodos de novembro ao mês de maio. As soluções devem ocorrer com a criação de estratégias pelo governo municipal, estadual e federal. “Se a sociedade não estiver atenta para a necessidade de infiltrar ou retirar a água da chuva da superfície, como a Região Metropolitana continua crescendo e aumentando a área coberta por camadas impermeáveis, os problemas irão continuar”, afirmou a especialista.

Solução

O principal problema apontado pelos pesquisadores da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), assim como a em Climatologia Geográfica, Gislaine Cristina Luiz, do Instituto de Estudos Socioambientais (IESA) da Universidade Federal de Goiás (UFG), é o crescimento descontrolado dos municípios da Grande Goiânia, o que eleva a quantidade de superfície bloqueada pelas construções de residências, comércios e vias urbanas, antes coberta por vegetação e agora, praticamente impermeável. “Temos soluções viáveis de projetos que podem ser implementados para resolver o problema. É preciso ter um levantamento técnico para definir qual o melhor caminho para cada região, ou seja, são ações de curto, médio e longo prazo”, afirma.

Marginal Botafogo

Durante a chuva da madrugada desta quinta-feira (22) o asfalto da Marginal Botafogo, um das principais vias de entrada e saída do centro de Goiânia, cedeu na área próxima ao viaduto da Avenida Independência, na região do Parque Mutirama. A pista no sentido Norte-Sul ficou parcialmente interditada,  por agentes da a prefeitura.

Na semana passada, a Marginal foi novamente parcialmente interditada após um trecho da via, no sentido Norte-Sul desabar devido a infiltrações causadas por um vazamento em uma adutora da rede de esgoto da Companhia Saneamento de Goiás S.A (Saneago).

No ano passado, a Marginal Botafogo foi interditada três vezes. Em maio o fluxo ficou parcialmente interrompido para a realização de reparos nas pistas, em julho a via ficou interditada por 30 dias para obras de reestruturação e, em dezembro, após desabamentos em três trechos, a Marginal foi novamente interditada. 

Defesa Civil mapeia locais propícios a alagamentos 

A Defesa Civil de Goiânia mapeou 57 pontos de alagamentos na Capital. Os locais são monitorados e sofrem com constantes inundações. Segundo o órgão, os pontos mais frequentes são a Avenida 87, da Praça do Ratinho à Praça do Cruzeiro, no Setor Sul, a Avenida Pio XII no Setor Cidade Jardim, a Avenida Perimetral Norte e Avenida Assis Chateaubriand, em frente ao Fórum no Setor Oeste.

Ainda de acordo com a Defesa Civil, casas no Setor Jardim Atlântico são constantemente invadidas pelas águas, assim como na região da Avenida Marechal Rondon, na Vila São Luiz.

A Defesa Civil ainda explica que os motoristas não devem enfrentar enxurradas. Se a água estiver com 20 centímetros de altura, o condutor já deve estacionar e procurar por abrigo. “Se a água estiver a 20 centímetros já é preciso ficar em alerta. Mais 10 centímetros há possibilidade de entrar água no carro. É preciso estacionar e deixar o veículo. Se não, vai chegar a um momento que o motorista não vai conseguir nem abrir a porta do carro e entrar em situação de pânico”, afirma agente de proteção da Defesa Civil, Cidicley Santana.

Temporais da semana

O site metrológico Clima Tempo registrou 68,8 mm de chuva em Goiânia entre às 9 horas da quarta-feira (21) e às 9 horas desta quinta-feira (22). A Capital sofreu com alagamentos e desabamentos nas principais vias de transporte. O Corpo de Bombeiros Militar (CBM) registrou quatro pontos de alagamentos na cidade, além de um acidente causado pela queda de uma árvore durante a chuva que começou na noite da última quarta-feira e seguiu até a manhã de quinta-feira. Carros ficaram presos em alagamentos na Marginal Botafogo, na Alameda dos Buritis e no Setor Oeste da Capital.

No início da tarde desta sexta-feira (23) a chuva fez o córrego da Marginal Botafogo transbordar por mais uma vez e prejudicar o tráfego na região. De acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) o trecho sentido Sul/Norte continua parcialmente interditado e o fluxo da água chegou aos dois lados da via. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian). 

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