Telefonia fixa reduz procura

Anatel anunciou que preço de ligações telefônicas de fixo-móvel irá abaixar para tentar reaver clientes. Cada vez menos usual, o telefone fixo ainda encontra adeptos

Postado em: 26-02-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Anatel anunciou que preço de ligações telefônicas de fixo-móvel irá abaixar para tentar reaver clientes. Cada vez menos usual, o telefone fixo ainda encontra adeptos

Marcus Vinícius Beck*

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O serviço de telefonia fixa terminou o ano de 2017 com queda de 2,96% no número de assinantes. No total, nos últimos 12 meses, houve redução de 1,2 milhão de linhas em todo Brasil, fazendo com que o número de contratos do serviço terminasse o ano com 40,8 milhões de linhas em operação. Dessa forma, é cada vez mais corriqueiro encontrar quem tenha um aparelho de telefone fixo somente para manter planos oferecidos pelas empresas de telefonia.

“Eu uso o telefone fixo para conversar com amigos, marcar consultas médicas e várias outras coisas”. A frase da professora universitária Carolina Goos, 38, vem sendo cada vez menos usual de se ouvir. Adepta do uso de telefone fixo, a professora está na contramão da tendência constatada em vários lares de Goiânia. Atualmente, opta-se pelo uso de celulares em detrimento do telefone fixo. 

Para tentar reverter o quadro, no início deste mês, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) anunciou que ligações telefônicas de fixos para móveis ficará 12% mais baratas nas chamadas locais e 7% nas interurbanas a partir deste domingo. 

A queda nas tarifas valerá para chamadas de usuários dos planos básicos de serviço das concessionárias de telefonia fixas. O preço médio das chamadas locais cairá de R$ 0,18 para R$ 0,12 livre de impostos. Já para as chamadas de fixo-móvel de longa distância, com DDDs iniciando pelo primeiro dígito igual, como DDD 61 (Distrito Federal) e para 62 (Goiânia), o preço médio diminuirá de R$ 0,55 para R$ 0,39. As demais ligações interurbanas irá de R$ 0,62 para R$ 0,45.

Por meio de nota, a Anatel justificou a redução das chamadas de fixo-móvel, e disse que tal medida deve-se à redução das tarifas de interconexão. “Elas são cobradas entre as empresas pelo uso de suas redes de telecomunicações”. No ano passado, a empresa também havia anunciado uma redução nos custos de ligações para fixo-móvel. Assim como em 2017, o atual aumento não irá atingir os usuários de planos alternativos.

Celular

Divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última quarta-feira, a Pesquisa Nacional por Amostrar de Domicílios (PNAC) revelou que 645 mil residência estão sem acesso à internet em Goiás. O número representa 28% dos lares do Estado. Em 2016, a estatística já havia mostrado uma grande exclusão digital em várias residências de Goiás. Na época, a justificativa era de que o custo para aderir a um plano de acesso à internet era caro. A pesquisa ainda acentuou outra desigualdade que há no país: a do acesso ao conhecimento e informação.

Mesmo com todos esses dados alarmantes, Goiás ainda está acima da média nacional de pessoas com acesso à internet em relação a 2016. Na ocasião, eram 71,8% dos 2,2 milhões de lares estavam conectados para uma média nacional que girava em torno de 69%. Por mais fora do comum que possa parecer, a internet ainda não havia chegado em aproximadamente 41% dos lares.  De acordo com o IBGE, um dos motivos para que ainda haja desigualdade digital é o desinteresse. Mas isto parece não ocorrer entre os mais jovens.

O servidor público Tiago Moura, 22, disse que utiliza pouco o telefone fixo. Em sua casa, o aparelho era usado apenas para ligar para algum parente distante, mas atualmente o aparelho foi deixado de lado e tem a finalidade de conseguir planos mais em conta. “Hoje em dia, com plano de celular que abrange fixos e celulares de outros DDD, não se usa mais o fixo”, diz. “Apenas deixa ativo o plano mais básico possível para só manter a internet e ganhar um desconto”.

Estudante universitário, Dayrel Godinho, 26, também deixou de lado o hábito de usar telefone fixo para entrar em contato com algum parente. “Antes, minha mãe usava o telefone com esta finalidade. No entanto, depois que ela aprendeu a mexer com celular e redes sociais, o aparelho passou a ser usado bem menos, quase nunca”, afirma. O próprio Dayrel abandonou o telefone fixo, pois “é muito mais fácil usar o smartphone”.

Contra

Apesar de os tempos atuais fazerem com as pessoas sejam cada vez mais conectadas e dependentes dos aparelhos, há quem ainda resista – ou veja o uso exagerado de celulares como um hábito maléfico. É o caso da professora universitária Carolina Goos, 38. “O problema dos celulares é que você fica 24 horas por dia conectado. Você está no bar, bebendo uma cerveja e respondendo mensagens do patrão”, diz. “Uso celular apenas como uma ferramenta de trabalho, pois não dá para dispensá-lo totalmente”.

A professora universitária ainda ratificou que o grande malefício do uso em demasia dos celulares são as várias coisas que se lê, e não agrega nada. “Quando você se dá conta, você está há duas horas lendo um coisa de que não acrescenta nada”, afirma. Saudosista e fã do charme proporcionado pelos telefones fixos, Carolina disse que ainda terá os aparelhos antigos, de discar. “Gosto desses modelos, e os acho charmoso”.

A doméstica e amiga de Carolina, Keila Aparecida, 43, relatou que também opta pelo uso do aparelho telefônico. “Ligo para minhas filhas pelo telefone fixo e faço vários outros contatos típicos do dia a dia”, afirma. “Também converso com a Carol, aos domingos, pelo telefone fixo”. De acordo com ela, o telefone fixo está cada vez sendo menos utilizado pelas pessoas por conta do uso exacerbado de celulares. 

Anatel anuncia mudanças nos contratos de concessão 

Em janeiro, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) publicou no Diário Oficial da União possíveis mudanças que podem ocorrer nos contratos de concessão de serviços de telefonia fixa, que incluem alterações nas metas de universalização dos serviços. Os contratos devem ser assinados com as empresas Oi, Telefonica, Embratel, Sercomtel e Algar e devem vigorar até 2025.

De acordo com o novo Plano de Metas de Universalização (PGMU), a instalação dos orelhões públicos em localidades melhores devem ser feita somente sob demanda do próprio usuário. Já foram retiradas as obrigações atuais de densidade e de distância mínima entre os aparelhos previstos em planos anteriores. Escolas, bibliotecas, hospitais, postos de saúde, delegacias, aeroportos e rodoviária terão atendimento prioritário para a instalação de orelhões, segundo o PGMU.

A expectativa é de que nos próximos dias seja publicado um decreto presidencial sobre o PGMU. O plano prevê que, nas localidades com mais de 300 habitantes, o prazo para instalação dos telefones será de sete dias a partir da solicitação do consumidor em 90% dos casos. Pelo menos 10% dos orelhões devem estar em locais acessíveis ao público durante 24 horas, e todos devem permitir ligações nacionais e internacionais.

Na sede dos municípios, as concessionárias deverão manter instalada a capacidade de backhaul fixada em dezembro de 2010. O backhaul é a infraestrutura de rede do telefone fixo utilizada para acessar a banda larga. Segundo a Anatel, a mudança nos contratos e nas metas de universalização foi motivada pela perda acentuada de atratividade do serviço de telefonia fixa, a pressão competitiva de outros serviços de telecomunicações e os hábitos de consumo dos usuários.

As alterações foram aprovadas depois da realização de consulta pública, conforme determina a legislação. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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