Lotes baldios viram plantações

Marcus Vinícius Beck*

Em vigor desde o ano passado, o Programa Horta para Todos contempla cerca de 15 lotes baldios em Goiânia. A medida abrange 15 bairros da Capital, e a maioria deles trata-se de terrenos particulares que estavam totalmente abandonados e serviam como reduto de lixos e outros dejetos, antes da implantação do programa. No momento, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia (Sedetec) estima 23 mil metros quadrado de áreas foram reaproveitados por moradores. 

Os locais que fazem parte do programa geralmente são afastados da região central da Capital. A reportagem foi na tarde de ontem ao Setor Buena Vista 2, na saída para Guapó, e conversou com moradores que mantém uma horta comunitária no bairo. Plantações de milho e pimenta estavam sendo regadas pelo aposentado Jurandir Santos Pardi, 52, no instante em que a equipe de O Hoje colocou os pés na plantação. Com dificuldades para falar, por conta de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) sofrido há alguns anos, o aposentado tem na horta sua principal atividade. “Trabalho aqui porque acho importante a iniciativa”, diz, segurando uma enxada. 

Acreana, a administradora Astride Magalhães, 37, foi responsável pela iniciativa de organizar a horta que servirá para atender as necessidades dos moradores do bairro. Há meses ela fez um curso para adquirir conhecimentos sobre cuidados que se deve ter em plantações. O aprendizado foi fundamental para o trabalho que ela desenvolve atualmente junto aos moradores do Setor Buena Vista 2. “Muitas velhinhos ficavam aqui, sentados sem fazer nada na varanda de suas casas, mas agora eles vão lá e acabam ajudando a gente”. 

Essa afirmativa foi confirmada pelo aposentado Congeto Pereira, 76. Cansado de ficar em casa, sentado numa sombra em frente à horta, esperando o tempo passar, ele ficou satisfeito quando teve conhecimento de que o lote baldio para o qual olhava todo dia teria uma finalidade. E, alem disso, serviria como gerador de alimentos para várias famílias necessitadas do Setor Buena Vista 2. “Hoje, vou na horta, dou uma carpinada, mas nada muito complicado. Velho sabe como é, né?”, brinca. “É gratificante ajudar a comunidade”, completa. 

Intenção

Além de servir como estimulo para vários senhores que moram no Setor Buena Vista 2, a iniciativa da administradora Astride Magalhães, 37, de criar uma horta comunitária é motivo para alegria entre moradores do bairros. Todos são enfáticos sobre a horta: ela trará grandes benefícios para a população, que mora afastada do centro de Goiânia e tem de conviver com casos cada vez mais frequentes de violência – assaltos a ônibus e tráfico de drogas são uma das preocupações. 

Um dos criados do Programa Horta para Todos no bairro, o autônomo Weverton Carlos Magalhães, 29, disse que, quando chegar o momento da colheita de milho, abobrinha e pimenta – produtos que são plantados -, será realizado uma pamonhada para toda a população. “Além disso, também temos a intenção de proporcionar uma forma de as pessoas, especialmente as que estejam desempregadas, poderem comercializar os produtos gerados pela horta”, diz. Para evitar que haja roubos nos pés de milho, abobrinha e pimenta, a esposa de Weverton, Astride, declarou que já foi formalizado um pedido para cercas na horta. “Se não tiver, o povo vai pegar milhos”.

Ideia da primeira dama do município, Dona Iris, o projeto nasceu em 1982, quando o atual prefeito de Goiânia, Iris Rezende (MDB), era governador do Estado de Goiás. De acordo com declarações dela no dia em que o projeto teve o ponta pé inicial, a intenção sempre foi contribuir para a alimentação, saúde e urbanismo, além da promoção pessoal e do embelezamento da cidade. Neste dia, também foram colhidos cerca de 60 pés de alface roxo, alface americano e couve. 

O Projeto 

Celebrado em cerimônia no Paço Municipal no ano passado, o Projeto teve início em abril de 2017. A inauguração é fruto de parceira entre Prefeitura de Goiânia, Federação da Agricultura e Pecuário de Goiás (Faeg), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) e o Instituto para Fortalecimento da Agropecuária em Goiás (Ifag). A área que fica no Paço recebe vários cultivos de hortaliça. 

Programa recebe 198 entidades e beneficia cerca de 260 mil pessoas 

Ao todo, o programa recebe 198 entidades socioassistenciais e, assim, beneficia algo em torno de 260 mil pessoas, dentre elas, crianças, adolescentes e suas famílias. No momento em que são realizadas as colheitas, é tradição realizar grandes confraternizações como uma pamonhada. O cultivo no Jardim Guanabara já estará pronto na primeira quinzena de março e a expectativa é de que a produção gere entre cinco e seis mil espigas.

Criado no ano passado, o Programa Horta para Todos foi expandido para vários pontos de Goiânia. Atualmente, a iniciativa contempla todas as regiões da Capital, especialmente as que são afastadas do Centro. A sede da administração da Capital, o Paço Municipal, também recebe o cultivo de hortaliças. No instante em que são colhidos, os produtos são doados ao Banco de Alimentos da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas).

O evento será realizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia (Sedetec). Também irão participar das festividades a associação de moradores do bairro. A previsão é de que ele ocorra entre os dias 10 e 15 de março com a presença da primeira dama de Goiânia, Dona Iris, que fará a entrega oficial do cultivo à população.

Benefícios

Além da implantação das hortas, a Prefeitura de Goiânia disponibilizou curso de agricultura urbana na própria horta modelo do Paço Municipal, que formou 30 alunos. De acordo com o titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia (Sedetec), Ricardo De Val, a medida visa aumentar a qualidade alimentar da população e ainda contribui para a preservação do meio ambiente. “Queremos que o programa seja disseminado por toda Goiânia. Os reflexos desse trabalho são extremamente positivos, uma vez que a cidade fica mais limpa e organizada, sendo ainda uma oportunidade para o exercício da cidadania dentro das comunidades”, diz. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)