Apaixonados por trem ajudam a preservar memória ferroviária do país

Adeptos do ferromodelismo usam o hobby para matar a saudade dos tempos áureos das ferrovias

Postado em: 12-12-2022 às 08h45
Por: Vinicius Marques
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Adeptos do ferromodelismo usam o hobby para matar a saudade dos tempos áureos das ferrovias. | Foto: Reprodução

O ferreomodelismo é um dos hobbies mais antigos do mundo, e sua origem remonta ao período em que o transporte ferroviário foi adotado massivamente. As primeiras miniaturas de trens foram fabricadas por volta de 1830, por artesãos alemães. De lá para cá, muita coisa mudou, principalmente no Brasil, onde o transporte de passageiros pelas ferrovias deixou de acontecer, com exceção dos passeios turísticos. Mesmo assim, a paixão de algumas pessoas por este hobby se intensificou.

Em Goiânia, o arquiteto aposentado Nicolau Calil Musse tem aproveitado o tempo que passa em casa para fomentar o hobby de ferreomodelismo. “Comprei um material recentemente porque estou ampliando minha maquete. Comecei nesta atividade há 40 anos, com uma composição, trilhos e alguns desvios. Já minha maquete, que mede 4 m x 2 m, foi iniciada há três anos, e agora a estou ampliando em 1 metro na largura”, diz Musse. 

Paixão do Centro-Oeste

Em Cuiabá, o professor universitário Adilson João Massoni tem aproveitado o tempo para conciliar o trabalho com o ferreomodelismo. “Minha primeira compra nesta área foi em dezembro do ano passado, por conta do Natal. Tenho um filho apaixonado por trens, e o convenci a aderir ao ferreomodelismo”, diz Massoni, que possui duas locomotivas e seis vagões. “Esta paixão por construir e consertar as coisas herdei de meu pai. Estou construindo uma casa com contêineres em uma chácara, e boa parte dela foi feita por mim e meus pais, que têm mais de 80 anos. É lá que fica a maquete”, finaliza.

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Em Rondonópolis, o professor Ezequiel Silva Chaves começou a ter contato com o hobby há 13 anos, quando adquiriu uma caixa básica de trens. “Depois, construí minha primeira maquete e, mais tarde, fiz duas ampliações. É nela onde rodo toda minha coleção, composta por 522 vagões e 60 locomotivas. Nasci na cidade paulista de Mauá e vivi lá por 17 anos. Como viajei inúmeras vezes nos trens metropolitanos, que na época eram da CBTU, e nos atuais CPTM, acabei gostando muito de trens”, conta. 

A Frateschi é a única empresa da América Latina fabricante de trens elétricos em miniaturas e réplicas de composições reais e está situada em Ribeirão Preto, no interior paulista. Com a pandemia, Chaves teve mais tempo para se dedicar ao hobby. “Acabei terminando completamente minha maquete e mexo com ela de quatro a cinco vezes por semana”, conclui.

Memórias

Em Jataí, o aposentado Carlos Alberto Biella pratica o ferreomodelismo há décadas e, agora, passou a organizar melhor seu hobby. “Já tem muito tempo que venho adquirindo alguns produtos. Gosto muito de trens e isso me levou, desde criança, a gostar de ferreomodelismo. Tanto que estou construindo minha maquete”, diz Biella, que possui, em sua coleção, duas locomotivas e dez vagões. Esta paixão vem de seu pai. “Ele gostava de trens em minha cidade natal, Novo Horizonte. Quando era criança, havia uma estação ferroviária, que foi desativada. Eu gosto muito de trens, de admirar as ferrovias e as composições”, conta.

Em Anápolis, por exemplo, alguns ferreomodelistas possuem verdadeiros ‘patrimônios’ em casa, e até hoje os trens despertam curiosidade e saudosismo nas pessoas. O analista de sistemas Rogério de Oliveira Ribeiro iniciou-se neste hobby no ano passado, quando adquiriu o primeiro conjunto de trens da Frateschi, empresa com sede em Ribeirão Preto, no interior paulista, e a única fabricante de trens elétricos em miniaturas e réplicas de composições reais na América Latina. “Percebi que sou apaixonado por trens desde a infância e depois acabei comprando outras peças. Hoje, tenho 3 vagões de passageiros, 2 vagões-tanque, 2 vagões graneleiros e 2 vagões de minério e também estou construindo a minha maquete”, conta. “Não herdei essa paixão de ninguém, mas já nasci com ela e pretendo passá-las aos meus filhos”, conclui Ribeiro, que mexe em sua coleção diariamente.

Entretenimento e paixão

Em Brasília, o bancário Luiz Eduardo Fernandes Cazaleiro sempre gostou de trens desde a infância, mas passou a adotar este hobby aos 18 anos, quando viu uma maquete montada em frente à loja onde sua mãe trabalhava, em um shopping de Ribeirão Preto. “Andei algumas vezes de trem quando criança e gostei da experiência. Mais velho, fui pesquisar sobre o assunto e acabei adotando o ferreomodelismo como hobby. Hoje tenho 95 locomotivas e cerca de 100 vagões em casa, onde tenho uma maquete em que mexo praticamente todo dia”, diz Cazaleiro, que lamenta o fim do transporte ferroviário para pessoas no Brasil. “Brasília, capital do país, possui apenas duas estações, a Bernardo Sayão e a Rodoferroviária, utilizadas por trens de cargas, e o ferreomodelismo é uma maneira de resgatar esta cultura no Brasil”, conclui.

O ferreomodelismo é uma mistura de entretenimento, baseado em modelos de escala, e arte, pois os amantes deste hobby ficam fascinados quando começam a construir suas maquetes, fazer toda a parte de decoração e cenário e projetar as construções. É preciso ter capacidade de observação para se construir uma maquete, pois todo esse trabalho de reprodução do mundo real é totalmente artesanal”, diz Lucas Frateschi

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