Cura que vem das plantas

Dados da Secretaria da Saúde do Estado de Goiás mostram o crescimento da procura por plantas medicinais em 58%, nos últimos três anos

Postado em: 03-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Dados da Secretaria da Saúde do Estado de Goiás mostram o crescimento da procura por plantas medicinais em 58%, nos últimos três anos

Gabriel Araújo*


De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado de Goiás (SES) a procura por medicamentos fitoterápicos na rede pública estadual cresceu 58% nos últimos três anos. Em 2015 foram 5.456 atendimentos do tipo, enquanto em 2016 foram aproximadamente 8.190 e no último ano, 2017, foram registrados 8.666 atendimentos no Centro de Referência em Medicina Integrativa e Complementar (Cremic), o antigo Hospital de Medicina Alternativa, que trabalha com plantas medicinais desde 1987.

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Para a diretora técnica do Cremic, Mara Rubia de Freitas, o crescimento se deve a busca por novas medicações. “Normalmente as pessoas começam a procurar esta área por falta de resultados esperados na medicina tradicional. Também pela opção de escolher um tratamento com menos efeitos colaterais e efeitos adversos além do custo mais acessível”, completou.

Ela ainda afirma que a rede pública utiliza uma variedade de plantas medicinais, em torno de 90 espécies que atuam em diversas áreas do corpo humano. “Temos produtos para utilização nos vários sistemas do corpo, digestivo, respiratório, nervoso, imunológico, circulatório, locomotor, ginecológico”, disse.

A rede pública utiliza ainda medicamentos fitoterápicos que são distribuídos pelos municípios, como a espinheira santa, a passiflora, guaco, alcachofra, aroeira, cáscara sagrada, garra-do-diabo, isoflavona-de-soja, unha-de-gato, hortelã, babosa, salgueiro e plantago.

Segundo Mara, os medicamentos utilizados trabalham de forma semelhante à da medicação tradicional. “As ações principais são: anti-inflamatória, analgésica, digestiva, tônica, estimulante, sedativa, expectorante, ansiolítica, bronco-dilatadora, cicatrizante, antisséptica, imunomoduladora, entre outras. A meu ver são muitos pontos positivos, mas principalmente o que mais impacta são a possibilidade de menores efeitos colaterais e o menor custo”, conclui.

Segundo a assessoria de imprensa da SES, o Governo Federal aplicou cerca de 300 mil reais para um projeto de assistência farmacêutica que inclui custeio do horto medicinal e material, insumos para farmácia da unidade e também para material científico e treinamento. Além do investimento federal o Governo do Estado é responsável pelo custeio de despesas administrativas, com pessoal, materiais de consumo, equipamentos, ensino e pesquisa.


Onda nacional

Segundo o Ministério da Saúde, a busca pelos medicamentos fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS) cresceu 161% entre 2013 e 2015, data da última pesquisa. As plantas como o maracujá, utilizado para diminuir o estresse ou a camomila, utilizada em forma de chá para minimizar os problemas digestivos são cada vez mais utilizados nos processos de produção de medicação a base de plantas.


Fitoterápicos

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) os medicamentos fitoterápicos são aqueles produzidos a partir de derivados de vegetais, como as plantas medicinais. O processo de industrialização evita contaminações por micro-organismos, agrotóxicos e substâncias estranhas, além de padronizar a quantidade e a forma certa que deve ser usada, permitindo uma maior segurança de uso.

O órgão ainda informa que, para segurança, todos os medicamentos devem estar registrados na Anvisa e no Ministério da Saúde antes de serem consumidos. Estes medicamentos possuem seus benefícios comprovados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e devem ser utilizados somente com recomendação médica.

Plantas Medicinais

As plantas medicinais são aquelas que são capazes de aliviar ou curar doenças e têm tradição de uso como remédio em uma população ou comunidade. Para usá-las, é preciso conhecer a planta e saber onde, e como, efetuar a colheita, além de como prepará-la.  Normalmente são utilizadas na forma de chás e infusões. Os medicamentos fitoterápicos são feitos a partir do processo de industrialização destas plantas.

Elas foram identificadas e usadas ao longo da história da humanidade, pois têm a capacidade de sintetizar uma grande variedade de compostos químicos que são utilizados para tratar doenças e ajudar no desenvolvimento humano. Segundo pesquisa de autores americanos em 2006, pelo menos 12.000 dos compostos medicinais foram isolados até hoje, um número estimado em menos de 10% do total.

De acordo com Renata da Cunha, que trabalha com a venda de produtos de origem natural a cerca de 12 anos, o crescimento na utilização destas plantas se dá, principalmente, devido a chegada da internet. “A internet ajudou muito, tem vezes que as ervas não são muito conhecidas e quando passam nos jornais e na internet e vira aquela euforia e aumenta as vendas”, disse.

O aposentado Almir Nóbrega, de 61 anos, costuma comprar produtos naturais como, óleo de coco e sal do Himalaia toda segunda-feira. “Prefiro os medicamentos naturais, a mais de 20 anos que só uso coisas naturais. Gosto deles para me prevenir de doenças e a farmácia é só em último caso.” Concluiu.


Cremic

O Centro de Referência em Medicina Integrativa e Complementar (Cremic) desenvolve atendimentos complementares à medicina tradicional, com tratamentos de quiroprazia, acupuntura, abordagem homeopática, fitoterápica e ayurveda. 

O antigo Hospital de Medicina Alternativa (HMA) foi fundado em 1987 e possui uma farmácia homeopática e o horto medicinal, usados no tratamento complementar de pacientes portadores de doenças crônicas, infecciosas e dermatológicas. Em sua área médica são oferecidas as especialidades de Homeopatia e Acupuntura e Fitoterapia como método terapêutico, a Fitoterapia. Na área complementar, o Centro oferece a Ayurveda, uma prática criada na Índia a sete mil anos, e as práticas chinesas Reike, Auriculoterapia, Ventosa Terapia e Moxabustão.

Segundo informado pelo próprio hospital, são realizados cerca de 200 atendimentos por dia. Para iniciar tratamento no local é preciso marcar uma consulta médica em um Cais da capital ou Unidade Básica de Saúde e pedir o encaminhamento para o Cremic, quando é feito agendamento para uma outra consulta na unidade.


Programa Nacional

A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos foi criada em 2006, pelo Governo Federal com o objetivo de garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional.

O programa conta com 12 medicamentos disponíveis pelo SUS: Alcachofra, Aroeira, Babosa, Cáscara Sagrada, Hortelã, Garra do Diabo, Guaco, Espinheira-Santa, Plantago, Salgueiro, Soja e Unha de Gato. E seguem sendo estudados mais insumos para diversificar o atendimento.

O Ministério da Saúde informou, em nota, que foram investidomais de R$ 35 milhões em 93 projetos de plantas medicinais e fitoterápicos no âmbito do SUS desde 2012. Os projetos têm o objetivo de fortalecer a cadeia produtiva dos insumos, especialmente a oferta de fitoterápicos aos usuários do SUS.

Ainda de acordo com a nota, o último estudo realizado pelo Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB), em 2016 registrou 89.037 atendimentos individuais de Fitoterapia, em 1.205 estabelecimentos de Saúde, distribuídos em 822 municípios. Além disso, ocorreram 45.630 atividades coletivas em 2.449 estabelecimentos em 1.221. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades RhudyCrysthian).

 

Algumas plantas com zero de efeitos colaterais 

A hortelã é um relaxante natural eficaz no tratamento de cólicas menstruais e de problemas nervosos. Além disso, se for consumida com moderação, não causa efeitos colaterais.

Originária da África do Sul a garra-do-diabo, se trata de uma planta cujas folhas podem atingir até um metro e meio de comprimentos. É bastante utilizada devido suas propriedades analgésicas, anti-inflamatória e estimulantes.

A Babosa previne infecções e é um ótimo cicatrizante, por isso é muito recomendado em casos de acne ou queimaduras solares. No antigo Egito, a planta já era utilizada pelas mulheres para cuidar da pele.

 

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