Agressividade em família
Especialista afirma que pais muitas vezes optam por serem mais amoroso com um filho em detrimento ao outro. “A agressividade é um mecanismo de defesa”, diz
Por: Sheyla Sousa
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Marcus Vinícius Beck*
Em pouco mais de uma semana, três pessoas foram presas por serem suspeitas de matarem seus próprios irmãos em Goiás. Casos de violência entre parentes direitos é um assunto complexo à psicologia e requer maiores cuidados por parte dos pais, que muitas vezes acabam sendo negligentes e não equilibram suas demonstrações de afeto, priorizando um filho em detrimento ao outro. Especialistas dizem que esse desequilíbrio atinge as crianças e episódios trágicos que envolvem mortes brutais passam a acontecer com cada vez mais frequência.
A saída para evitar que o sentimento de ódio reverbere entre irmãos é educá-los de forma igualitária. Em entrevista ao O Hoje, o psicanalista Anderson Carlos explicou que várias questões levam os pais a adotarem posturas que fomentam esses sentimentos em seus filhos. “A agressividade é um mecanismo de defesa que tem sua origem primeiramente nos pais, que expressam mais amor por um filho”, diz. A partir disso, continua o psicanalista, há uma potencialização dos sentimentos agressivos, que leva a uma não distinção entre certo e errado.
Além da proliferação desses sentimentos, o filho que se sente rejeitado terá de conviver com vários tipos de tratamento: haverá o sentimento de amor, amizade e ciúmes, inveja e rivalidade. “Com base nisso, os crimes podem ocorrer como uma tentativa de reduzir sua angústia interna locada no inconsciente”, explica. Ainda conforme o psicanalista, o problema ganha contornos que perpassam por uma complexidade paternal. “O irmão que recebe os sentimentos amorosos pode alimentar uma ideia de concorrência”.
Mortes
O último caso de violência entre irmãos foi registrado na última sexta-feira (2) em Jataí, na região sudoeste de Goiás. De acordo com informações da Polícia Civil, o crime foi motivado por causa de briga. O pai deles tentou separá-los, mas ele disse que a própria vítima foi quem gerou a discussão. “Conforme o pai, a vítima era usuária de drogas e havia bebido muito na noite anterior. Ele acordou fazendo arruaça e provocando os outros irmãos. Pegou uma faca e disse que ia matá-los”, afirma.
Em Goiânia, um adolescente foi preso após confessar que matou o próprio irmão com uma facada no pescoço após discussão entre ambos. O porta-voz da Guarda Civil Metropolitana, Valdsom Batista, disse que o rapaz viu um carro da corporação e resolveu ir se apresentar, dizendo que havia matado o próprio irmão. “A madrasta disse que ele havia consumido droga o dia todo, inclusive ela disse que o jovem tinha seis passagens pela polícia, por assalto à mão armada, tráfico, porte de armas, lesão corporal e, agora, por furto”.
Por fim, no início da última semana, um suspeito foi preso após briga que teve com a irmã por conta do canal de televisão que assistiam. O crime aconteceu no meio da tarde, quando os pais não estavam em casa. Segundo informações do sargento da Polícia Militar (PM), Valdimir Alzves da Gama, o rapaz chegou a pedir ajuda aos vizinhos para ir a uma unidade de saúde, porque havia cortado a mão com uma faca. O suspeito, de acordo com o policial, foi preso quando estava no Cais Amendoeiras.
Pais e filhos
Outro problema grave acomete as famílias. Responsável por várias brigas, as discussões entre pais e filhos, muitas vezes, ganham conotações de extrema violência, e é o principal fator para que haja barbáries. Nas últimas décadas, psicólogos e sociólogos passaram a se debruçar pelo tema, que não é novo, porém teve aumento considerável nos últimos anos. Estudos com dados, que foram organizados e analisados pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos de Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), 70,4% das vítimas foram mãe e 29%, pais. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)