Formação religiosa atrai jovens

Os três Seminários de Goiânia contam com 98 estudantes que procuram participar do sacerdócio na Igreja

Postado em: 10-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Os três Seminários de Goiânia contam com 98 estudantes que procuram participar do sacerdócio na Igreja

Gabriel Araújo*

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A formação dos novos padres nos três seminários localizados em Goiânia está relacionada a uma rotina apertada. Estudos em filosofia e teologia são os principais pontos, mas existem também momentos de diversão, como a prática de esportes, televisão, filmes e internet que marcam o período de oito anos de construção sacerdotal.

O processo é longo e focado na maturação social e espiritual dos jovens. No primeiro ano, conhecido como Ano Propedêutico, eles dão início à rotina de estudo com disciplinas introdutórias à teologia e à Bíblia. Segundo o Padre responsável pelo seminário, José Luiz, o primeiro ano é uma introdução à vida sacerdotal. “É um ano de iniciação à fé e à vida comunitária. Temos processos avaliativos contínuos durante todo o ano e, se bem avaliados, eles são convidados a continuar no seminário”, completou.

Após o primeiro ano, os seminaristas se mudam para o Seminário Interdiocesano São João Maria Vianney onde dão início aos três anos de estudos filosóficos.  “Eles estudam no Instituto Santa Cruz por três anos e, a partir de então passam para quatro anos de Teologia na PUC Goiás”, afirmou o padre José Luiz, responsável pelo gerenciamento do primeiro ano de formação sacerdotal no Seminário Santa Cruz.

A casa desses estudantes é o seminário, segundo o Padre eles trabalham, rezam, estudam e se divertem no local. Apesar disso, eles tem dias em que podem deixar o seminário. “As vezes as pessoas pensam que eles não saem, mas existem momentos oportunos para visitas ao mundo externo. Toda quarta-feira, por exemplo, eles tem uma tarde livre para resolver os problemas pessoais, ver um filme ou mesmo ir em um Shopping”, confirmou José Luiz.

Mesmo com um cronograma rígido, os momentos de lazer se misturam com as necessidades de oração. Percebe-se que o seminário funciona como uma empresa, em que os funcionários devem cumprir com os horários e os projetos solicitados. “As empresas, não importa se de pequeno porte ou uma gigante do mercado, possuem horários e dentro dos horários estão as atividades”, completou.

Tecnologia

Para o padre José Luiz, o uso da tecnologia deve ser feito de forma responsável, para que os alunos tenham uma ferramenta nas mãos que os ajude a compreender o mudo. “Nós entendemos que a formação não se dá somente no seminário, principalmente com todas as formas de tecnologia que temos contato. Os rapazes são influenciados por vários conceitos e ideias. Nós vivemos em um mundo de pluralidade de ideias e, por isso, precisamos ensiná-los a sintetizar as ideias para que os meios de comunicação sejam uma ponte entre a palavra e as pessoas”, confirmou. 

O seminário tem um horário para o acesso à rede de computadores, com uma sala específica e equipamentos disponíveis. “Os seminaristas são somente orientados quanto ao uso dos aparelhos telefônicos. Acho que esse contato todos acabam tendo, não acredito que nem os mosteiros estão completamente isolados hoje”, afirmou José Luiz.

De acordo com Lenilson Oliveira, de 27 anos, um dos seminaristas, o contato com a internet e televisão é feito em momentos certos. “Temos televisão, internet e até Netflix. Usamos o laboratório para pesquisas nos momentos definidos, não ficamos sempre em contato pois atrapalharia os estudos”, disse.

Histórias

Segundo a Igreja, o número de seminarista amentou em relação aos anos de 1980 e 1990, mas se manteve relativamente estável em comparação com o início do século. Mesmo sem divulgar os dados é possível afirmar que nos últimos dez anos, a entrada de estudantes nos seminários de Goiás se manteve estável. Muitos chegam cedo, logo após o fim do ensino médio, enquanto outros chegam já com uma idade avançada.

Ronaldo Alves dos Santos, de 41 anos, está no primeiro ano de seminário. Ele é um dos casos de vocação tardia, que decidiu estudar para o sacerdócio após sua filha completar a maioridade. “Desde jovem participo da Igreja, com meu avô ainda quando morava no Nordeste. No decorrer da minha vida ocorreram algumas situações em que me levaram a esperar para participar do seminário, tive uma filha e, por isso, tive de sair e esperar ela completar os 18 anos, nesse tempo trabalhei como vigilante e continuei participando da igreja até ter a oportunidade de entrar no seminário”, afirmou.

Já Diêmersom de Araújo, de 27 anos, entrou no seminário mais jovem. Segundo ele experiências em festas e bebidas mostraram que o melhor caminho a seguir seria o caminho de fé. Diêmersom que já é diácono e está no último ano de estudos antes de ser enviado para uma paróquia e auxiliar um dos padres disse que desde que iniciou a catequese sentia uma atração pela Igreja, mas não conseguia entender como a vida de fé funcionava. “Durante a adolescência, quando já estava na Igreja mas ainda tinha um contato com o mundo que sempre oferece outros caminhos. As vezes com alguns colegas eu ia em festas mas nunca me sentia completo, como se algo estivesse faltando, um vazio, eu queria entender como preencher esse vazio e acabei aqui”, disse.

Seminário Santa Cruz

O Seminário Santa Cruz foi fundado em 3 de março de 1860, por um Decreto Imperial do então imperador Dom Pedro II. A inauguração ocorreu 12 anos depois, em seis de janeiro, na antiga capital da Província de Goiás, Vila Boa, atual Cidade de Goiás, com 38 alunos. De acordo com arquivos históricos da Igreja em Goiás, em 1876, a casa acolhia 59 alunos, mas muitos não buscavam somente participar ativamente da Igreja. Para o padre José Luiz, a população buscava uma melhor qualidade no ensino. “Não somente candidatos ao sacerdócio, mas também outros alunos que queriam aproveitar a qualidade do ensino da instituição”, afirmou.

O seminário passou por vários municípios e chegou a ser fechado algumas vezes por falta de recursos. Em 1879, após a suspenção do pagamento aos professores pela gestão da província, o Seminário foi fechado e só retornou em 1880. Após a proclamação da República, em 1889, e as dificuldades encontradas após a separação do Estado, o Seminário foi transferido para a cidade Ouro Fino, em 1892. 

No final do século o seminário foi novamente fechado e só retornou no final da primeira década do século 20.  No ano de 1983, o Seminário foi transferido para as atuais instalações, no antigo Centro de Treinamento de Líderes, a partir de então os seminaristas do Seminário Interdiocesano São João Maria Vianney passaram a ficar no mesmo local. Em 2008, uma reforma no local teve início e foi finalizada com a construção da nova Capela do Seminário Santa Cruz e as instalações não mudaram desde então.

Atualmente, o local conta com 15 jovens que estão no primeiro ano de estudo para a formação como sacerdócio, conhecido como Ano Propedêutico. O seminário é uma comunidade educativa, é uma extensão da Igreja. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian). 

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