Síndrome do fim de ano aflige saúde física e mental

Parcela da população sente tristeza e melancolia profundas nesse período de final de ano

Postado em: 31-12-2022 às 10h00
Por: Sabrina Vilela
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Parcela da população sente tristeza e melancolia profundas nesse período de final de ano. | Foto: Reprodução

Os termos “Síndrome do Final do Ano” ou até mesmo “Dezembrite” não são tão conhecidos, mas podem ser facilmente sentidos. Eles se referem ao sentimento de solidão e aumento de ansiedade e depressão durante esse período de festas de final de ano. Embora para boa parte das pessoas, essas datas sejam marcadas por momentos de grande descontração, alegria e início de novos ciclos, outra parcela sente profunda tristeza e melancolia.

Uma pesquisa da International Stress Management Association aponta que esse estresse individual aumenta 75% e atinge 80% da população nesse período. E essa síndrome é capaz de afetar não apenas o psicológico da pessoa como também o físico, como é o caso da comerciante Rafaela Pereira de Souza, de 40 anos. Para ela o mês de dezembro por si só é muito cansativo, pois tem o peso de já ter passado o ano quase todo.

“A gente acaba acumulando todas as coisas, tanto emocionais quanto de trabalho, que aconteceram ao longo dos 11 meses. Sem contar que tem aquela pressão de que temos que resolver tudo para terminar o ano e começar um novo ciclo”.

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Aliado a isso, Rafaela menciona ainda a questão emocional de ter comemorações importantes e que nem sempre são felizes pela perda de entes queridos. “No meu caso, perdi meu pai há dois anos, mas ainda assim sinto muito a falta dele nessa época. Esses dias de organização das festas estaríamos planejando onde seria a ceia de Natal e do Ano Novo”. 

Ou seja, para ela, é um mês de muitas emoções e muita pressão também. Ela conta que é difícil saber lidar com tantos sentimentos. “Me sinto numa verdadeira montanha russa de sentimentos, um sobe e desce contínuo”, desabafa.

Afeta o coração 

Alegria e tristeza; realização por objetivos alcançados e frustração por metas não atingidas. Tudo isso pode resultar em depressão, ansiedade, elevação do nível de estresse, o que leva à liberação de cortisol, catecolaminas, podendo causar insônia, hipertensão arterial e aumento do risco de eventos cardiovasculares, que é o infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, conforme explica o cardiologista do Cebrom Oncoclínicas, Fabrício Henrique. 

O doutor explica ainda que pessoas com doenças cardiovasculares prévias têm maior risco de desenvolverem estes eventos agudos, pois são mais propensas, por terem estratificação de risco cardiovascular mais elevada, ou seja, já têm um risco prévio mais alto. “Dessa forma, estas pessoas têm maior chance de evoluírem com crise hipertensiva, hiperglicemia, vasoconstrição, maior liberação de citocinas que elevam o risco de eventos tromboembólicos. Por isso têm maior incidência de morte, ou sequelas, por infarto ou isquemia cerebral”, salienta.

Psicóloga, Carlinda Braga explica que o fim do ano marca o encerramento de um ciclo, assim costuma-se fazer reflexões acerca do ano que está findando. E por sua vez, isso pode gerar uma sensação de maior entristecimento, frustrações com relação aos planos ou metas que não foram satisfatoriamente alcançadas e até mesmo de luto pelas perdas acontecidas durante o ano. Ela explica ainda que a ansiedade também é outro sintoma recorrente, pois pensa-se muito no futuro com o novo ano que se aproxima.

A especialista acredita que este ano pode ter registrado maior aumento com relação à síndrome, principalmente devido à pandemia e a vivências de tantos lutos não só por perdas de familiares, mas também causas sociais como mudança ou perda de emprego, dificuldades financeiras, entre outros. 

Braga afirma que é possível lidar com esses sentimentos, mas cada caso deve ser avaliado individualmente. “Cada caso precisa ser avaliado em sua singularidade. Porém acredito que auxilia muito neste processo fazer um balanço também de vivências positivas que ocorreram durante o ano que se passou”. 

Em alguns casos, ela afirma ainda que especialmente em pessoas com histórico de transtornos depressivos ou de ansiedade é preciso ter um olhar mais atento, inclusive buscando ajuda de profissionais caso os sintomas fiquem exacerbados.

Já para lidar com sentimentos de frustração é necessário buscar reflexão equilibrada de situações tanto positivas como negativas e utilizar as vivências do passado somente como aprendizado, pois não podem ser alteradas, conforme ressalta a especialista. 

Simpatias e crenças para um ano melhor

Cada cultura tem seu ritual para a chegada no ano novo como roupa colorida (cada cor representa algo que deseja atrair ) , comer lentilha, comer carne de porco, cantar “Adeus ano velho, feliz ano novo” e entre outras. Essas superstições são bem comuns na vida de muitas pessoas como forma de começar o ano novo com o pé direito. 

A psicóloga Carlinda Braga esclarece que muitas pessoas têm comportamentos supersticiosos, em especial nesta época do ano. “Esses comportamentos não podem ser explicados cientificamente da eficácia dos mesmos para se ter um ano melhor ou mais próspero. É algo muito mais cultural, passado de geração para geração”. 

Algo muito comum aqui no Brasil é participar da Mega da Virada que consiste em um prêmio que pode mudar por completo a vida de quem acertar as dezenas. No município de Santo Antônio de Goiás, região metropolitana de Goiânia, cerca de 285 pessoas participaram do “Bolão do Toninho”. Só esse grupo registrou 1.266 apostas para tentarem levar para casa a bolada de R$500 milhões de reais. 

Mas independente de ser supersticioso ou não, de ganhar um prêmio milionário ou não, o ideal é estabelecer metas realistas para conseguir se sentir realizado no próximo ano. Braga destaca a necessidade de estabelecer metas alcançáveis a curto prazo durante o ano todo, entendendo que nem todas serão atingidas, porém o esforço para que aconteçam também precisa ser comemorado. 

“Uma das nossas maiores dificuldades é lidar com as incertezas, porém nem tudo conseguimos controlar. A pandemia nos trouxe muito esta percepção, visto que a maioria de nós tivemos planejamentos que não puderam ocorrer devido às restrições necessárias naquele momento”. 

Um problema evidenciado pela psicóloga é depositar as expectativas no ano ou então não se planejar devidamente.  “O ideal é usar os aprendizados que tivemos durante um ano para não realizar os mesmos equívocos no novo ano, entendendo que mesmo tendo um planejamento ocorrem situações que não conseguimos controlar. O ano é novo, mas nós somos os mesmos seres em constante aprendizado”.

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