Tecnologia substitui SitPass

Usuários do transporte coletivo não concordam com o fim do bilhete. O argumento é que o Cartão Fácil gera muitos problemas

Postado em: 15-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Usuários do transporte coletivo não concordam com o fim do bilhete. O argumento é que o Cartão Fácil gera muitos problemas

Marcus Vinícius Beck*

O bilhete de embarque para ônibus em Goiânia e Região Metropolitana  SitPass vai deixar de existir nos próximos dias. Fontes ligadas ao setor de transporte coletivo contaram ao O Hoje que uma nova forma de pagamento para andar nos coletivos está sendo analisada. A assessoria de imprensa da Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC) confirmou que há um projeto em estudo para extingui o bilhete, mas não informou quando ele entrará em vigor ou quais serão as máquinas que irão validá-lo nos terminais.

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A reportagem conversou na tarde de ontem com usuários do transporte coletivo. Todos frisaram que o Cartão Fácil gera muitos problemas. Passageiros relataram que recarregam o dispositivo com valor R$ 30, porém eles dizem que não conseguem utilizar as sete viagens de ônibus que foram colocadas na carteirinha. A equipe ouviu oito pessoas e todas fizeram as mesmas queixas sobre o atual sistema de pagamento. Outro ponto que foi alvo de queixas da população são as falhas que o serviço atual possui.

Adepto do bilhete SitPass, o pintor Sérgio Aleixo Souza, 38, relatou que nunca teve problemas com a tradicional forma de pagamento. “Eles decidiram que o melhor a se fazer é acabar com o SitPass. Tudo que é bom dura pouco”, lamenta. “Todos os dias pego o ônibus para ir trabalhar, e sempre consegui passar o bilhete para entrar no coletivo, o mesmo já não posso falar do Cartão Fácil: cansei de me estressar”, diz. Em função disso, ele optou por usar a forma de pagamento que vigora há duas décadas, evitando dores de cabeça.

Contudo, não foi apenas essa constatação positiva acerca do bilhete que a reportagem ouviu ontem. No terminal Maranata, no Jardim de mesmo nome, em Aparecida de Goiânia, a população – em sua maioria – ainda usava o bilhete SitPass, comprando-o na própria bilheteria do terminal. A reportagem perguntou a essas pessoas o que as levava ainda a usar os bilhetes para pagar o transporte coletivo. Alguns disseram que seus cartões fácil estavam extraviados ou perdidos. Já outros garantiram a funcionalidade do antigo modelo em detrimento ao cartão.

A dona de casa Keila Rodrigues, 34, contou que mora em Goiânia há quatro meses. Vinda do interior de Goiás, ela nunca usou outra forma de pagamento que não fosse o bilhete SitPass, que nunca a deixou na mão. “O problema do Cartão Fácil é que você coloca crédito nele e, ainda assim, há um certo risco deixá-lo na mão”, afirma. Assim, diz ela, não há outra forma de segurança para andar de transporte coletivo que seja o bilhete.

Nunca melhorou

Dentre as queixas ouvidas pela reportagem ontem, a que mais chamou atenção foram as medidas colocadas em prática para proveito da própria empresa. “Antes, você pagava na hora para andar de ônibus, mas, no momento, você paga com antecedência”, diz a pedagoga Maria Aparecida de Souza, 34. Por conta disso, cada vez mais pessoas estão aderindo ao bilhete. Informados sobre a possibilidade de seu fim, usuários do transporte coletivo disseram que a medida irá, cada vez mais, dificultar suas vidas.

Um dos pontos que também foi alvo de reclamações por parte dos usuários foi o preço da passagem e medidas de melhorias para o transporte coletivo, que nunca se concretizaram. Ao entregarem uma cédula de R$ 10  e colocarem o mesmo valor na carteirinha, eles não terão troco e, diante disso, a funcionalidade do Cartão Fácil vem dividindo a opinião dos usuários do transporte coletivo. Em 2016, a Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC) disse que, quando o passageiro não conseguisse pôr crédito em seu Cartão Fácil, a passagem passaria a ser vendida dentro do coletivo, com preço mais caro.

Mas essa novidade nunca chegou a sair completamente do papel. Até hoje é difícil encontrar vendedores de passagens. E, caso a população embarque no coletivo sem o crédito, a confusão está instaurada. “Já apanhei o coletivo sem crédito na carteirinha e, quando isso acontece, geralmente pergunto para os passageiros se alguém tem passagem para vender. Às vezes, dou sorte e encontro um ou outro que vende uma passagem para mim”, declara a dona de casa Belinha Divina, 52.

Embora venha sendo discutido o termino do bilhete SitPass desde 2015, a tradicional forma de pagamento ainda atrai o gosto dos usuários do transporte coletivo da Região Metropolitana de Goiânia.“Prefiro o bom e velho papel porque sei que ele não irá me deixar na mão como esse tal de Cartão Fácil, que acaba os créditos de uma hora para outra”, afirma Keila Rodrigues.

 Novela em torno do SitPass está com dias contados desde 2015 

Com duas décadas de existência, o bilhete SitPass está com os dias contados desde meados de 2015. Na época, o Sindicato das Empresas do Transporte Público (SET) disse que o passe de ônibus já estava em extinção, e só seria vendido nos terminais com um valor de R$ 6,60. Três anos depois, porém, discute-se novamente o término do bilhete, que ainda conta com muitos adeptos pela Região Metropolitana de Goiânia.

O sistema de bilhete teve seu ápice em 2007, quando 237 milhões de passageiros andaram de ônibus na Capital e Região Metropolitana, representando uma média de 19,7 milhões por mês. Naquele ano, quase 80% da população usava o tradicional sistema de bilheteria, de acordo com informações da SET, de 2015. Atualmente, é possível encontrar a comercialização dos bilhetes próprios aos terminais.

De uns tempos para cá, a venda do Sitpass caiu, mas ainda é possível encontrar quem opte pelo antigo sistema de pagamento. Pesquisa do SET disse que, antigamente, vendia-se muito porque os passageiros procuravam mais o Cartão Fácil. Mas em horário de pico, quando se está apressado, ainda há quem compre um bilhete SitPass.

Alternativa

A Rede Metropolitana de Transporte Coletivos (RMTC) informou que existe uma alternativa para quem está descontente com o Cartão Fácil. Em vigor desde o ano passado, o Cartão Fácil Expresso nasceu como uma forma diferente à contestada carteirinha. No entanto, o cartão expresso comercializaria passagem mais cara do que a normal. Medida nunca chegou a entrar em vigor. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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