Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Cresce mercado para cuidador de idoso

Procura pela profissão de cuidador de idosos vem crescendo nos últimos anos. Profissão é regulamentada desde 2015

Postado em: 19-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Procura pela profissão de cuidador de idosos vem crescendo nos últimos anos. Profissão é regulamentada desde 2015

Marcus Vinícius Beck*

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“Se você não levar jeito não vale a pena ser cuidador de idosos”. O radialista Joaquim Luiz de Freitas Guimarães Neto, 40, descobriu tardiamente que seu talento era cuidar de gente que está terceira idade. Mas essa escolha não se deu prestando auxilio a parentes. Natural de Goiânia, ele faz estágio no abrigo de idosos São Vicente de Paulo, no Setor Americano do Brasil, na região sudoeste de Goiânia. Lá, Joaquim acompanha profissionais que são responsáveis por dar atenção, carinho e cuidar da alimentação dos quase 50 senhores que moram no local.

Neste tempo em que está no abrigo, o radialista criou um vínculo afetivo com Ana Maria, de 108 anos. Dentre as histórias que ela lhe contou, há uma que Joaquim faz questão de comentar com todos que vão à casa de idosos. “A vovó Ana disse que foi cozinheira do ex-presidente Jânio Quadros no período em que ele foi presidente do Brasil, na década de 1960”, diz, acrescentando que todo dia quando ele a vê pede benção. “Faço isso religiosamente, porque a gente acaba criando um vínculo com as pessoas que assistimos aqui”. 

Profissão

Desde que foi regulamentada em 2015, a procura pela profissão de cuidador de idosos vem aumentando nos últimos anos. Mas o reconhecimento da prática profissional não surgiu do dia para a noite. Foram precisos muitos anos de luta por parte de escolas que ministram os cursos que capacitam o profissional para a trabalho. Em 2015, a Câmara dos Deputados atuou junto à deputada Cristiane Brasil para garantir que a profissão respeitasse as prerrogativas do curso técnico de Enfermagem, situando o ofício  na área da saúde.

A professora universitária e coordenadora de estágio na área de cuidador de idosos, Ana Karolina Rodrigues, disse que o campo teve um aumento nos últimos anos, porém a profissão ainda é pouco conhecida pela população. “Além disso, deve-se ter cuidado sobre algumas particularidades da profissão em relação ao curso de enfermagem. Enfermeiros podem dar medicamentos, e cuidadores não. A função do profissional é assistir o idoso no momento em que ele estiver tomando banho, se alimentando e trocando de roupa”, explica.

Por conta disso, afirma a professora, o profissional precisa conhecer o Estatuto do Idoso, aprovado em 2003 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de possuir jeito e paciência para cuidar de uma pessoa que está na terceira idade. “Está sendo cada vez mais comum de se ver pessoas que por não terem tempo necessário acabam pagando um profissional, o cuidador de idosos, para acompanhar a rotina de seu ente”, diz. “Mas, mesmo com toda essa procura, é difícil que a profissão venha a ter algum curso universitário”. 

Para trabalhar na área não é necessário apresentar nenhum certificado de conclusão do curso. “Ainda não é uma exigência o diploma do cuidador”, afirma a professora Ana Karolina. Sobre o perfil sócio-econômico dos profissionais, ela disse que a maioria deles é oriunda das classes menos favorecidas da população, que estão atrás de emprego. “A profissão acaba, muitas vezes, sendo uma forma de ‘quebra-galho’ para quem está desempregado e precisa ganhar de uma renda para sobreviver”. No quadro de profissionais, há sociólogos e enfermeiros.

Curso

O curso para cuidador de idosos tem duração de 190 dias, e é ministrado em escolas públicas de saúde. Após o término, os profissionais poderão atuar em instituições de longa permanência, como abrigos, além de hospitais, eventos culturais e sociais. No entanto, quando as atividades forem em residência, os contratos de trabalho deverão seguir as regras válidas para os empregos domésticos. Os cuidadores podem ser demitidos por justa causa se ferirem alguma norma do Estatuto do Idoso. 

Como a área é irmã da enfermagem, o profissional precisa estar atento a alguns cuidados exigidos por doenças mais graves, e que seriam de responsabilidade de enfermeiros tratá-las. A proposta de lei deixa claro que o cuidador só pode administrar medicamentos de via oral sob orientação prescrita por profissionais da saúde.  De acordo com o Ministério do Trabalho, o salário médio da categoria gira em torno de um salário mínimo.  

Idosos abandonados têm preferência por vaga em abrigo 

Os abrigos de idosos possuem preferência para atender quem está abandonado, ou mora na rua. Em Goiânia, a casa do idoso São Vicente de Paulo, no Setor Americano do Brasil, realiza estudo no momento em que a família procura a instituição para maiores informações sobre o preenchimento de vagas. De acordo com a assistente social e coordenadora do abrigo, Rita de Cássia, é preciso colocar na balança a importância da família no processo de envelhecimento do idoso.

“Não temos o objetivo de tirar o idoso de suas famílias, que vem aqui e faz seu relato”, diz. Após conversar com a família, o abrigo encaminha um assistente social para avaliar a condição do idoso. “Em seguida, a equipe volta para cá e todos se reúne para firmar um diagnóstico, se o idoso terá uma vaga aqui, ou se ele não tem necessidade de ficar no abrigo”, explica. Caso o diagnóstico seja positivo, e o idoso vá para o abrigo, ele terá assistência 24 horas por dia.

A cuidadora Selma Aparecida Quintino, 56, relatou que seu trabalho é gratificante. “Todo dia saio daqui com a alma leve, pois eu alimentei uma pessoa, troquei a roupa daquele pessoa e dei atenção para ela”, conta. “Desta forma, creio que possuímos um valor nobre para a vida daquelas pessoas, que muitas vezes estão ali abandonadas sem visita dos familiares, nem nada do tipo”, frisa. Selma trabalha no São Vicente de Paulo há 15 anos.

Em dificuldades financeiras, o abrigo pede que as pessoas, se puderem, façam alguma doação. Para fazê-la, basta ligar para o telefone (62) 3253-1199. A ajuda pode ser por meio de verba, ou qualquer outro tipo de doação.

Estatuto do idoso

Sancionado em 2003, o Estatuto do Idoso trouxe avanços para a população de terceira idade. Mas é necessário fazer algumas ressalvas nele. Especialistas apontam que para o idoso ativo, aquele que tem poucos problemas de saúde e vive uma vida normal, houve avanços como no quesito acessibilidade e mobilidade. No entanto, há poucas – ou quase nenhuma – política pública voltada para o idoso mais fragilizado. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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