Câncer de intestino é o segundo que mais mata no país

75% dos pacientes que receberam diagnóstico de câncer colorretal em 2022 estavam com o tumor avançado

Postado em: 17-01-2023 às 08h30
Por: Vinicius Marques
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75% dos pacientes que receberam diagnóstico de câncer colorretal em 2022 estavam com o tumor avançado. | Foto: Reprodução

Nesta segunda-feira (16), a cantora Preta Gil começou o tratamento contra um câncer no intestino, como ela própria revelou ao público. Nos próximos dois anos, a estimativa do Ministério da Saúde é de que quase 22 mil brasileiros e mais 23,6 mil brasileiras tenham câncer de intestino.

O tumor colorretal se desenvolve no intestino grosso: no cólon ou em sua porção final, o reto. O principal tipo de tumor colorretal é o adenocarcinoma e, em 90% dos casos, ele se origina a partir de pólipos na região (lesões benignas que crescem na parede interna do intestino) que, se não identificados e tratados, podem sofrer alterações ao longo dos anos, podendo se tornar o câncer. 

Segundo as estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para o biênio 2023-2025, quase 46 mil novos casos da doença devem ser diagnosticados por ano no Brasil —um aumento de mais 10% em relação à estimativa de 2020-2022. Nos Estados Unidos, por exemplo, entre os anos de 1998 e 2015, houve um aumento de 63% no número de casos de câncer colorretal, segundo dados do Surveillance Epidemiology and End Result (Seer).

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Para quem não tem casos na família, o Ministério da Saúde recomenda o rastreamento do câncer de intestino a partir dos 50 anos. Após os 50 anos de idade, a chance de apresentar pólipos aumenta, ficando entre 18% e 36%, o que consequentemente representa um aumento no risco de tumores malignos decorrentes da condição a partir dessa fase da vida e, por isso, ela foi estabelecida como critério para início do rastreio ativo.

Diagnóstico e rastreamento

O cirurgião oncológico do Cebrom, Dr Eduardo Sabino, explica que devemos estar sempre atentos aos sintomas, a fim de procurar um médico em qualquer sintomas, para ter um diagnóstico precoce. “Os sintomas aparecerão de acordo com a localização do tumor no intestino (cólon), podendo apresentar pouco sintomas no caso do tumor localizado mais no início do cólon, sendo a anemia a alteração mais comum. Para os cânceres localizados mais no final do intestino as queixas podem ser de dificuldade de evacuar, sangue nas fezes e  dores abdominais”, explica.

Grande parte dos tumores colorretais se inicia a partir de pólipos, que são lesões benignas que crescem na parede do intestino, mas podem se transformar em câncer, caso não sejam removidas. A biópsia é fundamental para determinar se aquele pólipo era pré-maligno ou não. E o diagnóstico precoce é essencial para o sucesso do tratamento.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza a realização do rastreamento do câncer de cólon e reto em pessoas acima de 50 anos, por meio do exame de sangue oculto de fezes. Caso o teste seja positivo, a pessoa deverá fazer uma colonoscopia ou retossigmoidoscopia para retirada dos pólipos.

Mas, diante do crescente aumento de casos antes dos 50, desde 2021, a Sociedade Americana de Câncer recomenda a realização da colonoscopia de rotina para todos os adultos a partir dos 45 anos, mesmo sem sintomas.

A colonoscopia é o exame padrão-ouro para diagnóstico e deve ser repetida a cada cinco anos, se não forem encontrados pólipos; ou anualmente, caso o exame constate a presença de pólipos.

Sedentarismo, obesidade, consumo de alimentos processados e de bebidas alcoólicas são maus hábitos que, segundo os médicos, favorecem o surgimento do câncer de intestino, o terceiro com maior incidência – atrás do câncer de pele, do de mama para as mulheres e do de próstata para os homens. No Brasil, não há estatísticas sobre o aumento da doença em pessoas com menos de 50 anos, mas a comunidade científica já discute reduzir a idade indicada para começar os exames de rastreamento.

Casos antes dos 50 anos

Oito dos 14 cânceres que estão aumentando entre os adultos com menos de 50 anos são do aparelho digestivo: colorretal (intestino), esôfago, ducto-biliar, vesícula biliar, cabeça e pescoço, fígado, pâncreas e estômago, segundo a pesquisa de Harvard, que fez uma extensa revisão de estudos sobre diagnósticos de câncer em 44 países e foi publicada na revista científica “Nature Reviews Clinical Oncology” em setembro de 2022.

Apesar de reconhecerem que esse crescimento nos casos se deve, em parte, a um maior acesso dos pacientes aos métodos de diagnóstico, os autores afirmam que as evidências mostram também uma influência determinante da exposição a fatores de risco, entre eles: consumo de álcool e alimentos processados, tabagismo, sedentarismo e obesidade.

75% dos pacientes que receberam diagnóstico de câncer colorretal em 2022 estavam com o tumor avançado, apontam dados do Radar do Câncer, que trabalha com base nas informações do DataSUS.

Atenção aos sintomas

O câncer colorretal pode ser uma doença silenciosa e não causar sintomas imediatos. Mas, quando presentes, podem incluir:

  • Alteração nos hábitos intestinais, como diarreia, constipação ou estreitamento das fezes, que perdura por alguns dias;
  • Mesmo após a evacuação, não há sensação de alívio, parecendo que nem todo conteúdo fecal foi eliminado (sintoma especialmente sugestivo nos casos de câncer de reto);
  • Sangramento retal (o sangue costuma ser bem vermelho e brilhante);
  • Presença de sangue nas fezes, tornando a sua coloração marrom escuro ou preta;
  • Cólica ou dor abdominal;
  • Sensação de fadiga e fraqueza; e
  • Perda de peso sem motivo aparente.

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