Capital está com trânsito estrangulado

Por conta da quantidade de carros, tráfego está estrangulado em Goiânia. Detran informa que há mais de 1 milhão de automóveis só na Capital

Postado em: 22-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Capital está com trânsito estrangulado
Por conta da quantidade de carros, tráfego está estrangulado em Goiânia. Detran informa que há mais de 1 milhão de automóveis só na Capital

Marcus Vinícius Beck*

O trânsito nas principais avenidas de Goiânia está travado. Em horários de pico, é difícil não perder mais do que uma hora em um hábito que virou parte do cotidiano de pessoas que precisam se deslocar todos os dias da casa para o trabalho e vice-versa. Além do tráfego estrangulado pela quantidade de carros, o barulho de buzina e impropérios bradados por motoristas viraram a tônica dos finais de tarde na Capital goiana, que conta com mais de 1 milhão de veículos, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) do ano passado.

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Esse número abrange motocicletas, caminhões, ônibus e veículos agrícolas, porém é composto em sua maioria por carros pequenos. No Estado a quantidade de automóveis atinge 3,7 milhões. Ao comparar os dados do Detran com as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2016, pode-se dizer que há mais de um veículo para cada duas pessoas em Goiás, que possui mais de 6,5 milhões de habitantes. Para se ter uma ideia, só Goiânia conta com 1,4 milhão de pessoas.

Em função disso, garantem especialistas, o tráfego na Capital goiana vem sofrendo com a falta de organização. O perito em trânsito, Antenor Pinheiro, disse ao HOJE que o Departamento de Engenharia de Trânsito da Secretaria Municipal de Trânsito Mobilidade e Transporte (SMT) deveria ter feito um planejamento do tráfego. “Não houve planejamento da engenharia para que houvesse o fechamento da Marginal Botafogo, mas essa realidade também é encontrada em outras vias. Ruas paralelas a essas avenidas tornam-se estranguladas”, diz. 

Refém do estrangulamento viário, o vendedor Marco Polo, 43, relatou que perde várias horas do seu dia dentro do carro no trânsito. Ele reclamou que falta organização e planejamento por parte dos órgãos responsáveis pela administração do trânsito na Capital. “Em determinados horários, sequer consigo andar direito”, queixa-se. “Casos de acidentes com as ruas cheias de carros em horários de picos acontecem aos montes, mas parece que isso não chama atenção das autoridades”. 

Em 2016, a empresa Alelo em parceira com o Ibope informou por meio de pesquisa que o tempo gasto para ir de casa para o trabalho em Goiânia é o segundo menor entre nove capitais que foram analisadas pelo estudo. Na capital goiana a distância percorrida é de 13,7 quilômetros, em média, sendo que o tempo gasto 31 minutos. Já no sul é de 13,6 percorridos em 29 minutos. Por outro lado, a média das outras capitais é de 40 minutos. Na ocasião foram ouvidas 2,5 mil pessoas, sendo 250 somente em Goiânia. 

Nacional

O mesmo gosto de motoristas pelos seus carros pode ser constatado no âmbito nacional. Somente de 2001 a 2012 a frota brasileira mais que dobrou, aumentando de 24 milhões para 50 milhões de veículos. A tendência da população por carros pode ser verificada por meio de uma pesquisa do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Em abril do ano passado o Brasil contava com mais de 94 milhões de carros, desde automóveis para passeio até tratores. Comparando com 2015, quase 50 milhões dessas unidades eram carros, de acordo com dados divulgados pelo IBGE. 

Em contrapartida, países como EUA, Austrália, Japão e Nova Zelândia tiveram seus governos alterando pontos na matriz de mobilidade, o que gerou dificuldade para a aquisição de automóveis e facilitou os sistemas coletivos e cicloviários. Cidades da América do Sul também passaram a aderir a medida que veio lá de fora. Em Bogotá, capital da Colômbia, o transporte coletivo é tido como referência mundial. Essa realidade também é encontrada em Montevidéu, no Uruguai. 

O perito em trânsito Antenor Pinheiro afirmou que não conseguiu encontrar o tráfego viário parado no País vizinho durante viagem recente por lá. “A Capital uruguaia é do tamanho de Goiânia, e lá não se encontra tantos carros espalhados pelas ruas como se vê por aqui. Isso que estou falando de um País mais pobre do que o nosso”, diz. De acordo com Pinheiro, a saída é investigar no transporte coletivo em detrimento ao particular. “O transporte particular é responsável pelo trânsito estagnado que temos em nossa Capital”, finaliza.  

Saída é investir em transporte coletivo, diz especialista 

O perito em trânsito Antenor Pinheiro afirmou ontem que é necessário investir em transporte coletivo para diminuir o estrangulamento viário encontrado nas principais vias de Goiânia. De acordo com ele, o transporte particular é um vilão à ideia de fluidez no trânsito. “A saída seria adotar modelo que priorizasse o coletivo em detrimento ao particular. Da forma como encontramos hoje, a tendência é somente ter aumento de carros e, como consequência disso, o trânsito torna-se travado”, explica. 

Do ponto de vista da organização, diz o especialista, é necessário que hajam gestores compromissados com a questão viária. “Você precisa de gestores mais ousados, que dificultem cada vez mais o uso do carro, fazendo com que as pessoas que usem o transporte particular migrem para o coletivo”, afirma. “Isso não é uma utopia, é um conceito, uma forma de enxergar o problema do carro que vem crescendo cada vez mais em nossa cidade, pois da forma como está, o problema só vem sendo empurrado para frente”. 

Colômbia

O transporte coletivo da maior cidade da Colômbia, Bogotá, tem uma coisa em comum com Goiânia: as duas cidades se inspiraram na estrutura utilizada em Curitiba, Capital do Paraná. Mas os resultados e as experiências obtidas não foram idênticas. Na capital goiana os veículos são alvos de reclamação por parte da população, que sofre com atrasos e falta de segurança. Já no País vizinho a situação é diferente. Ao contrário daqui os gestores lá tiveram sucesso e conseguiram pôr em prática um sistema que se tornou referência por sua tecnologia. 

Na Capital colombiana o sistema TransMilenio se baseia na ideia do Bus Rapid Transit (BRT), porém é composto também por um sistema cicloviário. O projeto é mantido pela prefeitura da cidade e cogita-se que 68% da população, de 8 milhões de habitantes, usem os ônibus e micro-ônibus para se mover pela cidade. No total 5,52 milhões de pessoas usam o transporte coletivo para se locomover. Carro é segundo plano entre os colombianos. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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