Perfil ‘exigente’ dificulta adoção

Juizado da Infância e Juventude explica que crianças com problemas de saúde podem ter mais dificuldade para conseguir família

Postado em: 23-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Juizado da Infância e Juventude explica que crianças com problemas de saúde podem ter mais dificuldade para conseguir família

Marcus Vinícius Beck*

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Em levantamento divulgado nesta semana, o Cadastro Nacional de Adoção (CNA) informou que o número de crianças e adolescentes disponíveis na fila de adoção atingiu 115 enquanto há 1.338 pretendentes habilitados em Goiás. No âmbito nacional a situação é parecida com a encontrada no Estado. A quantidade de pretendentes disponíveis, que chega a 40.484 , é bem maior do que o número de crianças e adolescentes que aguardam uma nova família, que atinge 4.800. 

O Juizado de Infância e Juventude afirmou que as crianças que possuem algum problema relacionado à saúde pode ter maiores dificuldades para encontrar uma família. “Atualmente, o CNA tem preferencialmente o perfil de uma a duas crianças de 0 a 3 anos de idade”, diz a responsável Edivânia Freitas. Dos números divulgados pelo CNA, há apenas 115 com idade entre 0 a 3 anos, tido alvo das famílias que procuram crianças para adotar em todo Brasil. 

Na contramão da tendência, a gestora executiva Sueli Batista Pereira, 53, e o marido, Otávio Pereira, adotaram uma criança que estava com mais de três anos. “Houve um encontro de almas entre eu, meu marido e o Lucas. Somos uma família muito feliz, Lucas está completamente feliz conosco”, relata. “Antes de as pessoas verem idade da criança é preciso que elas ouçam a linguagem do coração. Nenhum juiz no mundo seria capaz de decidir sobre o futuro do Lucas”.

Essa história começou no momento em que a gestora executiva percebeu que não poderia engravidar. Anos depois, uma prima de Sueli telefonou para o casal informando que conhecia uma mulher que tinha vontade de entregar um bebê recém-nascido para adoção. Então, a esposa e o marido pegaram a criança e ficaram com ela três dias. O pai biológico esboçava que iria permitir o processo de adoção somente se houvesse algum pagamento em dinheiro de parte de Sueli e seu marido a ele. Após o pedido, o casal escolheu por devolver a criança. 

A partir dessa experiência, Sueli e Otávio optaram por se inscrever no Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Ao procurar o juizado da Infância e da Juventude de Goiânia, deram início ao processo de adoção. Meses depois, logo que chegou do trabalho, a gestora executiva soube que alguém havia lhe telefonado da unidade jurídica. A assistente social comunicou que uma criança estava disponível para adoção e que ela estaria um pouco fora do perfil estabelecido pelo casal. 

“A gente tinha colocado de 0 a 3 anos, independente de cor, de sexo, só queria que fosse saudável”, diz a gestora. Depois da ligação, Sueli foi até o Juizado onde encontrou com Edivânia Freitas, diretora da Divisão Psicossocial do Juizado da Infância e Juventude (JIJ) de Goiânia. As duas conversaram e Edivânia explicou que teria de dar andamento no processo de adoção, e orientou que a gestora voltasse dali algumas semanas com sua marido para que ambos pudessem conhecer Lucas. 

De acordo com Sueli, tinha uma família para os ajudar, porém ela estava com medo de como ia ser. “Eu estava de costas e escutei ele chegando. Meu marido falou ‘ele é lindo’. Aí quando eu virei e o vi eu também disse que ele é lindo”. Em seguida, ela pediu um abraço para o menino. O abraço, diz ela, “matou tudo, eu sempre falei que quem iria escolher meu filho era o meu coração, não houve um segundo sequer de rejeição, foi um encontro de almas”. O casal continuou visitando Lucas por mais alguns dias. 

Namoro

Edivânia Freitas disse que aquele momento era o namoro e eles tinha de namorar, noivar e casar. De acordo com os pais, no terceiro dia de visita, Lucas já pediu para ir embora com eles. “Ele ficou chorando e eu, também. A psicóloga me disse que eu não podia chorar, então eu questionei o porquê e falei que o choro não desmerece a gente e que se ele viesse pra gente iria me ver chorando de alegria, raiva, emoção, por tudo, afinal ele vai ser parte da minha família”. 

A gestora executiva afirmou que machucou seu pé e teve de ficar uma semana sem visitar Lucas. Mas a assistente social do Juizado da Criança lhe informou que a guarda provisória do menino havia sido concedida ao casal. Logo que colocaram os pés para dentro de casa, todos os membros da família estavam à espera do novo membro. “Ele olhava tudo a sua volta, passava a mão, parecida que ele não estava acreditando. Então eu falei para ele: agora você tem um papai, você tem uma mamãe”, conta. 

Mesmo tendo pouco mais de três anos, Lucas falava com todos os amigos e familiares, abraçando todos. “Não tem um dia sequer que ele não fala que me ama. Não tem um dia que ele não olhe e não me diga ‘você é linda, você é cheirosa’. Ele tem uma ligação muito forte com o pai também”, destaca Sueli. Lucas compreende toda sua história, e nem por isso deixa de sentir orgulho da família que o adotou. Para o casal, o menino veio ocupar um espaço que estava reservado a ele.  

Interessados devem agendar entrevista com do Juizado 

Os interessados em se cadastrar para adoção que residam em Goiânia devem agendar entrevista com a equipe profissional do Juizado da Infância e Juventude de Goiânia pelo telefone (62) 3236-2714/ 3236-2700. A família também pode comparecer pessoalmente na Rua T-47 com a Rua T 30, n°669, no Setor Bueno. Nesta entrevista, os candidatos vão ser orientados acerca da documentação necessária e sobre a tramitação processual para dar andamento ao processo de adoção. 

Uma vez que os documentos necessários sejam providenciados, os interessados devem formalizar o processo de inscrição para adoção, entregando a documentação no protocolo e assinando um requerimento. O próximo passo vai ser a entrevista com a equipe profissional do JIJ. Nesta etapa, uma ficha de pré-inscrição será preenchida para a Preparação Psicossocial. Em seguida, vão receber visita do Juizado em que são constatado as condições de moradia. “Nosso objetivo é promover o encontro entre famílias e crianças/adolescentes, que sejam plenos de amor e sucesso, multiplicando a cultura da adoção na nossa sociedade, por meio de laços de efeito pertencimento”, frisa Edivânia. 

À margem

O Juizado de Infância e Juventude é alvo de críticas por conta da burocracia. Os trâmites judiciais são lentos demais e muitas vezes uma criança é adotada tarde de demais, quando já estão fora dos perfis procurados pelos candidatos do País. Até que a tão sonhada procura ocorra, as cerca de 4 mil crianças, de acordo com dados do ano passado do Juizado, vão vivendo em abrigos, enquanto famílias esperam anos pela chance de adoção.  (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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