Gerenciamento de UTIs é investigado

Autoridades suspeitam que pacientes estavam sendo escolhidos de acordo com quadro e rentabilidade econômica

Postado em: 24-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Autoridades suspeitam que pacientes estavam sendo escolhidos de acordo com quadro e rentabilidade econômica

Gabriel Araújo*


O Ministério Público de Goiás (MP-GO) abriu um inquérito para apurar as denúncias de preenchimento de vagas indevidas nos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de Goiânia. A investigação parte de informações de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) iniciada pela Câmara Municipal da Capital.

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Foi apontado no relatório da Câmara Municipal que prestadores de serviço escolhiam pacientes por quadro clínico e maior rentabilidade. De acordo com a promotora Leila Maria de Oliveira, titular da 50ª Promotoria de Justiça da capital e responsável pela instauração do inquérito civil público na última quinta-feira (22), existe a possibilidade de fraude no gerenciamento das vagas de UTI e, em razão disso, é preciso abrir uma investigação.

O vereador Elias Vaz (PSB) afirmou que a escolha dos pacientes era baseada em lucro. “Os pacientes que provavelmente poderiam dar mais despesa, reduzindo o lucro desses proprietários de UTIs, eles não tinham essa vaga disponibilizada. Por exemplo, os idosos dificilmente conseguiam um leito”, afirma.

De acordo com o Governo Federal, os leitos cadastrados no Sistema Único de Saúde (SUS) e no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) devem estar à disposição da Prefeitura 24 horas por dia. Existe ainda um Regimento Interno da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que afirma que compete ao Departamento de Regulação, Avaliação, Controle e Auditoria criar e acompanhar os fluxos de serviços e atendimentos de saúde, o que pode não estar sendo feito.

Em nota a Secretaria de Estado da Saúde (SES) afirmou que apoia a ação do Ministério Público. “A Secretaria de Estado da Saúde considera positiva a ação do Ministério Público para investigação de leitos de UTI na rede pública e privada, conveniada ao SUS em Goiás. O MP-GO é um elemento importante na garantia e salvaguarda dos direitos constitucionais e a SES como sempre fez, estará à disposição para quaisquer esclarecimentos que forem necessários nesse processo” pontuou.


Números

O relatório apresentado pelos vereadores da Capital afirma que quatro em cada 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ficaram desocupados na Capital no período de agosto de 2016 e julho de 2017. O relatório ainda constatou as taxas de ocupações nas UTI’s dos principais Hospitais de Goiânia. O Hospital de Doenças Tropicais (HDT) estava com 70% dos leitos desocupados. O Hospital Santa Genoveva, 67%, enquanto o Hospital Santa Bárbara contava com 61% de desocupação e o Hospital Geral de Goiânia (HGG), 44%.

A Secretaria de Estado da Saúde (SES) ainda afirmou que realizou um levantamento de ocupação dos leitos de UTI em todo o Estado. De acordo com o estudo, no período de janeiro de 2017 a fevereiro de 2018, os hospitais de Goiás contavam com os seguintes números. O Hospital de Urgências Dr. Henrique Santillo (Huana) contava com 96,41% de ocupação. O Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER), 87,83%. O HGG, 83,87%. O Hospital Materno Infantil (HMI), 72,23%. O Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (HUAPA), 97,44%. O Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), 91,71%. O Hospital de Doenças Tropicais (HDT), 97,27%. O Hugol 96,25% e o Hospital de Urgência da Região Sudoeste (Hurso) 90,5%.


Determinação

Na última quinta-feira (22) o juiz José Proto de Olievira, da ª Vara da Fazenda Pública Municipal da comarca de Goiânia determinou que uma paciente desse início ao tratamento em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) de Goiânia.

Na determinação, o juiz observou que Márcia Silveira da Silva Souza sofre com um quadro de anemia profunda e aguardava um leito desde o dia 19 deste mês no Centro de Atenção Integrada à Saúde (CAS) do bairro Cândida de Morais.

O magistrado ainda estabeleceu que o município, caso não consiga liberar uma vaga, deve arcar com o tratamento da paciente em um hospital particular. Em caso de descumprimento do determinado, o município será multado na quantia de R$ 10 mil por dia de descumprimento. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian). 

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