Os riscos da automedicação

Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 50% da população mundial utiliza medicamentos de forma incorreta

Postado em: 24-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 50% da população mundial utiliza medicamentos de forma incorreta

Gabriel Araújo*


O Brasil é recordista em automedicação. Pesquisa do Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade (ICTQ) apontou que 76,4% da população brasileira já utilizou medicamentos sem a prescrição médica. O estudo, realizado em 2014, identificou que a população com ensino superior completo é a responsável pelos maiores índices de automedicação, com 84,8%, e que 90% jovens de até 25 anos utilizam, ou já utilizaram, medicamentos sem acompanhamento por profissionais de saúde.

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Segundo o Conselho Federal de Farmácia, os medicamentos são o principal agente causador de intoxicação humana no país desde 1994. De acordo com pesquisa do Ministério da Saúde, a automedicação levou para o hospital mais de 60 mil pessoas de 2010 a 2015.

De acordo com a farmacêutica Lídia Cristina Alves o uso de medicação sem prescrição médica pode chegar a ser fatal. “O principal risco na utilização de medicamentos sem o acompanhamento médico é mascarar doenças graves, uma dor de começa pode ser até um problema de hipertenção”, afirmou.

Lídia ainda lembra que o melhor caminho para diminuir os altos índices de automedicação no país é o investimento em saúde e em meios de conscientização da população, para mostrar que existem riscos. “Como a saúde pública não é atrativa para a população, essas pessoas começam a se medicar sozinhas para não precisar seguir para as unidades de saúde”, disse.

O estudante de música Bruno Gonçalves, de 20 anos, afirmou que evita utilizar medicamentos constantemente, mas em momentos em que não está se sentindo bem e precisa de uma solução rápida, faz o uso de remédios sem prescrição. “Eu busco não tomar medicamentos fortes. Acontece de tomar alguns que foram receitados há algum tempo, como os de asma. Já tomei para o estômago e para febre, mas só em casos que realmente me sinto mal. Semana passada eu tomei um remédio para rinite duas vezes, não chego a tomar uma terceira, prefiro ir ao médico”, contou.

Em nota, o Ministério da Saúde reafirmou os riscos que o consumo de medicamentos sem o acompanhamento médico pode levar ao paciente. “O uso desses insumos de forma incorreta pode acarretar no agravamento de uma doença, uma vez que sua utilização inadequada pode esconder determinados sintomas”, completou a nota.

Segundo o Ministério, em 2013 foi criado o Comitê Nacional para promoção do Uso Racional de Medicamentos, que busca orientar e propor ações, estratégias e atividades para a promoção do uso racional de medicamentos no âmbito da Política Nacional de Promoção da Saúde.

O órgão ainda reforçou a atenção quanto ao uso de antibióticos, já que “o uso abusivo destes produtos pode facilitar o aumento da resistência de micro-organismos, o que compromete a eficácia dos tratamentos”. O ministério finalizou a nota afirmando que todo medicamento possui riscos, que são os chamados efeitos colaterais.


Anvisa

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) iniciou em 2008 uma campanha para informar a população sobre os riscos de se automedicar. No projeto, chamado de “A informação é o melhor remédio”, o órgão criou vídeos curtos para esclarecer dúvidas sobre os problemas causados pela automedicação, pelo uso indiscriminado de medicamentos e pela influência publicitária no consumo de produtos farmacêuticos.

De acordo com o órgão, a campanha contou com uma parceria do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde (DAF/MS) e da organização não governamental Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip), do Rio de Janeiro, e foram produzidos vídeos com informações do médico Dráuzio Varella e da farmacêutica Maria Eugênia Cury. A Anvisa ainda informou que as campanhas informativas são de responsabilidade dos órgãos estaduais e municipais, sendo orientado projetos referentes a cada região.

O órgão ainda lembra que a utilização de medicamentos sem receita médica pode levar a graves problemas de saúde. “Quando alguém tem um problema de saúde o remédio é prescrito para o caso dessa pessoa. A dose recomendada é para o tipo de problema que ela tem. Por isso, a dose dos medicamentos devem ser personalizadas. Uma pessoa não deve tomar o remédio recomendado para outra pessoa. A automedicação é muito perigosa”, informou.


Dados Nacionais

A automedicação é praticada por 76,4% da população brasileira. Os dados são de pesquisa realizada pelo Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade (ICTQ) em 2014. De acordo com a pesquisa, a dor de cabeça é a principal razão que leva à automedicação e 32% tem o hábito de aumentar a dosagem de medicamentos.

Segundo os pesquisadores do ICTQ, os jovens são os que mais utilizam medicamentos sem prescrição médica, cerca de 90%, seguido por adultos de 25 a 40 anos, com 77,5%. Os idosos, com 56 anos ou mais são os que menos se automedicam, com 51,8%. A pesquisa ainda informou que a população com ensino superior completo é a com maiores índices de automedicação, com 84,8%.

A pesquisa ainda apontou que mais da metade da população tem o hábito de carregar medicamentos e que 70% recomendam o uso para outras pessoas.


Tipos

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) os medicamentos fitoterápicos são aqueles produzidos a partir de derivados de vegetais, como as plantas medicinais. O processo de industrialização evita contaminações por micro-organismos, agrotóxicos e substâncias estranhas, além de padronizar a quantidade e a forma certa que deve ser usada, permitindo uma maior segurança de uso.

Os medicamentos alopáticos são mais comercializados no mundo. São produzidos a partir de substâncias processadas, ou seja, que já passaram por um processo de extração, purificação e síntese. Esses medicamentos são produzidos em larga escala pelas indústrias farmacêuticas, em doses pré-determinadas e se caracterizam pelo tratamento que traz um efeito contrário ao do sintoma em si. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian). 


Box Medicamentos e seus efeitos colaterais: 

Obs. O objetivo do box é mostrar os possíveis efeitos colaterais da utilização destes medicamentos. 

1. Paracetamol: O Paracetamol contém uma substância toxica conhecida como NAPQI que é eliminada pelo fígado, mas a partir de 4 gramas por dia ou 1 g de uma vez só, o fígado pode não dar conta e sofrer lesões irreversíveis, o que leva à falência do órgão.

2. Dipirona: Uma dose exagerada de Dipirona pode causar uma queda na quantidade de células no sangue e até choque anafilático e morte.

3. Aspirina: O uso descontrolado da Aspirina pode levar ao aumento da acidez do sangue e a uma queda da glicose, causando choque cardiovascular e insuficiência respiratória.

4. Amoxilina: A utilização desordenada de Amoxilina pode levar a proliferação de bactérias resistentes a antibióticos, o que dificulta o tratamento e pode levar à morte. 

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