Demanda por crédito cresceu 7% em 2022

Apesar do desempenho negativo no segundo semestre, alta na primeira metade do ano compensou perdas

Postado em: 31-01-2023 às 08h30
Por: Vinicius Marques
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Apesar do desempenho negativo no segundo semestre, alta na primeira metade do ano compensou perdas. | Foto: Reprodução

A demanda por crédito no Brasil cresceu 7% no acumulado do ano passado. O incremento da busca por financiamentos foi concentrado nos seis primeiros meses do ano, que registraram ganho de 24% em relação ao mesmo período de 2021. Já entre julho e dezembro, houve uma queda de -7%, com quase todos os meses registrando desempenho negativo, exceto novembro. Os dados são do Índice Neurotech de Demanda por Crédito (INDC), indicador que mede mensalmente o número de solicitações de financiamentos nos segmentos de varejo, bancos e serviços.

“Em 2022, tivemos inicialmente um aquecimento do mercado, mas que veio acompanhado do crescimento forte da inadimplência. Este movimento fez com que as instituições financeiras colocassem o pé no freio na oferta de crédito. As campanhas de marketing foram reduzidas assim como houve uma maior seletividade dos canais de distribuição. Tudo isso provocou o desempenho negativo do INDC na segunda metade do ano”, explica Breno Costa, diretor da Neurotech.

Por segmento, o maior crescimento no ano foi do setor de serviços, que registrou alta de 11%. O varejo aumentou 10% e os bancos 5%. No mês, enquanto varejo e financeiro subiram mais de 30% em relação a novembro, a demanda dos serviços recuou 19%. Segundo Costa, a recuperação no varejo já era esperada por conta das vendas de fim de ano, que fomentam a busca por financiamento.

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“O final de ano é sempre mais aquecido para as concessoras de crédito, principalmente quando falamos em comércio. Há o incremento das vendas provocado pelo Natal e da renda com o pagamento do 13º e férias que são utilizados por muitas famílias para quitar dívidas ou ampliar o consumo”, diz.

No varejo, o ranking por segmento no acumulado do ano ficou assim: supermercados (+26%); lojas de departamentos (+21%); vestuário (+17%). Acumularam queda no ano: outros (-30%); moveleiro (-15%) e eletroeletrônicos (-4%).

Na visão de Costa, o cenário de maior cautela com relação à oferta de crédito deve se manter neste ano. “As pessoas querem consumir. No entanto, há o elevado endividamento e comprometimento da renda, o que faz as concessoras terem um cuidado adicional ao ofertar crédito, ainda mais diante do forte aumento da inadimplência e do cenário incerto para 2023, provocado pela mudança de política econômica”, complementa.

Famílias mais endividadas

Dados do Banco Central apontam que até novembro de 2022, o endividamento das famílias brasileiras com operações de créditos chegou a 49,5%. O número representa uma alta de 0,3% em um ano. 

O relatório do BC inclui pessoas com dívidas em carnê de lojas, crédito consignado, empréstimo e financiamento de carro ou imóvel. Com esse nível de endividamento, o comprometimento da renda familiar com instituições financeiras ficou em 28,2% no período.

O estudo aponta que a taxa de juros no crédito livre e o nível de inadimplência também cresceram no ano passado. A taxa média de juros, cobrada pelos bancos em suas operações com pessoas físicas e com empresas, registrou alta de 8,2 pontos percentuais em 2022. Até dezembro, o incremento foi de 42%.

Quando são consideradas as operações com pessoas físicas, o indicador alcançou 55,8% no ano, elevação de 10,8%. O destaque, neste cenário, é o aumento dos juros no crédito pessoal consignado, em 5,1 pontos percentuais.

A taxa de inadimplência, por sua vez, encerrou o ano passado com elevação de 4,2%, 1,1% em relação ao fim de 2021. Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, diz que além do “crédito caro, com alta nos juros, a inflação persistente nos últimos dois anos também contribuiu para o cenário de maior endividamento das famílias.

“Entre 2021 e 2022 tivemos alta muito forte de preços, principalmente com alimentos e combustíveis, e tudo isso não coube dentro do orçamento das famílias. O salário não acompanhou esse aumento expressivo”, avalia. Em 2021, a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fechou o ano com aumento de 10,06%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).Ao longo do ano passado, o pico foi de 12,13% em abril, maior elevação acumulada em 12 meses, desde outubro de 2003. Em agosto, o aumento geral dos preços saiu dos dois dígitos e, até o fim do ano, ficou em 5,79%.

Mulheres são as mais endividadas

Levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta que o perfil da pessoa endividada é mulher, com menos de 35 anos e ensino médio incompleto, moradora das regiões Sul ou Sudeste, com rendimento familiar de até 10 salários mínimos.

Também segundo a CNC, o perfil do inadimplente corresponde a uma pessoa com quase as mesmas características: mulher com ensino médio incompleto. Entretanto, neste caso, a pessoa tem mais de 35 anos, na faixa menor de renda e moradora do Norte ou Nordeste.

O levantamento mostrou que, entre os inadimplentes, 43% atrasaram as dívidas por mais de três meses e 10,7% afirmaram que não terão como quitar os débitos. O número dobrou em relação a 2014, quando foi atingido o menor nível da série.

Entre as famílias de renda menor, 32,3% não têm condições de pagar os atrasados, enquanto entre as que recebem salários maiores, esse índice fechou o ano em 13,3%.

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