Barato, PF agrada bolsos e paladares

Sustância do prato feito é unanimidade entre adeptos. Refeição volta a integrar cardápio de restaurantes

Postado em: 02-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Sustância do prato feito é unanimidade entre adeptos. Refeição volta a integrar cardápio de restaurantes

Marcus Vinícius Beck*

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A comerciante Lúcia Gomes, 55 anos, proprietária de um restaurante na Avenida Cora Coralina, no Setor Sul, próximo ao Palácio Pedro Ludovico, conta que dependendo do dia chega a montar 60 pratos executivos. “Por conta do preço, todo mundo deseja comer o tal prato executivo que faço”, diz Lúcia, que cobra R$ 10 pela refeição, sem suco, tampouco refrigerante de acompanhamento. 

A essa altura o restaurante de Lúcia Gomes está começando a ficar cheio. Assíduos, alguns clientes vão chegando e cumprimentando a proprietária do estabelecimento, que retribui a gentileza e avisa suas assistentes para levar o prato à mesa que o cliente se sentar. Momentos depois dois policiais militares pedem o mesmo prato feito e ficam aguardando na porta do restaurante a comida ficar pronta, o que não leva mais de cinco minutos se o estabelecimento estiver vazio e mais de dez se o movimento na casa estiver alto. 

Durante o tempo em que a nossa equipe ficou no restaurante, mais de dez pessoas entram pedindo para Lúcia montar seu tradicional PF. O fotógrafo José Gabriel Tramontim, 26, relatou que o prato feito lhe ajuda a encarar as atividades do cotidiano. “Além da relação custo benefício, o PF sustenta bastante”, afirma. De acordo com ele, quando se há pouco dinheiro na carteira, a escolha mais sensata é optar pelo prato feito, cujo preço em restaurantes populares chega a ser cerca de R$ 2. “Vale a pena”.

Dói menos

Arroz, feijão, bife e batata frita. Essa combinação imbatível para o paladar dos brasileiros, chamado de prato feito, começou a doer menos no bolso da população. Segundo levantamento feito em setembro do ano passado pelo economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), esses quatro alimentos, juntos a outros sete que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), compõem o PF tiveram queda média de 3,9% nos últimos doze meses. 

Ao contrário do comportamento histórico de vários brasileiros, constado na pesquisa do IPCA, Braz disse que na maior dispersão de variações há uma queda generalizada de preços entre 11 itens que integram o prato feito. O resultado da pesquisa pode ser explicado pelo baixo aumento do preço da carne, de 1,47%, no mesmo período. Já o valor do feijão-carioca, bastante consumido em algumas regiões do Brasil, parte essencial do PF, despencou 56,47% e o feijão-preto caiu 31,08%. 

Outro item que registrou queda expressiva foi a batata-inglesa (-48,58%), também considerada um alimento crucial em muitas mesas Brasil a fora. Por outro lado, o arroz teve redução de 5,93%. Os itens que apresentam aumento acima da média foram a cebola (28,93%), ovos (3,66%) e farinha de mandioca (3,58%). No frigir dos ovos, o preço médio por um prato do PF gira em torno de R$ 7 a R$ 17, sendo a opção mais econômica de quem sai cedo de casa e volta no final do dia. Assim, o valor médio encontrado em vários locais da Capital fica na casa dos R$ 10. 

Sustância

Além de ser proprietária de um restaurante na região Central de Goiânia, a comerciante Lúcia Gomes, 55, não perde a chance de saborear seu próprio prato feito. Ela, que fica contando os valores do caixa até por volta de 15h todos os dias, disse que apenas um prato a deixa saciada. “Ele (o prato) é bastante nutritivo, e eu após comê-lo volto a ter fome apenas na hora da janta”, diz. A comerciante também relatou que, mesmo com muitos vendo o prato com certa desconfiança, o PF é sinônimo de “estomago cheio”. “É bom isso”, frisa. 

Mas nem todos são unânimes em dizer que o PF é bom. O estudante universitário Vinicius Silva Martins, 26, não gosta de comer só o prato feito. Crítico da culinária comercial, ele disse que sempre procura se alimentar em sua casa onde ele mesmo prepara sua comida. “Não há comparação com a refeição feita na rua e aquela que produzimos em casa”, diz. O estudante afirmou que chegou a passar mal por conta do tempero forte que é encontrado em muitos PF´s. “Passo mal mesmo”, finaliza.  

Fazer refeições fora de casa vem sendo cada vez mais comum  

O hábito de se alimentar fora de casa tem sido cada vez mais comum no dia a dia dos goianienses. Típico das grandes cidades, a variedade de refeições, lanches, petiscos e culinárias agradam todos os tipos de paladares, inclusive dos empreendedores que atuam nessa área e enxergam variadas oportunidades para expandir seus negócios nesse segmento. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o brasileiro gasta cerca de 25% de sua renda com alimentação fora do lar. 

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) estima que o setor represente, hoje em dia, 2,7% do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB). Por sua vez, a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (ABIA) destacou que o setor tem crescido a uma média anual de 14,2%. Mesmo com a crise econômica ter sido responsável pela diminuição o poder de compra da maioria dos brasileiros, alguns não abrem mão de se alimentarem fora de suas casas. Para se ter uma ideia, a indústria Food Service faturou no ano de 2012 R$ 242.8 bilhões. 

Segundo estudo da ABIA, a falta de tempo e a vida moderna fazem com que 34% do que os brasileiros gastam com alimentação, seja com o foodservice, em padarias, lanchonetes e até mesmo com vendedores ambulantes e refeições prontas congeladas. O estudo ainda identificou que quanto maior a força de trabalho, maior é a incidência das pessoas se alimentando fora do lar. No caso brasileiro, são aqueles entre 18 e 49 anos, que representam 56% da população, com gasto médio de R$ 13, que mais buscam restaurantes para fazer refeições.

Petisco prático

Outro alimento bastante procurado pela população é o hambúrguer. Diferente do que muitos pensam, o famoso ‘sanduba’ possui hoje em dia status de prato gourmet. E, neste sentido, seu preparo não está totalmente imune às diversas formas de prepará-lo. Proprietário de uma sanduicheria em frente ao Parque Cascavel, no Setor Jardim Atlântico, na região sul de Goiânia, o chef Allan Cassimiro explicou que várias coisas podem incrementar o sanduíche. “No ‘sanduba’ vai um hambúrguer de fraldinha, mussarela de búfala, avelãs e castanhas do Pará, tomate cereja, alface e um toque de azeite de baunilha”, conta o chef. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Cryshtian) 

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