Crescimento desenfreado de Goiânia compromete áreas verdes e animais que vivem nos parques

Para os seres humanos, situações como furto de alimentos, sacolas e até algumas mordidas mordidas; para os animais, há o risco de doenças ou comorbidades

Postado em: 16-02-2023 às 07h30
Por: Everton Antunes
Imagem Ilustrando a Notícia: Crescimento desenfreado de Goiânia compromete áreas verdes e animais que vivem nos parques
Para os seres humanos, situações como furto de alimentos, sacolas e até algumas mordidas mordidas; para os animais, há o risco de doenças ou comorbidades. | Foto: Raphael Bezerra

Ao navegar pelo site da prefeitura, é possível encontrar um texto intitulado por “Goiânia: Capital Verde do Brasil”, que enfatiza o título do município “com maior área verde por habitante” – cerca de 94m². No entanto, Erika Kneib, professora e pesquisadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFG, diz que “se esta pesquisa fosse atualizada, Goiânia não teria mais esse título, infelizmente”.

Para Kneib, “vê-se, dia a dia, áreas verdes sendo suprimidas da paisagem urbana, assim como vemos a retirada “impiedosa” de árvores de grande porte. A pesquisadora ressalta que a remoção das árvores na capital visa ampliar as vias públicas, o que pode “piorar a questão ambiental e a qualidade de vida”.

Entre os diversos problemas observados na região metropolitana, especialistas chamam a atenção sobre a necessidade de aliar o crescimento urbano à sustentabilidade, a fim de sanar problemas recorrentes, como os alagamentos. No cotidiano, frequentadores dos parques e bosques goianienses apontam para a omissão do poder público com os macacos-pregos que habitam a cidade.

Continua após a publicidade

Plano Diretor

Definida pelos artigos 39º e 40º da Lei Nº 10.257/2001 – isto é, o Estatuto da Cidade –, o plano diretor “é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”. Essa ferramenta prevê a execução do planejamento urbano de modo a conciliar interesses sociais, ambientais e econômicos.

Contudo, em fevereiro do ano passado, mesmo em desacordo com a opinião de alguns setores da sociedade, o novo Plano Diretor de Goiânia foi aprovado por 25 votos favoráveis e 6 contrários. “Na época da tramitação do projeto de lei, [o Plano Diretor] não foi devidamente discutido com a coletividade, conforme prevê o Estatuto da Cidade”, alega o advogado Camilo Rodovalho.

Erika alega que, do ponto de vista ambiental, “o plano está aquém do necessário, fragilizando áreas que deveriam ser conservadas, como a Região Norte, e também não é enfático o suficiente quando se fala de águas e da questão climática”. A pesquisadora acrescenta que as chuvas torrenciais – aquelas que geram fortes tempestades – e épocas de seca mais intensas podem tornar-se comuns.

A especialista em planejamento urbano Isabel Barêa preconiza que o atual Plano Diretor “não tem medidas de reversão do excesso de áreas impermeabilizadas, nem propostas integradas de preservação das áreas verdes”. Segundo ela, esse documento “não pode tratar apenas da continuidade de ocupação da cidade por construções, mas precisa identificar também áreas que precisam ser preservadas”.

“Caos Urbano”

“A cidade está cada dia mais impermeável. Isso significa que o solo urbano está cada vez mais pavimentado e construído”, orienta Isabel. A especialista atesta que os estragos da chuva são consequência do terreno revestido por construções e vias públicas: “quando encontra o solo impermeabilizado, a água da chuva escorre, formando enxurradas e alagando as diversas regiões da cidade”.

Segundo a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), Goiânia possui mais de 1,9 milhão de metros quadrados em áreas verdes – divididas em 219 parques, bosques e áreas públicas. No entanto, a professora da UFG, observa que “os parques urbanos ainda estão concentrados. Se pegarmos alguns bairros, principalmente os periféricos, vemos que não há equidade na distribuição”.    

Erika também sinaliza que áreas pavimentadas e em desuso poderiam ser vertidas para propósitos de interesse sócio-ambiental. “Um bom exemplo é a área do estacionamento do Estádio Serra Dourada, uma área pública, mas subutilizada e impermeável, que prejudica a cidade”, adiciona.

Em paralelo a essa visão, Isabel orienta que é necessário ocupar lotes e áreas vazias da cidade, a fim de frear o avanço urbano sobre as áreas rurais que restam no município. Além do planejamento, “existem diversas políticas públicas para tentar reverter a situação caótica da cidade. Que tal conceder um bom desconto ou isentar do IPTU o lote que recolher água da chuva em casa?”, sugere.    

Fauna Goianiense

A prefeitura deixa muito a desejar nessa questão de alimentação para os macacos. Inclusive, ontem, aqui no meu estabelecimento, uma menininha foi mordida por um macaco”, relata o vendedor de coco Gilber Euzébio. Há 28 anos no Parque Areião, ele comenta que é comum os frequentadores do parque alimentarem os macacos, uma vez que se assume que não há comida suficiente para os bichos.

Por outro lado, a AMMA informou, em nota, que “a mata dos parques promove alimentação natural para os animais, o que garante a sobrevivência e bem-estar, sem a necessidade de intervenção humana”. Eron Ferreira, educador ambiental da AMMA declarou que é feito o acompanhamento dos primatas no Parque Areião e reforça que os animais não devem receber alimento dos visitantes.  

O professor de Ecologia da UFG, Fausto Nomura, diz que o macaco-prego é um primata muito inteligente e é comum encontrá-lo nos bosques da capital. De acordo com o docente, esses animais “podem exibir comportamentos de ameaça e intimidação, mas relatos de ataques são relativamente raros”. 

Nomura ainda frisa que não há dados sobre a capacidade dos bosques em alimentar esses animais e “é provável que o tamanho populacional dos macacos-pregos se mantenha por oferta da comida obtida pelos visitantes e vendedores”. O professor afirma que “o ideal seria que os responsáveis pelos parques, juntamente com o poder público, pensassem em um plano de manejo para os macacos-pregos”.

Veja Também