Sem arborização, clima sobe

Na Avenida Igualdade, em Aparecida de Goiânia, não há plantas ou árvores. População diz que calor é insuportável na cidade

Postado em: 07-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Na Avenida Igualdade, em Aparecida de Goiânia, não há plantas ou árvores. População diz que calor é insuportável na cidade

Marcus Vinícius Beck*

O município de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da Capital, sofre por conta do calor provocado pela inexistência de áreas verdes nas vias públicas. Sufocada pelo clima quente, a população que mora e trabalha no município reclama da falta de estímulo ao reflorestamento por parte do Poder Público. Em meio às queixas dos habitantes, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) disse ao O Hoje que a prioridade dos gestores de nos próximos anos será promover campanhas que tragam mudas de plantas a vários pontos da cidade. 

A reportagem esteve durante a última semana na Avenida Igualdade, no Setor Garavelo, e constatou que os moradores sofrem para se deslocar de um ponto a outro da via. Muitos deles deixam visíveis as gotas de suor que escorrem da testa ao pescoço na jornada. Outros aproveitaram para usar guardas-chuvas e dispensavam andar rápido pela rua para não chegar em seus compromissos com sinais de suor à face. Essas situações tornaram-se marcas registradas do município durante o horário comercial. 

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Morador do bairro há 20 anos, o carpinteiro Adonias Ribeiro da Silva, 68, disse que nunca houve nenhuma planta ou árvore na região. Assim, diz ele, é praticamente impossível não andar na rua “sem se derreter” por conta do calor. “Por causa desse concreto todo que nos cercam, não há como não sentir calor, pois a jogada da prefeitura é sempre fechar os olhos para o problema das flores”, afirma. “Uma árvore aqui e outro ali viriam à calhar”. 

A mesma reclamação é compartilhada pelo jornalista Raimundo Amorim Ferreira, 54. Proprietário de uma empresa de comunicação visual, ele disse que, ao subir escadas para criar fachadas de lojas, sente vertigem. “Isso é efeito do calor, mas parece que nossas autoridades não querem ver os benefícios que a natureza traz para os ser humano”, afirma. Para ele, que mora há pouco tempo na região, mas conhece bem Aparecida de Goiânia, o descaso com o reflorestamento é uma realidade da cidade. “Sempre foi assim. Precisamos de políticas públicas”.

Sem pesquisa

Fundada em 1922, praticamente irmã da vizinha Goiânia, Aparecida vai à contramão do que é visto na Capital. Elogiada por órgãos internacionais, Goiânia está com 89,5% de seu espaço urbanizado. Já em Aparecida não existe nenhuma pesquisa nesse sentido. O titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Sem), Ezídio Barbosa, disse que a gestão do ex-prefeito Maguito Vilela optou por pavimentar várias ruas de Aparecida, o que acabou gerando desestímulo nas campanhas de arborização. 

Barbosa esclareceu que a política em Aparecida era asfaltar, e nunca plantar. “Na realidade, foi implantado muito asfalto e poucas árvores”, diz. Desde o ano passado, o secretário disse ainda que 4 mil árvores forma plantadas nas avenidas principais. “Aparecida, na realidade, está tendo uma urbanização controlada agora. Estamos arborizando a partir do ano passado. Temos um pré-projeto para anexar ao plano diretor à questão da arborização na cidade de Aparecida. O projeto já foi encaminhado para o prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha”, afirma Barbosa.

A professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Lúcia Monteiro, contradiz a afirmação do titular da Semma. De acordo com ela, o principal motivo que dispensou a questão verde na cidade foram os seguidos loteamentos que tiveram investimentos dos outros prefeitos que assumiram a prefeitura. “Ao contrário do que diz o secretário, as campanhas de asfaltamento não foram tão intensas assim. Em função disso, o principal empecilho às campanhas de reflorestamento se deram no âmbito do loteamento”, explica a professora.

Campanha

No início do ano, moradores de Aparecida de Goiânia receberam um incentivo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), que doou cerca de dez mudas, plantas e árvores. Na ocasião, o secretário Ezídio Barbosa disse que as contrapartidas podem virar empreendimentos empresariais e industriais. De acordo com o titular da pasta, foram utilizados mais de 12 mil mudas só na segunda edição do programa de reflorestamento. 

A iniciativa foi a primeira de Barbosa à frente da Semma. Teremos uma adesão maciça da população a esse projeto de doação das mudas, o que já é fruto de uma maior conscientização sobre a importância do meio ambiente na nossa cidade”, destacou 

ONU coloca Goiânia como exemplo de cidade arborizada 

Um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), de 2012, colocou Goiânia como uma das cidades mais arborizadas do mundo. Em janeiro, O Hoje mostrou que a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) desenvolveu um projeto no sentido de tornar a cidade mais colorida. A intenção era deixar determinados pontos da cidade, como hotéis e lugares turísticos, floridos. A iniciativa começou na região norte da Capital, mas logo em seguida foi expandido para outros pontos.

Na Capital goianiense, há mais de 900 mil árvores, de 380 espécies. Além dos coloridos ipês (roxo, rosa, amarelo e branco), é comum de se encontrar os flamboyants, as grandes palmeiras imperiais e as sobreiras das sete-copas, bem como tipos que são vistos apenas no Cerrado brasileiro. E todas as espécies enfeitam a cidade. Mas outras cidades brasileiras carregam títulos nada interessantes. 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também condecorou Goiânia com um título. Desta vez, a cidade recebeu o status de mais árvores do País entre as cidades que possuem mais de 1 milhão de habitantes. De acordo com dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiânia possui 89,5% de arborização. No âmbito mundial, o município perde apenas para Edmonton, no Canadá, que atingiu à marca de concentração de 100 metros quadrados de árvore por habitante. 

Cobertura verde

O Laboratório Senseable City, do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), com o auxílio do Google Street View, calculou a cobertura verde de 23 cidades do mundo. Na ocasião, o único município brasileiro analisado foi São Paulo, que ficou na terceira pior posição, perdendo para Quito, no Equador, e Paris, na França. Os organizadores informaram que a intenção do projeto não era criar uma espécie de “olimpíada verde”, mas fomentar reflexões acerca de práticas ambientais. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Chysthian) 

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