Ciclismo em Goiânia, lazer ou modal necessário?

Pesquisa revela que a capital é a 4ª cidade do Brasil com maior número de bicicletas, mas esta demanda ainda enfrenta muitos desafios.

Postado em: 01-03-2023 às 07h30
Por: Anna Letícia Azevedo
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Pesquisa revela que a capital é a 4ª cidade do Brasil com maior número de bicicletas, mas esta demanda ainda enfrenta muitos desafios. | Foto: Anna Letícia / O Hoje

Apesar da alta adesão pelo ciclismo tanto como meio de transporte principal, quanto recreativo em Goiânia, a cidade que tem apenas 33 km de ciclovias ainda deixa muito a desejar em infraestrutura oferecida para esta prática. Nesse sentido, as principais reclamações são em relação à manutenção das ciclovias existentes, a falta de interligação entre elas e a omissão por parte de motoristas que utilizam as faixas destinadas a ciclistas.

De acordo com Glaucia Pereira, especialista em mobilidade urbana e fundadora da Multiplicidade Mobilidade Urbana, uma pesquisa realizada em cidades brasileiras criou um ranking com os municípios com maior número de bicicletas em proporcionalidade aos habitantes. A capital de Goiás apareceu em quarto lugar com 19 bikes para cada 100 pessoas, antecedido de Vitória (ES) com 23 bikes para cada 100 pessoas, Campo Grande (MS) 22 bikes para cada 100 pessoas e Aracaju (SE) com a proporção igual à de Goiânia (Journal of Sustainable Urban Mobility).

“O principal benefício é a prática de atividade física enquanto me desloco para os lugares, e num contexto de fazer faculdade e trabalhar ficaria difícil ter tempo para atividades físicas em outro momento”. Afirma Gabriela Calegaris, 21, sobre como aliar as vantagens físicas do exercício à necessidade de deslocamento em uma cidade com trânsito caótico como Goiânia.

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Dia a dia do ciclista 

Gabriela tem o ciclismo como seu principal transporte, e enfrenta diariamente os desafios de se locomover na cidade. “As ciclovias têm desníveis horríveis, problemas de trânsito como ausência de faixa, sinalização, desrespeito dos motoristas, etc”, destaca. 

“A ciclovia da rua 10 poderia ser muito melhor do que é, as raízes de árvores tendem a deslocar o asfalto” entre essa e outra reclamações sobre o mesmo trecho “os pit dogs tradicionais da rua 10 enchem a ciclovia de mesas e cadeiras a noite, fica quase impossível passar por ela”, completa ela pontuando que os obstáculos invisíveis para grande parte da população que não usa o modal e não se alerta sobre a carência na manutenção necessária.

Nesse sentido, o diretor de transportes da Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), Jean Damas, afirma que há três meses iniciou um processo de manutenção das ciclovias na cidade. Ele completou que a ciclovia da rua 10, deve receber esta manutenção em março. Ainda acrescentou que a SMM, está em processo de contratação com a Comurg para o estabelecimento de um “pacote de manutenção permanente, manutenção preventiva e constante”. 

Além disso, Gabriela apontou a desigualdade na prioridade do uso das ciclofaixas. “Elas são obrigatórias nos domingos e feriados e em um horário específico, o que deixa claro pra quem e para que elas servem; são feitas numa lógica de ciclismo como lazer de rico, e não como um meio de transporte nas cidades de fato”. Dessa forma, evidenciando a exigência de uma conscientização social acerca das vias e que há uma carência da ação governamental em relação a isso. 

Sobre isso, Jean Damas, corroborou que existe uma dificuldade de manter as ciclofaixas limpas, e para isso deve haver uma “conscientização em alguns pontos da capital”. Outrossim também afirmou que a SMM está estudando para que as ciclofaixas sejam 24 horas exclusivas para os ciclistas em bairros como o Bueno. 

Novas obras

Já fazem seis meses que foi anunciada a construção de uma ciclovia que interligaria o Campus Colemar Natal e Silva no setor Leste Universitário ao Campus Samambaia no Setor Itatiaia, contribuindo para a mobilidade dos alunos da Universidade Federal de Goiás, porém este ainda não saiu do papel. 

De acordo com Callegaris, este projeto atenderia uma extensa demanda de estudantes. “O próprio caminho do campus Colemar para o Samambaia não tem ciclovias, apesar de a UFG já ter anunciado um projeto de integração dos campus com ciclovia, não saiu do papel ainda mesmo com o grande número de estudantes que se deslocam com bicicletas”. Sendo assim, aqueles que fazem o trajeto por meio do ciclismo, estão sujeitos a uma situação de risco diariamente. 

Em relação a esta obra, o diretor de transportes da SMM  afirmou que o projeto está pronto e incluso no pacote de contratação junto a Comurg, apenas aguardando a liberação da análise obrigatória efetuada pela Procuradoria Geral. A expectativa é que em dois meses as obras de construção que levaram de três a quatro meses. 

Esta obra demanda um tempo longo pois, de acordo com ele, será uma obra no canteiro central das vias e em alguns trechos terão que alargar as vias e criar pontes para passar sobre as raízes das árvores. Jean afirmou que as obras irão respeitar a vegetação e nenhuma árvore deve ser derrubada. 

Além dessa outras obras serão realizadas, dez novas ciclovias serão construídas, contribuindo com 51 km de novas ciclovias. Uma das principais será uma ciclovia ligando o Terminal Isidoria a BR 153. 

Para além de novas ciclovias também há necessidade de interligação entre elas, Victor Gomes Garcia, (30) pratica o ciclismo em parques da cidade como exercício físico, revelou que: “As avenidas que ligam os parques da cidade, Goiânia 2, parque flamboyant, pois muitos ciclistas se deslocam de suas casas a estes parques, porém não há ciclovias nas avenidas que chegam a estes, haveria sim necessidade de vias para segurança de todos”. 

“Todas as ciclovias conectadas a rede”, conforme Jean Damas, as novas obras irão contemplar essa exigência, criando uma rede de ciclovias e conectando elas. Ademais, completou que o hábito é “Saudável, econômico e ajuda a natureza pois não polui”.

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