Laboratório da UFG desenvolve tecido humano para evitar uso de animais em pesquisas

Professora e membro da Câmara Técnica de Cosméticos da Anvisa afirma que teste em animais prejudica o resultado final e compromete a ética científica

Postado em: 06-03-2023 às 11h56
Por: Rodrigo Melo
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Professora e membro da Câmara Técnica de Cosméticos da Anvisa afirma que teste em animais prejudica o resultado final e compromete a ética científica | Foto: UFG

O governo federal proibiu, na última quarta-feira (1º/3) a utilização de animais vertebrados, como cachorros e ratos, em testes para desenvolvimento e controle de qualidade de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. A resolução já está valendo.

Apesar da resolução ser nova, a Universidade Federal de Goiás (UFG) já desenvolve métodos há décadas para diminuir a utilização destes animais em pesquisas. Por meio da Toxicologia moderna do século XXI, a universidade pode verificar se várias substâncias são tóxicas ao corpo humano por testes que não utilizem animais.

Ao Jornal O Hoje, a professora titular de Toxicologia da UFG, Marize Campos Valadares destacou os motivos pelo qual é desenvolvido esse trabalho, que segundo ela, tem 20 anos.

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“O modelo animal não consegue prever tudo o que acontece no indivíduo humano. Para que possamos ter produtos mais seguros, que não vão causar lesão nos olhos, que não vão causar alergias, por exemplo, precisamos testar no modelo mais biocompatível com a nossa fisiologia humana.”, afirmou a professora que também faz parte da Câmara Técnica de Cosméticos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O Laboratório de Farmacologia e Toxicologia e Celular (LFTC/FarmaTec) da Faculdade de Farmácia (FF) utiliza um método científico embasado em simulações computacionais; técnicas in vitro e engenharia de tecidos – ramo da ciência que utiliza conhecimentos de biologia, química e física para desenvolver tecidos humanos.

Outra razão da diminuição dos testes em animais está relacionada a ética, conforme a explicação a coordenadora do laboratório.

“Precisamos ter uma ciência com maior qualidade, mais reprodutível e também ética. Não justifica o sofrimento animal em detrimento de questões cosméticas, de beleza.”, concluiu Marize Campos

Testes que simulam a pele humana

Um dos testes do laboratório trata a respeito das alergias e busca compreender o efeito causado na pele humana a partir da interação com determinado produto. Segundo a professora, o objetivo é encontrar os chamados eventos-chave, que permitem saber se determinada interação pode desencadear algum sintoma físico ou não, como coceira.

“A partir deles, conseguimos entender a capacidade de uma substância em interagir com componentes da pele como sendo o primeiro evento-chave que irá culminar no efeito clínico que é a alergia”, explica.

Outro modelo utiliza a membrana vascularizada de ovos galados (fertilizados) para avaliar se novos produtos, como cremes e rímeis, são tóxicos para os olhos. Quando estes produtos são colocados em contato com a membrana dos ovos, observa-se se há hemorragia, por exemplo. A partir disso, pode-se concluir que o produto é tóxico para os olhos. Segundo Marize, a técnica está em processo de validação pelo Centro Brasileiro para Validação de Métodos Alternativos (BraCVAM), para sabermos o quanto essa técnica é capaz de acertar se uma substância é irritante ou não.

Os esforços do FarmaTec têm sido reconhecidos por meio de premiações de instituições de relevância na comunidade científica como o Prêmio MCTIC de Métodos Alternativos à Experimentação Animal 2017 do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a colaboração institucional da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

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