A conquista pelo espaço feminino no mercado

Dia das Mulheres, a celebração da data relembra desafios antigos e novos como a exigência de respeito nos locais de trabalho

Postado em: 08-03-2023 às 08h25
Por: Anna Letícia Azevedo
Imagem Ilustrando a Notícia: A conquista pelo espaço feminino no mercado
Idealizadora da Feira das Mina diz que movimento é uma iniciativa de apoio em conjunto para empreendedoras femininas | Foto: Divulgação

No dia 08 de março é celebrado o Dia Internacional das Mulheres, e para além das comemorações é substancial lembrar que a data trata-se de um marco histórico de superação de desafios. Desde a sua origem, em 1908, quando 15 mil mulheres marcharam pelas ruas de Nova York exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto. E apesar da relevância da manifestação, a data só teve o reconhecimento em escala global quando a ONU decidiu comemorar a data.

Sendo assim, comemorada e lembrada em vários países, estas celebrações se dão como uma forma de homenagear e relembrar as conquistas que as mulheres alcançaram. Dentre estas, está o espaço social e financeiro que muitas mulheres estão aos poucos conseguindo ocupar. Além do substancial crescimento no número de mulheres empreendedoras, atualmente elas expõem-se em locais que culturalmente são pertencentes a homens.

O mundo Gamer

Nessa realidade está Larissa Oliveira, streamer de jogos na internet, um território popularmente ocupado por homens. “Não costumo falar no chat… a comunidade é muito machista e tóxica, a partir do momento que eles sabem que você é mulher o ódio gratuito é ainda maior”, conta ela sobre como é o convívio nas salas on-line de transmissão dos jogos.

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Neste ambiente, de acordo com a pesquisa realizada pela Reach 3 Insights, em colaboração com a Lenovo em 2021 que ouviu 900 mulheres, apontou que 59% das mulheres usam uma identidade sem gênero ou masculina ao jogar online para evitar conflitos. Além disso, 77%, afirmou ter tido “algum tipo de frustração ao jogar por causa de seu gênero”.

Dessa forma, trazendo a luz a necessidade de um espaço seguro para que mulheres como a Larissa, não precisem se esconder atrás de estereótipos aceitos socialmente e sejam respeitadas. “Teve um homem na minha live que me importunou com comentários sexuais, então eu bani ele da live, e não comentei nada, para não dar margem para repercutir”. Explicou ela sobre um episódio que comumente se repete no ambiente virtual. Estas situações não são penalizadas pois as plataformas não oferecem o suporte necessário para atender essa demanda.

Empreendedoras goianas

Além do mundo virtual, está o de negócios, onde mulheres estão cada dia mais presentes e representando até a maioria em novos empreendimentos. Como aponta pesquisa realizada pelo Global Entrepreneurship Monitor em parceria com Sebrae, revelou que 55,5% das novas empresas criadas em 2020 no Brasil foram abertas por mulheres.

No estado de Goiás, as mulheres representam uma parcela significativa do total de empreendedores. Conforme aponta pesquisa divulgada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e Sebrae, 33% da população empreendedora é formada por mulheres. A pesquisa também apontou o número de empreendedores que possuem empresas registradas e ativas, e nesta categoria as mulheres correspondem a 42%.

Em Goiânia, mulheres estão integrando novos espaços também no empreendedorismo, Maria Bruna Lopes é tatuadora há 5 anos, e revela os desafios para ser reconhecida dentro da área. “Esse mercado ainda continua machista, a gente percebe esse problema de forma mais gritante em alguns eventos de tattoo como convenções e nas redes sociais com comentários inapropriados e sexistas”.

Além da vontade individual de uma mulher abrir sua empresa, ocorreram também aquelas situações que deram oportunidade para estar naquele local. Esta é a realidade de Maria Diana Lira, dona da JD Distribuidora, que também funciona como bar, ela conta que a intenção era tocar o negócio com o marido porém não deu certo e ela resolveu seguir sozinha com o sonho da própria empresa.

Diana Lira, já havia investido em outro empreendimento anteriormente, com loja de bolsas e calçados, mas revelou que está realizada com o atual negócio. “Além de girar dinheiro mais rápido, foi um comércio onde eu me encontrei, acho que tem tudo haver comigo”. Ademais, administrar e manter a rotina diária familiar representa adversidades no dia a dia.“Você tem seu trabalho, casa, filho, tem que se adequar, hoje em dia tudo tem que ter horário, porque se não tiver pra mim, eu vou deixar muita coisa por fazer”.

Nova forma de administrar

Outras pesquisas também revelam as características transformadoras desses empreendimentos. Sendo assim, 45% dos empreendimentos liderados por mulheres são majoritariamente femininos e sete em cada dez empreendedoras possuem sócias mulheres, como revelou a pesquisa IRME, em 2021. Dessa forma apontando para o novo mundo dos negócios, liderado e conduzido por mulheres, se libertando do cenário enraizado socialmente de homens no comando.

“A verdade é que eu uso o fato de ser mulher ao meu favor, afinal, com a popularização da tatuagem um público novo e muito diverso está optando por ter tatuagens e às vezes prefere encontrar uma pessoa e um ambiente mais acolhedor”. 

Em Goiânia, outro exemplo desse movimento de novo empreendedorismo feminino é a Feira das Minas, que reuniu apenas expositoras mulheres, em um ambiente de sororidade. “A gente começou com 10 pessoas e hoje em dia somos a maior feira de mulheres do Brasil, e contamos com pelo menos 120 expositoras por edição”. Afirma Pauline Arroyo, idealizadora da feira.

Este movimento é uma iniciativa de apoio em conjunto para empreendedoras femininas. “Tirar essa imagem do feminismo liberal, branco e elitista é o maior desafio”. Revelou a criadora da feira sobre o movimento feminista como objetivo da feira, e como este deve ser inclusivo.

A necessidade de se impor

“A mulher precisa ser assertiva desde sempre na vida… então acho que essa questão de ter que se impor, pesquisar o dobro, ter argumentos na ponta da língua sempre foi natural para mim”. Explicou Bruna Lopes, sobre a necessidade que a mulher presencia de se impor para ser respeitada no seu ambiente de trabalho.

“Eu sinto que tenho que tomar muito mais cuidado do que qualquer homem tomaria… só você falar que é mulher que o assédio começa na comunidade”. Alertou Larissa Oliveira sobre como se comportam as mulheres gamers motivadas pelo machismo presente nas plataformas de jogos. 

A realidade que se repete em vários setores, seja ele virtual, bares ou em estúdios de tatuagem, é o cenário das barreiras sociais que mulheres enfrentam todos os dias. Assim, o 8 de março, demonstra o caráter não somente comemorativo como também relembra os entraves sociais que as mulheres combatem diariamente desde o início da busca pelo seu espaço social.

Igualdade salarial

Esta semana, houve o retorno da discussão acerca da igualdade salarial promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente afirmou no evento de 28 de fevereiro de reinstalação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN) no Palácio do Planalto, que: “no Dia das Mulheres, a gente vai apresentar, definitivamente, a tal da lei que vai garantir que a mulher, definitivamente, receba o salário igual ao homem se ela exercer a mesma função”.

Esta luta se estende por muitos anos no país, as discussões iniciadas em 2009 pelo ex-deputado federal Marçal Filho, que apresentou um PL para lapidar a legislação trabalhista no que diz respeito à pauta. Porém o assunto ainda permanece em debate, pois apesar de já ser previsto ainda não apresenta efetividade de aplicação.

O presidente reforçou no evento do dia 28 que além da necessidade da paridade salarial, também deve ser priorizada a fiscalização. “Se não pagar vai ter que ter alguém para fiscalizar. E esse alguém será a Justiça do Trabalho, o Ministério do Trabalho”. Declarou Lula, sobre por qual instância deve ser exercida a função.

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