5 milhões de mulheres são afetadas pela endometriose ou câncer no colo do útero

Saiba os sintomas das duas doenças, a importância dos exames preventivos e do diagnóstico precoce

Postado em: 14-03-2023 às 08h35
Por: Alexandre Paes
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Saiba os sintomas das duas doenças, a importância dos exames preventivos e do diagnóstico precoce | Foto: Reprodução

Embora muitos não saibam, o mês de março é destinado ao combate do câncer de colo de útero, representado pela cor lilás; e a endometriose, simbolizado pelo amarelo. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de colo de útero é a quarta causa de morte da população feminina por câncer no país; e o terceiro tumor maligno mais frequente nas mulheres, atrás do câncer de mama e do colorretal. 

A doença também conhecida como câncer cervical é causada pela infecção persistente por alguns tipos de Papilomavírus Humano, o HPV. A ginecologista oncológica Nayara Portilho esclarece que o câncer de colo de útero possui um lento desenvolvimento. 

“Ele pode não apresentar sintomas na fase inicial. Nos casos mais avançados, pode evoluir para sangramento vaginal intermitente (que vai e volta) ou após a relação sexual; secreção vaginal anormal e dor abdominal associada a queixas urinárias ou intestinais”, explica a especialista.

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A médica ainda revela que entre os fatores de risco para o câncer de colo do útero está o início precoce da atividade sexual, múltiplos parceiros, tabagismo e uso prolongado de pílulas anticoncepcionais. Contudo, é possível prevenir a doença. “A vacina contra o HPV está disponível para meninas de 9 a 14 anos e para meninos de 11 a 14 anos”, orienta.

“O uso de preservativos protege parcialmente, pois o contágio também pode ocorrer pelo contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal”, complementa Nayara que também aproveitou para ressaltar que mulheres a partir dos 25 anos devem fazer o exame preventivo Papanicolau.  

 A médica destaca que entre os tratamentos para o câncer de colo do útero são quimioterapia, radioterapia ou cirurgia. “O tipo de tratamento dependerá do estágio de evolução da doença, tamanho do tumor e fatores pessoais, como idade do paciente e desejo de ter filhos”. Nayara lembra da importância da campanha março lilás: “a conscientização sobre os exames preventivos no diagnóstico precoce das lesões e da vacina do HPV é importante. O câncer de colo do útero, em sua maioria, é prevenível, basta ter acesso e informação”. 

Conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Brasil, excluindo os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre as mulheres. Para o ano de 2023 foram estimados 17.010 casos novos, o que representa um risco considerado de 13,25 casos a cada 100 mil mulheres.

Anos de dor até o diagnóstico

Por muitos anos, Fabiana teve cólicas intensas mensalmente, sem nunca receber diagnóstico. “Nenhum médico que me acompanhou sugeriu qualquer investigação. Eu, por total desconhecimento, tampouco busquei ajuda especializada”, conta a influenciadora. A história é similar à da psicóloga Ana Viggiano, de 45 anos.

“Diferentemente de muitas mulheres, só fui ter os primeiros sintomas depois dos 30 anos, quando comecei a ter cólicas insuportáveis”, diz. “Fui a sete médicos diferentes para conseguir diagnóstico. Muitos disseram que eu não tinha nada. Sentia dores insuportáveis e tinha de ouvir comentários muito desagradáveis desses médicos, como ‘isso é vontade de casar’, ‘isso é vontade de ter neném’. Eram pouco objetivos, pouco científicos.”

Quando finalmente foi diagnosticada, a endometriose já estava avançada e Ana teve de se submeter a uma cirurgia grande para retirar parte do intestino. Outras quatro se seguiram para eliminar os focos em outros órgãos.

“Nunca me conformei com a negativa dos médicos, mas a maioria das mulheres passa anos com sintomas negligenciados”, disse. Por isso, a psicóloga decidiu se especializar no atendimento a mulheres com endometriose. “Muitas (pacientes) desenvolvem quadros de ansiedade e depressão. A dor altera os processos neuroquímicos”, afirma.

“A mulher está passando por um sofrimento físico terrível, busca ajuda profissional e, além de não ser cuidada, é maltratada, considerada desequilibrada. Muitas começam a duvidar da própria sanidade mental, a achar que aquela dor não faz sentido. Ainda tem os aspectos conjugais, pois a doença pode provocar dor na relação sexual e gerar dificuldades para engravidar”.

Março Amarelo

Além disso, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a endometriose alcança cerca de 180 milhões de mulheres em todo o mundo, sendo 7 milhões apenas no Brasil. A doença inflamatória e crônica é causada por células do endométrio, que é um tecido que cobre a parte interna do útero, que em vez de serem eliminadas com a menstruação, se movimentam para outras partes do corpo, como os ovários ou mesmo a cavidade abdominal, onde se multiplicam e voltam a sangrar. 

Em maio, a OMS reconheceu a endometriose como um problema de saúde pública para que isso favoreça o desenvolvimento de políticas e ações para o diagnóstico precoce e tratamento.

Segundo diz a ginecologista Rosane Figueiredo, o objetivo da campanha março amarelo é alertar as mulheres sobre a importância dos exames preventivos e diagnósticos, com a finalidade de evitar o desenvolvimento da doença nas formas mais graves. “Muitas vezes pode causar dor pélvica e infertilidade e em outras ocasiões, complicações intestinais e urinárias”. 

As principais manifestações clínicas da endometriose são cólicas intensas, dor pélvica crônica e dificuldade para engravidar em mulheres na fase reprodutiva, geralmente entre 25 e 35 anos. “A doença é mais frequente em mulheres que ainda não tiveram filhos, naquelas que apresentaram menarca (primeira menstruação) precoce, nas quais possuem maior exposição estrogênica e nas pacientes com histórico familiar de endometriose”, detalha a médica 

Rosane Figueiredo também explica que a escolha do tratamento depende da gravidade dos sintomas, da extensão e localização da endometriose e do desejo de gravidez. “Para o controle da dor indica-se o bloqueio do ciclo menstrual. A indução da ovulação isolada ou associada à inseminação intrauterina (IIU) é o tratamento para infertilidade. A cirurgia é indicada para as pacientes que apresentam dor e não melhoram com tratamento hormonal, que apresentam cistos ovarianos volumosos e/ou endometriose profunda com risco de obstrução intestinal ou de ureter”.

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