Efeito cascata pode derrubar setor de varejo no Brasil

Depois da exposição do rombo das Americanas, a maior rede de moda feminina de lingerie do Brasil, a Marisa revela dívida de cerca de R$ 600 milhões

Postado em: 16-03-2023 às 08h21
Por: Everton Antunes
Imagem Ilustrando a Notícia: Efeito cascata pode derrubar setor de varejo no Brasil
Os efeitos do rombo das Lojas Americanas pode afetar toda a cadeia do setor varejista | Foto: Divulgação/ Agência Brasil

O estrago causado pelas Americanas está contaminando o setor do varejo no país. Mas será que isso é somente um efeito em cascata ou um reflexo de falta de planejamento a curto e longo prazos de algumas empresas? Ou ainda um conjunto de fatores? É certo que são grandes os desafios vivenciados recorrentemente pelos varejistas de todo o país. Situações como mudanças no cenário político, na economia, além da competitividade natural do segmento são algumas das grandes dificuldades que assolam o setor. Se não bastasse isso, vemos grandes empresas passando por dificuldades e que tem grande impacto sistêmico no mercado, como o caso da Americanas e mais recentemente da Marisa. 

Aqui em Goiás também temos exemplos, como o da Casa Goianita. A empresa pediu recuperação judicial com uma dívida R$ 22 milhões. No mercado há 71 anos, a Goianita sentiu os efeitos das restrições de eventos por causa da pandemia, já que tem como carro chefe listas de presentes de casamento. Porém a situação se agravou ainda mais com a alta dos juros, o que dificultou a extensão de prazos para pagamentos, além de outros entraves com instituições financeiras. 

No caso do Grupo Marisa, precisamos voltar um pouco no tempo. Quando em 1999, a Marisa criou o Cartão Marisa, a finalidade era oferecer crédito mais fácil para as clientes na compra de roupas íntimas. Mas com o passar dos anos mais um modelo de cartão foi incluído nas operações da rede. Além do private label (cartão de crédito de varejista válido para compras na própria loja), passou a oferecer o Co-Branded (cartão emitido pelo varejista, em parceria com instituição financeira, que pode ser usado em qualquer estabelecimento).

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Assim, a Marisa passou a ser mais uma instituição financeira do que a antiga varejista, o que tem sido comum em muitas empresas desse porte, que já ofereciam os cartões private label. Resumidamente, no lugar de vender os próprios produtos à prazo, passaram a vender dinheiro, crédito. 

Rafael Cássio da Ática Gestão, especialista em reestruturação de empresas, avalia que todo esse cenário está provocando uma derrocada das instituições de varejo já que gera um efeito em cascata, por impactar diversas cadeias. Uma delas é a escassez de crédito no mercado. “Podemos esperar uma possível diminuição no apetite dos bancos na disponibilização do crédito, assim como também uma exigência muito maior das instituições financeiras a respeito dos demonstrativos financeiros das empresas em geral.  Com a preocupação e desconfiança do mercado gerado pelo rombo das Lojas Americanas, as instituições financeiras diminuíram a concessão de crédito. E as empresas que já não estavam saudáveis, acabaram em uma situação de extrema dificuldade, em pouco tempo”, conjectura. 

Outro efeito são os impactos em toda a cadeia de credores dessas gigantes, que podem influenciar desde um aumento de juros por parte dos bancos, quanto um aumento de preço em alguns produtos por parte de algum fabricante por exemplo, todos buscarão recuperar o prejuízo. 

Por tudo isso, Cássio ressalta a importância do planejamento estratégico bem feito dentro das empresas, muitas vezes negligenciado. “É hora de ter controle total do negócio, realizar um planejamento de curto e médio prazo. Que as empresas se preocupem com a profissionalização dos seus processos, trabalhando para que sua operação seja fielmente refletida nos demonstrativos financeiros. Prever cenários e estar atento às mudanças é fundamental para conseguir resistir e superar turbulências. São tempestades que fazem bons marinheiros, mas é preciso ter um bom planejamento, ter disciplina financeira e execução rápida!”, alerta.

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