BRT Norte-Sul completa 8 anos com nova data de entrega

O Trecho 2, entre o Recanto do Bosque e Terminal Isidória, tem data para 30 de junho deste ano

Postado em: 18-03-2023 às 08h16
Por: Alexandre Paes
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O Trecho 2, entre o Recanto do Bosque e Terminal Isidória, tem data para 30 de junho deste ano. | Foto: Jucimar Sousa

Uma obra que se tornou motivo de grande festa em Goiânia, o BRT Norte-Sul foi lançado no dia 19 de março de 2015. Na época, era possível ler a seguinte frase em um painel ao fundo: “BRT Norte-Sul – a maior obra de mobilidade da história de Goiânia”. Durante o percurso a população acompanhou trechos inacabados, empresas que abandonaram a obra e muito atraso na entrega. E esses são alguns dos problemas que ainda impedem o funcionamento do BRT, que é uma promessa de melhoria no transporte público que não chegou.

Inicialmente o projeto previa que a construção custaria R$ 340 milhões. R$ 210 milhões viriam do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, e R$ 130 milhões seriam dos cofres da Prefeitura de Goiânia. Todo o investimento para a construção de 21,8 quilômetros de um trecho exclusivo para ônibus do transporte coletivo. O trecho cortaria Goiânia de Norte a Sul, com a previsão de ser concluída em 20 meses, até o final de 2016, de acordo com o então coordenador do projeto, Ubirajara Abud.

Oito anos após o lançamento, neste domingo (19/03/2023), é hora de soprar as velinhas para a construção de um sonho de mobilidade urbana que segue com as obras em andamento. Desde o lançamento daquele projeto audacioso, que previa o atendimento de 120 mil passageiros por dia, e que atingiria 140 bairros e até 500 mil pessoas na cidade. 

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Na época, a população goianiense criou expectativas de que o transporte coletivo da cidade teria grandes melhorias. “É um transporte de muito maior qualidade, conforto, pontualidade, regularidade, e que contará com ar-condicionado. Haverá redução de 50% do tempo do trajeto”, afirmou Ubirajara Abud, durante seu discurso naquele 19 de março de 2015.

Atualmente a realidade encontrada não é essa, e as obras do Trecho 1 estão paradas devido abandono por parte da empresa contratada. A Prefeitura da capital disse ter enviado um ofício à Caixa Econômica Federal solicitando a disponibilização do recurso, que está em análise.

De acordo com o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, as obras do Trecho 1 serão retomadas imediatamente após liberação do recurso. “Já conversamos com outra empresa e enviamos ofício solicitando o recurso, e as conversas estão adiantadas inclusive com o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, que se comprometeu a atuar junto ao Ministério das Cidades”, detalha.

Impacto no Centro da capital

Uma importante solicitação dos comerciantes e dos moradores da região central da cidade é que as linhas do transporte coletivo voltem a circular pelo corredor da Avenida Goiás. Sêo José Lima Ferraz, 62, trabalha com o conserto de relógios na rua 3 há cerca de 16 anos. Ele lembra que desde o início da construção do BRT na região, o fluxo comercial ficou bem impactado. 

“Durante a semana o movimento do centro pode até ser mais tranquilo, porém de quarta-feira em diante as pessoas vinham até aqui para resolver alguma situação e aproveitavam as lojas também. De uns 4 anos pra cá, o movimento despencou. Nem aos finais de semana o fluxo é alto, e tudo pela falta de acessibilidade que essa obra causou”, conta o comerciante.

Entre os 8 anos, a obra do BRT já foi paralisada várias vezes. Seja por falta de recursos, empresas que abandonaram o serviço e até impasses com o instituto do patrimônio histórico e artístico nacional. Entre uma retomada e outra, o tempo vai passando e nada. Só que a Associação Comercial e Industrial do Centro de Goiânia (ACIC), quer soluções para melhorar a mobilidade e giro comercial do centro da capital que foi tão impactado.

“Nesse período muitas lojas baixaram as portas, já que o público do centro de descentralizou por conta do difícil acesso e obras que atrapalham a circulação na região. Com tantas mudanças para a linha do BRT passar pela Avenida Goiás, hoje quem passa no centro não pode estacionar, não pode parar, e não tem onde se sentar. Toda a infraestrutura da cidade foi impactada, e o reflexo atinge quem precisa do cliente, ou seja, o comerciante”, comentou a arquiteta e urbanista, Ana Carolina Borges, que também é diretora da ACIC.

Sem circulação de ônibus 

Segundo a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), até o dia 8 de julho de 2019, estavam em operação na Avenida Goiás os veículos das linhas 002, 003, 006, 007, 013, 029, 167, 169 e 187. Após esta data, as linhas foram desviadas para a Avenida Tocantins, quando fazem o itinerário no sentido região Norte para a Praça Cívica, e para a Avenida Araguaia, quando trafegam no sentido Praça Cívica para a região Norte de Goiânia.

O presidente da Associação Comercial e Industrial do Centro de Goiânia (ACIC), Uilson Manzan, afirma que apenas na gestão Rogério Cruz (desde 2021), os comerciantes já receberam pelo menos seis promessas de retorno dos ônibus na Avenida Goiás sem qualquer cumprimento. “Já são mais de três anos sem ônibus aqui, muitas empresas estão fechando pela falta de movimento na principal avenida do Centro de Goiânia”, diz Manzan.

Quando lançado, um vídeo mostra o percurso do BRT saindo da região norte passando pela praça cívica até chegar na região sul. Mas só esse material e plano apresentado não agrada quem entende da área. A arquiteta e urbanista, conselheira do CAU-GO, Simone Buiate, aposta que o atraso dos 8 anos é devido à falta de um projeto melhor elaborado olhando todas as perspectivas de mobilidade e comércio da cidade.

“O que eu vejo é a ausência de projeto. E aí a medida que vai avançando o BRT na cidade agora tem as árvores. Agora tem o tombado. Agora tem um trecho que não pode ultrapassar. Agora tem que conversar com o Iphan. Agora tem uma questão ambiental. Então vai esses entraves, essas problemáticas vão surgindo por conta de uma ausência de um projeto”, exemplifica a especialista.

Em entrevista exclusiva ao Jornal O Hoje, o secretário de infraestrutura de Goiânia, Denes Pereira, disse que a gestão do prefeito está enfrentando os entraves para solucionar o problema da mobilidade e liberar esse trecho do BRT que vai melhorar o serviço de transporte público, e consequentemente retomar a vitalidade da região central de Goiânia.

“Com tantas licitações, paralisações e retornos, hoje podemos dizer que o prazo estabelecido pela prefeitura será cumprido. Grandes trabalhos como o recapeamento de vias, entrega de viadutos e mudanças no tráfego de Goiânia já foram concluídos visando a garantia da liberação de circulação dos ônibus na linha do BRT neste primeiro trecho ligando o Terminal Recanto do Bosque ao Terminal Isidória”, finalizou o secretário da Seinfra.

Previsão de entrega

No dia 3 de março deste ano, o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), se reuniu com representantes do consórcio do BRT para acertar uma data de conclusão das obras do Trecho 2 (que liga o Terminal Recanto do Bosque ao Terminal Isidória). No encontro foi estabelecido que a obra será concluída até dia 30 de junho de 2023.

Segundo a prefeitura, 97% dos trabalhos deste trecho já estão executados. De acordo com o Consórcio BRT Goiânia, o planejamento é seguido à risca para que a obra seja entregue. “Tudo foi apresentado ao secretário de Infraestrutura, Denes Pereira, e ao prefeito. Nosso compromisso é honrar o contrato, todos os entraves e pendências foram sanados, e resta concluir o trabalho”, arrematou o representante do BRT Goiânia, Wesley Garcia.

Além da conclusão das operações do Trecho 2, está acertada a entrega de 60 ônibus do BRT, em junho. “Entregamos o Terminal Isidória, recebemos a estação da Rodoviária ontem, vamos entregar a da Perimetral Norte e, agora, a empresa comprometeu-se a colocar o BRT em pleno funcionamento, em julho”, explicou Rogério Cruz.

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