Diabetes aumenta até 10 vezes o risco de doenças cardiovasculares

Em pessoas com diabetes tipo 1, enfermidades do coração podem ocorrer de 10 a 15 anos mais cedo

Postado em: 05-04-2023 às 08h25
Por: Everton Antunes
Imagem Ilustrando a Notícia: Diabetes aumenta até 10 vezes o risco de doenças cardiovasculares
Dados mundiais apontam que aos 45 anos, mais de 70% dos homens e 50% das mulheres com diabetes tipo 1 | Foto: Divulgação

O Doutor Fernando Valente, endocrinologista palestrante do 15º Congresso Paulista de Endocrinologia e Metabologia (COPEM 2023), comenta sobre a relação do diabetes e as doenças cardiovasculares. “O diabetes tipo 1 (DM1) aumenta de duas até 10 vezes o risco de doenças cardiovasculares, dependendo do grau de controle glicêmico”, afirma. 

Ele ainda prossegue ao dizer que, “assim como para o diabetes tipo 2, a doença cardiovascular é também a maior causa de morte para as pessoas com diabetes tipo 1”. O médico é congressista do COPEM 2023 – evento que acontecerá entre os dias quatro e seis de maio, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo. 

Em outras palavras, para os indivíduos que mantêm os valores de açúcar no sangue dentro das metas ideais (hemoglobina glicada – isto é, o índice de açúcar no sangue – próxima a 7%) o risco é duas vezes maior de doenças cardiovasculares em relação a quem não tem diabetes. Já para aqueles que permanecem com o índice glicêmico próximo a 10%, o risco de ter doenças do coração é 10 vezes maior.

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Segundo Valente, os números epidemiológicos sobre diabetes e doenças cardiovasculares são mais expressivos para diabetes tipo 2. Dados mundiais dão conta de que, aos 45 anos, mais de 70% dos homens e 50% das mulheres com diabetes tipo 1 têm calcificação nas artérias coronárias, um importante marcador de risco de infarto no coração. 

Conforme a idade de apresentação do diabetes, a duração da enfermidade, gênero e etnia,  a ocorrência de doenças cardiovasculares pode variar. Para jovens entre 30 e 40 anos de idade e diabetes tipo 1, o risco de doença coronariana é de 1% ao ano (risco intermediário); após os 55 anos, esse percentual passa para 3% ao ano (alto risco). 

Ao considerar apenas pessoas acima dos 30 anos, uma em cada três pacientes com diabetes tipo 1 morrem de doença cardiovascular, consoante o endocrinologista. “Em média, os eventos cardiovasculares ocorrem de 10 a 15 anos mais cedo em pessoas com diabetes tipo 1 quando comparadas a pessoas sem diabetes”, conta.

Ademais, Valente ainda considera que é possível atribuir diversos mecanismos na relação da DM1 e de doenças cardiovasculares. O diabetes tipo 1 pode enrijecer os vasos sanguíneos e causar o entupimento de artérias e veias ao longo do tempo, uma vez que essa doença altera a função das células que revestem internamente os vasos sanguíneos e facilita o depósito de gordura e a formação de trombos. 

O colesterol ruim (LDL) torna-se uma partícula mais densa, ao passo que o colesterol bom (HDL), disfuncional e perde, portanto, a capacidade anti-inflamatória e gera a formação de placas de gordura nas artérias. O aumento do açúcar no sangue e a baixa quantidade de insulina também corroboram para a inflamação dos vasos sanguíneos do corpo.

O doutor ainda observa que, com ou sem diabetes, a doença cardiovascular evolui de maneira “silenciosa” ao longo da vida, até o momento em que ocorre a obstrução da passagem de sangue. No entanto, “em pessoas sem diabetes, a manifestação dessa oclusão vascular é mais clara, com dor aguda e de forte intensidade no peito. Mas com diabetes, a apresentação pode ser atípica, apenas com falta de ar, desconforto torácico ou náusea, sem dor”, esclarece.

Apesar do cenário, Valente ressalta que, entre 1998 e 2014, o risco de morte por doenças do coração em pessoas com diabetes tipo 1 diminuiu em cerca de 40%. “Isso é reflexo do avanço no conhecimento médico, da educação das pessoas com diabetes sobre a própria doença e da maior ênfase na necessidade de monitorização do açúcar do sangue”, enumera.

O endocrinologista salienta que o tratamento dos principais fatores de risco para doença cardiovascular, que são a alteração nos níveis de colesterol e pressão arterial e a  evolução do próprio tratamento para o diabetes também viabilizaram esse quadro. Ainda, a fim de prevenir eventos cardiovasculares, o especialista aponta o cumprimento das metas de glicose, colesterol e pressão arterial como principais fatores.  

No COPEM 2023, serão apresentadas diversas novidades, como estudos recentes que apontam que pessoas com diabete tipo 1 têm aumento de resistência à insulina, quando comparadas com pessoas sem diabetes. Diante disso, do ponto de vista cardiovascular, a presença de resistência à insulina no diabetes tipo 1 é um indicador mais forte de risco do que o próprio controle glicêmico. 

Por fim, Valente complementa: “está havendo uma mudança no perfil das pessoas com diabetes tipo 1. Não são mais apenas crianças e adolescentes magros: de um terço até metade desses indivíduos está acima do peso e em torno de 80% dos indivíduos com diabetes tipo 1 são adultos”. Ele estabelece que quase metade dos diagnósticos são obtidos já na fase adulta, pese ao fato de que o diagnóstico na infância pode diminuir riscos.

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