Ministério da Saúde realiza campanha para combater discriminação contra autistas

Médica neuropediatra explica que o TEA é um transtorno doneurodesenvolvimento, que fica mais aparente logo na primeira infância

Postado em: 05-04-2023 às 08h51
Por: Lanna Oliveira
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Médica neuropediatra explica que o TEA é um transtorno doneurodesenvolvimento, que fica mais aparente logo na primeira infância | Foto: Divulgação

No calendário de campanhas do Ministério da Saúde, abril é marcado pela cor azul, que representa o mês de conscientização social sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Afim de difundir informações e combater a discriminação e o preconceito que cercam pessoas com essa condição. No Brasil, não há ainda um número preciso sobre a população com TEA, o que pode mudar neste mês, quando está previsto a divulgação dos resultados do Censo 2022, que pela primeira vez inclui o tema em seu questionário. Atualmente, a estimativa mais aceita é de 3 milhões de pessoas com autismo no País.

A médica neuropediatra Alinne Rodrigues Belo explica que o TEA ou o Autismo Infantil é um transtorno do neurodesenvolvimento, que fica mais aparente à medida que a criança cresce. Segundo a especialista, é comum que os pais detectem os primeiros sinais do transtorno logo nos dois primeiros anos de vida, pois é o momento que ficam mais evidentes. Ela explica que há dois núcleos básicos de sintomas, o primeiro é a limitação na comunicação e na interação social, e o outro diz respeito aos comportamentos rígidos, repetitivos, estereotipados e interesses fixos. 

“Basicamente essa manifestação ocorre quando a criança, que tem baixo interesse pelo contato social, tem maior atenção ou foco por objetos do que pelo contato social, baixo contato visual, não sustenta o olhar nos olhos dos outros. Outro ponto é a dificuldade em pedir o que ela deseja, não mostra ou aponta o que ela quer, não tem engajamento ao brincar com outras crianças. Algumas crianças têm o brincar de forma metódica e pouco funcional do que é o esperado para a idade”, explica a especialista ao detalhar alguns dos comportamentos visíveis e comuns ao diagnóstico.

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A médica relata que o tratamento deve ser iniciado mesmo antes de um diagnóstico fechado. Se houver sinais de alerta, sintomas sugestivos, já é indicado a reabilitação e estimulação. “Esse é o único caminho que temos a oferecer para o melhor desenvolvimento para essas crianças”, alerta. A neuropediatra ressalta que, a partir do momento em que existe um diagnóstico, os pais precisam compreender bem essa série de características que a pessoa terá pelo resto da vida. Ela destaca, porém, que com a intervenção precoce é possível minimizar a gravidade dos sinais e quanto antes se intervém, melhorar o prognóstico e a evolução dessa criança.

Atenção multidisciplinar

A médica especialista em TEA explica que o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, envolvendo psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicomotricistas, hidroterapeuta, ecuoterapeuta, psicopedagogos entre outros, é essencial para um tratamento eficaz e o alcance de melhores resultados. De acordo com a neuropediatra, o cérebro da criança principalmente até os cinco anos é plástico porque é capaz de criar muitas novas conexões e estabelecer novas vias de comunicação. Então muitos dos sintomas podem se amenizar ou não evoluir.

O TEA não tem cura, mas a intervenção precoce, a reabilitação e a estimulação são os únicos caminhos para se desenvolver de uma forma mais funcional, mais adaptada no ambiente social. Além disso, Alinne ressalta que as terapias melhoram a comunicação, a linguagem, a expressão, a interação social, reduzem as estereotipias, os comportamentos rígidos e repetitivos, reduzem os descontroles emocionais, e trazem qualidade de vida e desenvolvimento para as crianças e famílias. “Tratamento e acolhimento são as melhores maneiras de tornar a vida das pessoas com TEA melhor”, ressalta a médica. 

Mais casos

Umas das percepções que temos é que de uma década para cá aumentou o número de crianças com o TEA. A médica confirma que realmente aumentou a incidência, mas ela explica que não existe uma causa única para o problema, trata-se de um transtorno multifatorial. “Existem causas genéticas, epigenéticas, causas ambientais. É uma etiologia muito complexa que está sendo estudada, está em aprendizado, em desenvolvimento do conhecimento. E acredito que houve um aumento sim tanto na incidência, quanto no diagnóstico”, argumenta.

Porém hoje, há um arsenal maior de ferramentas para o diagnóstico, treinamento e mais informação. Além disso, as famílias, as escolas estão mais alertas e diante de suspeitas essas crianças já estão sendo encaminhadas o que não acontecia em tempos atrás. A especialista ressalta que o mais indicado diante de uma suspeita é fazer uma avaliação genética dessa criança e da família, e avaliar fatores ambientais que vão da gestação até o momento em que a criança se encontra. O fato é que, os responsáveis precisam estar atentos às crianças e cercados de bons profissionais.

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