Motoristas sinalizam estado “precário” das rodovias estaduais

Entre as queixas, figuram os buracos, a falta de sinalização e o risco de acidentes

Postado em: 11-04-2023 às 08h10
Por: Everton Antunes
Imagem Ilustrando a Notícia: Motoristas sinalizam estado “precário” das rodovias estaduais
Entre 2019 e 2022, foram pavimentadas, restauradas e duplicadas cerca de 603 quilômetros de malha asfáltica | Foto: Divulgação/ Silvano Vital

Ao jornal O Hoje, Idelmarcia Fonseca – caminhoneira há 20 anos –, quando questionada sobre a qualidade das rodovias goianas, afirma: “se você me perguntasse qual está boa, era mais fácil responder, porque não há nenhuma”. Para ela, que dirige não somente pelo estado mas também por todo o país, “as rodovias de Goiás são uma das piores do Brasil, estão largadas”.

O engenheiro de transportes Marcos Rothen diz que, embora haja manutenção por parte do Governo, as rodovias do estado passam por diversos impasses. “Há problemas que surgem logo após as revitalizações. É fácil encontrar buracos e a sinalização já não é tão visível”, observa. 

Diante desse cenário, motoristas e especialistas avaliam o cenário de “precariedade” das rodovias. Entre as reclamações, além dos buracos nas estradas,  figuram a morosidade para percorrer um trajeto, a exposição ao risco de acidentes e o dano aos veículos. 

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Malha Estadual 

De acordo com o relatório “Sistema Rodoviário do Estado de Goiás”, de 2022,  elaborado pela Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), o estado conta com mais de 21 mil quilômetros de extensão em rodovias. Desse total, pouco mais da metade – ou, aproximadamente, 56,2% – são de vias pavimentadas, enquanto que quase 40%, não pavimentadas. 

Além disso, as 241 rodovias goianas dividem-se em radiais (07), longitudinais (22), transversais (16), diagonais (21) e de ligação (175). As radiais partem de Goiânia, rumo aos extremos do estado; as longitudinais orientam-se na direção Norte-Sul, ao passo que as rodovias transversais, na direção Leste-Oeste; já as diagonais, no sentido Noroeste-Sudeste ou Nordeste-Sudoeste; e, por fim, as de ligação dispõem-se em qualquer sentido, de modo a ligar pontos importantes.

Sucateamento

Na visão do engenheiro de transportes, “fica claro que não existe uma preocupação de se manter as rodovias em boas condições”. Conforme o diagnóstico do especialista, a manutenção das estradas deve ser permanente, de modo a garantir a segurança dos usuários, e, em especial, no período chuvoso, durante o qual surgem “muitos problemas”. 

Rothen também alerta sobre a “deterioração do asfalto” que modais do tipo de carga – sejam agrícolas, sejam industriais – podem causar às rodovias. A fim de solucionar essa situação, ele aponta que é preciso realizar o controle de peso dos caminhões, por meio da pesagem de veículos de carga, em ações empreendidas pela Polícia Rodoviária Estadual. 

Sob a perspectiva de uma profissional que depende das rodovias estaduais, Idelmarcia relata que a condição das pistas “desgasta o caminhão. Vemos muitos caminhões quebrados devido às más condições das rodovias”. Diante disso, a caminhoneira alega que as condições dessa categoria encontram-se “precárias”, já que aumentam os curstos com os reparos: “O frete está baixo demais, a rodovia, precária. O Caminhão quebra e há o custo com o conserto, não está fácil”.

Entre os motivos, ela ainda explica que, em razão da falta de infraestrutura, os caminhoneiros ficam suscetíveis a assaltos, assim como à demora para percorrer trechos. “Se houvesse uma rodovia boa, um serviço que você poderia fazer com cinco dias, você faz com oito, 10 dias, porque é só buraco; sem contar o perigo de ser assaltado: devido à rodovia ruim, precisamos andar devagar”, conta. 

O estado de conservação das vias prejudica os caminhoneiros, no entanto, segundo Rothen, “é preciso lembrar que muitos outros tipos de motoristas precisam usar as estradas por diversos motivos: para trabalhar, ir ao médico”. Ele finaliza: “Uma estrada mal conservada é danosa para todos, usá-las tendo segurança é um direito do cidadão”.     

Em contrapartida, a Goinfra informou a esta reportagem que, no balanço entre 2019 e 2022, foram pavimentadas, restauradas e duplicadas cerca de 603 quilômetros de malha asfáltica. Ainda, aproximadamente 2.457 quilômetros de rodovias foram recuperados e outros 7.962 quilômetros receberam sinalização. 

Taxa do Agro

Aprovada em novembro de 2022, na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), o Projeto de Lei Nº 10.803/22 buscou compensar o déficit na arrecadação tributária do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O PL entrou em vigor no início do ano e previa alíquotas de até 1,65% sobre produtos agropecuários – a “Taxa do Agro” –, bem como instituiu o Fundo Estadual de Infraestrutura (Fundeinfra), de modo a investir em ações de manutenção de rodovias e pontes. 

Conforme a Goinfra, a gestão dos recursos seria “feita pelo setor produtivo, por meio da Faeg, OCB, Aprosoja, Adial, e por representantes do Governo de Goiás, que integram o conselho gestor do Fundeinfra”. Esse conselho definiria quais obras rodoviárias seriam executadas com os recursos do fundo. 

Contudo, no início de abril, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), a cobrança da “Taxa do Agro” foi suspensa, uma vez que alegou-se inconstitucional a vinculação de receitas de impostos a órgãos, fundos ou despesas. Para Rothen, “a manutenção das vias deve ser prevista no orçamento do Estado. Muitas vezes, os governos criam formas de arrecadar dinheiro para construir ou manter as estradas”.

A Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinfra) foi procurada pelo O Hoje para falar sobre a quantia arrecadada do Fundeinfra, bem como o destino desses recursos. Porém, até a conclusão desta reportagem, a pasta não retornou com uma resposta sobre os questionamentos.

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