Doença de Chagas é negligenciada e afeta 1,1 milhão de pessoas

Pesquisadores brasileiros voltam sua atenção à transmissão da Doença de Chagas, após a detecção do Trypanosoma cruzi em áreas urbanas

Postado em: 24-04-2023 às 08h43
Por: Redação
Imagem Ilustrando a Notícia: Doença de Chagas é negligenciada e afeta 1,1 milhão de pessoas
Conforme a OPAS cerca de 9 mil crianças contraem a doença de Chagas por transmissão de mãe para filho a cada ano na América | Foto: Reprodução/Opas

No último dia 13 de abril, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) manifestou sua preocupação com a incidência da doença. Sendo assim, a organização pede que o primeiro nível de cuidados seja reforçado para melhorar a detecção e o tratamento desta doença negligenciada principalmente em casos de grávidas. Isto acontece, pois há pouco investimento em conscientização sobre a doença.

A Doença de Chagas é uma infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, que parasita o sangue e os tecidos de pessoas e animais e pode chegar a causar até insuficiência cardíaca. Conforme a OPAS, 6 a 8 milhões de pessoas estão infectadas na América. Além disso, mais de 10 mil pessoas morrem a cada ano devido às complicações clínicas da doença. 

Conforme a Secretaria de Estado de Saúde do Governo Estadual de Goiás (SES), em Goiás, a maioria dos portadores de Chagas estão na fase tardia da doença (fase crônica). Estima-se que haja aproximadamente 200.000 portadores e no Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN do estado 7.000 casos notificados desde 2013. 

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Nesse sentido, a transmissão da doença é realizada pelo inseto Barbeiro quando infectado pelo microorganismo causador. No bairro Ipiranga, localizado na capital do estado de São Paulo, local em que a transmissão vetorial domiciliar da Doença de Chagas é considerada sob controle desde a década de 70, o serviço de vigilância encontrou insetos contaminados. Este fato, levou a pesquisadora Simone Lucheis, especialista em zoonoses e saúde pública a descrever o episódio como um “alerta sobre a mudança dos padrões dessa zoonose”. 

Transmissão e fase

A doença pode ser transmitida e percebida em duas fases no corpo humano, são elas a aguda e crônica para os sintomas da doença, e transmissão por via oral ou a mais comum que ocorre quando o Barbeiro infectado com Trypanosoma cruzi, ao picar a pessoa deposita fezes contaminadas na  pele da pessoa. Dependendo da forma de contaminação pode se alterar a manifestação da doença. 

Nesse sentido, o médico infectologista Marcelo Daher explica como é a forma aguda da doença: “Enfraquece a musculatura. Seja do do músculo cardíaco, seja do músculo do esôfago, seja do músculo do intestino. Então o paciente pode ter manifestações cardíacas graves, manifestações intestinais graves por conta dessa diminuição do tônus muscular do intestino e do esôfago e até mesmo cardíacos levando a uma insuficiência cardíaca, levando a alteração de ritmo, sendo necessário muitas vezes colocação de marca a passo”.

Dessa forma, o infectologista explica o que tem ocorrido no país para que a doença tenha se manifestado na fase aguda logo em seguida a infecção: “O que acontece é que tem sido visto nos últimos tempos formas de transmissão por via oral, ciclo oral da doença. Isso acontece muito em algumas regiões da Amazônia principalmente na região colombiana e venezuelana da Amazônia onde as pessoas fazem os sucos e deixam eh do da noite pro dia pra esse suco ficar mais fresco. E muitas vezes existe a contaminação com as fezes do barbeiro nesse suco e foram descritos casos de crianças que se infectaram”. 

Além disso, ele relata sobre o perigo relacionado a ingestão de alimentos in natura. “Outras formas também têm preocupado os pesquisadores no Brasil como, descrições de casos de Chagas agudo por ingestão de alimentos, foi descrito primeiro no sul do Brasil em Santa Catarina relacionado a garapa,suco de cana e aí você teria nesse caso a moagem da cana que pode acontecer de moer junto o barbeiro e com isso contamina o caldo de cana”. Além dessa forma, ele completa, “houve também relatos da mesma forma só que com açaí”.

Sobre as descobertas recentes que preocupam os pesquisadores em São Paulo, ele explica que com a presença do mosquito em uma zona urbana, o país deve-se atentar às duas formas de contaminação nas duas fases da doença. “A gente tem que ter muita atenção porque se, foram encontrados barbeiros contaminados em área urbana, principalmente em São Paulo, você tem as duas formas de transmissão, nesse caso existe o risco da picada do mosquito do do barbeiro, do inseto no ser humano com transmissão da doença. A transmissão da doença de Chagas aguda é uma grave”. 

Negligência

Conforme a OPAS, a Doença de Chagas é endêmica em 21 países da  América, ou seja restrita a estes territórios, o Brasil é um desses países. O continente tem cerca de 1,1 milhão de mulheres em idade fértil infectadas pelo parasita Trypanosoma cruzi, o que favorece a transmissão vertical, quando é transmitida da mãe para o bebê. Em decorrência disso, a organização Pan-Americana, tem intensificado em fortalecer sistemas de saúde materno-infantil para que possam detectar e tratar a doença de Chagas rotineiramente, ao mesmo tempo que diagnosticam e tratam HIV, sífilis e hepatite B, eliminando assim a transmissão materno-infantil dessas quatro doenças.

Porém, estas iniciativas sofrem com a carência de investimento tanto em prevenção, quanto em campanhas de contaminação. Sobre isso, explica o médico infectologista Marcelo Daher, “existem poucos investimentos no mundo para doença de chagas, porque é uma doença que a gente chama de doenças de países emergentes e doenças esquecidas. Então não tem se dado tanto valor nesta doença porque não tem interesse econômico pelos países de primeiro mundo”.

“O Brasil é um país que tem capacidade para fazer pesquisa e desenvolver, inclusive, medicamentos para tratar a doença de chagas. Então, isso a gente tem que ter investimento e fomento da pesquisa e ciência para que a gente consiga resgatar esses essa essa esse pesquisa pro tratamento doença de Chaga”, dessa forma, ele pontua sobre a função que o país pode ter na mudança de cenário de uma doença negligenciada que atinge muitas pessoas todos os anos, para a abertura de um painel de possibilidades em tratamento e prevenção. 

Carlos Chagas

A doença de Chagas é batizada com o nome do médico e a descobriu em 1909, Carlos Chagas. No dia 14 de abril daquele ano, ele realizou o primeiro diagnóstico em humano, o que motivou a ser instituído esta data em 2020 como Dia Mundial da Doença de Chagas, com o intuito de divulgar e promover a conscientização sobre o “mal de Chagas”, como é popularmente batizada.

Chagas, realizou a pesquisa e descrição completa do ciclo da doença, este é um relato único na medicina. “Desde o agente etiológico ao mecanismo de transição e a doença propriamente dita. Então esse fato é um fato único na história e se deve ao grande pesquisador brasileiro doutor Carlos Chagas. Ele trabalhava no Instituto Fiocruz e deu o nome de Trypanosoma que ele descobriu de trypanosoma cruzi em homenagem a Oswaldo Cruz”, concluiu Marcelo Daher.

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