Planos de saúde podem sofrer reajuste de até 12% em 2023

O cenário pandêmico, a alta taxa de juros e o quadro inflacionário justificam a decisão, argumenta presidente da CORECON-GO

Postado em: 25-04-2023 às 08h35
Por: Everton Antunes
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Foi registrado um déficit superior a R$505,7 milhões no quarto trimestre de 2022 | Foto: Divulgação

Segundo o Painel Contábil da Saúde Suplementar – elaborado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) –, ao apurar o resultado líquido de receitas e despesas das operadoras de saúde, foi registrado um déficit superior a R$505,7 milhões no quarto trimestre de 2022. Além disso, também na modalidade médico-hospitalar, os índices de sinistralidade evidenciaram uma variação entre 85,9% e 90,3% no ano passado.

No diagnóstico da presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de Goiás (CORECON-GO), Kerssia Preda, essa conjuntura se origina a partir de um “caso excepcional” – isto é: a crise sanitária de Covid-19. “Isso se deu por conta da pandemia: vale lembrar que, no período da Covid-19, houve aumento dos atendimentos”, o que resultou na grande demanda por planos de saúde. 

A especialista avalia, entre outros fatores, o impacto da inflação e a taxa de juros sobre as operadoras e os beneficiários deste serviço – que podem culminar em aumentos entre 10% e 12% nas mensalidades. Ademais, é levado em consideração o histórico de prejuízos dos planos de saúde no ano de 2022, bem como os prognósticos do setor para 2023.

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Histórico

Conforme a ANS, o resultado líquido do primeiro trimestre de 2022 verificou um saldo de quase R$1,1 bilhão dos planos de saúde médico-hospitalares. No entanto, o resultado do período entre abril e junho registrou um prejuízo de mais de R$691,6 milhões. 

Já no terceiro trimestre do ano passado, o valor líquido sofreu um déficit de mais de R$3,4 bilhões. Por fim, nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2022, as operadoras de saúde demonstraram o resultado negativo de R$505,7 milhões – valor “inédito”, segundo a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).

A respeito do resultado operacional – que considera o valor recebido das mensalidades menos os valores gastos com despesas assistenciais –, o quarto trimestre fechou 2022 com um déficit de R$11,5 bilhões. No primeiro, segundo e terceiro semestres, a ANS dá conta de prejuízos na ordem de, aproximadamente, R$1,1 bilhão, R$5,4 bilhões e R$10,9 bilhões, respectivamente.  

Sobre a sinistralidade – ou seja, a relação entre os custos com serviços empreendidos por uma seguradora e o valor do seguro pago pelo beneficiário – os percentuais oscilaram entre 85,9% e 90,3% no ano passado, na modalidade médico-hospitalar. No primeiro trimestre de 2022, foi registrada uma taxa de 85,9%, ao passo que, no segundo e terceiro trimestres, 88,8% e 90,3%, respectivamente.

Ainda, nos últimos três meses de 2022, o painel reporta uma sinistralidade de 89,2%. Ao considerar esse último índice, por exemplo, é como se as operadoras de saúde destinassem quase R$90, dos R$100 recebidos pelos clientes, para custear despesas dos planos. 

Em Goiás, a ANS ainda estima que há cerca de 1,3 milhão de beneficiários e mais de 700 operadoras de saúde em atividade. A nível estadual, a taxa de sinistralidade observada no último trimestre do ano passado foi de 88,2% – ou seja, houve alta de mais de 2%, em comparação com o mesmo período de 2021. 

Projeções

A expectativa é que, para planos de saúde individuais, o reajuste a ser noticiado pela ANS, em abril de 2023 – válido para o período de maio de 2023 a abril de 2024 –, seja entre 10% e 12%”, pondera Preda. De acordo com ela, a inflação – estimada em 6,04% – e a alta taxa de juros (13,75%) podem refletir na decisão do aumento. 

“Esse cenário tem mais correlação com a inflação, que, de forma indireta, pode afetar os atendimentos, uma vez que corrói o poder de compra das pessoas”, explica. Face a isso, a especialista afirma que o quadro inflacionário “compromete o poder de compra das pessoas e elas passam a ter que fazer escolhas, definido o que é essencial manter nos seus gastos mensais”.

Na visão da economista , a inflação “tem peso na justificativa de reajuste dos planos de saúde, uma vez que os insumos estão mais caros”. Para o beneficiário, “isso pode ocasionar tanto na quebra de contratos com as operadoras de planos de saúde quanto em inadimplência”, completa.  

Por outro lado, ao jornal O Hoje, a Abramge posicionou-se sobre o aumento dos planos de saúde. “O foco, neste ano, não é em reajustes e, sim, em atuar nos componentes que priorizam a sustentabilidade, tais como o combate às fraudes e rediscutir os critérios de incorporação e acesso às tecnologias de saúde. A recomposição dos preços é uma consequência”, alega.

Portanto, os aumentos têm como justificativa a manutenção da qualidade de serviços oferecidos e a modernização do sistema de saúde. “As operadoras trabalham para que os reajustes sejam sempre os menores possíveis. Não há o menor interesse em perder beneficiários por conta de reajustes”, ressalta a associação.

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