19% dos trabalhadores da construção civil não se sentem valorizados

O setor da Construção Civil têm registrado um crescimento de investimento em Goiânia, mas a mão de obra está em queda

Postado em: 01-05-2023 às 07h50
Por: Anna Letícia Azevedo
Imagem Ilustrando a Notícia: 19% dos trabalhadores da construção civil não se sentem valorizados
Fieg aponta que 19% dos trabalhadores da construção civil em Goiás não se sentem valorizados no local de trabalho | Foto: Divulgação/Senai

Em todos os setores da cidade de Goiânia é possível presenciar canteiros de obras, sejam de casas, ou prédios monumentais, públicos ou privados, este é o cenário que demonstra um “boom imobiliário” relatado pelos empresários da área. Porém por trás dos muros de proteção o que se tem apresentado é uma carência, seja a que os patrões requerem com mão de obra, seja dos pedidos de dignidade por parte dos trabalhadores. Esses fatores ilustram uma demanda que deve ser ouvida pelos empregadores, na capital  e em todo o Brasil.

Conforme o “Levantamento Sobre Escassez de Mão de Obra na Construção em Goiás, Municípios de Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia e Senador Canedo”, realizado pela colaboração entre SEBRAE, Instituto Euvaldo Lodi e Observatório FIEG, o cenário da construção civil revela a escassez de mão de obra. Porém essa situação está relacionada com inúmeros fatores que impedem o estabelecimento do corpo de trabalho estável, tanto em Goiás, quanto em outros estados do Brasil.

Segundo a pesquisa, o setor da construção civil no Brasil apresenta uma carência de 76% em mão de obra, dentro desse índice, o que inclui tanto comum, quanto qualificada. Em Goiânia os relatos da motivação para este panorama identificados foram: “baixos salários que desmotivam os trabalhadores na busca por trabalho registrado, bem como a falta de mecanização nas obras, levando muitos trabalhadores a reclamarem do trabalho pesado nos canteiros de obra”.

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Rio de Janeiro – O prefeito Eduardo Paes inaugura sala de visitação do Museu do Amanhã, em construção no Pier Mauá, na zona portuária do Rio. Na foto o canteiro de obras do Museu do Amanhã.

Sendo assim, a engenheira Civil, que atua a 6 anos na profissão na Grande Goiânia Maria Carulina Neves Mota, afirma que apesar do “boom imobiliário” que o setor presencia na capital, há uma escassez na mão de obra. “Na empresa em que trabalho, por exemplo, divulgamos vagas a todo momento, e encontramos muita dificuldade de contratar a quantidade de pessoal necessário”, relatou ela. 

Qualificação

Apesar da pesquisa apontar que a grande maioria dos funcionários apresentam interesse em realizar cursos profissionalizantes para o setor, as qualificações disponibilizadas pelo SENAI, presenciou uma queda na quantidade de alunos entre os anos de 2019 a 2021. Entretanto, em 2022, voltou a subir, mas com uma enorme diferença entre os cursos de curta duração e de longa. Dessa forma, demonstrando o interesse maior pelos cursos que podem ser concluídos em menos tempo.

O engenheiro civil Luiz Henrique Alves Melo de Miranda, realizou uma pesquisa intitulada Capacitação Profissional na Construção Civil no Município de Balsas-MA, em que pontuou acerca da qualificação profissional. Dessa forma identificando que no seu local de amostra 56,6% dos trabalhadores (servente, pedreiro, carpinteiro, armador, encarregado, encanador e eletricista) relataram que aprenderam observando seus colegas de trabalho, e 50% nunca realizaram cursos profissionalizantes. 

Nesse sentido, o engenheiro explica os motivos que os trabalhadores mais relatam como desmotivação para a busca por qualificação. “A maioria dos funcionários da construção civil não tem nem o ensino médio completo, muitos só fizeram até a 4ª/5ª série, então isso dificulta muito o aprendizado deles quanto à profissão. Tem o SENAI, têm empresas que fazem esses cursos técnicos para pedreiros para eletricista certo só que eles não querem nem saber fazer esse curso de qualificação porque alguns não sabem ler, não tiveram ensino, fazendo com que eles se sintam incapazes de aprender alguma coisa”.

Assim sendo, identificando os entraves que impedem os trabalhadores de se qualificar, o que limita também as opções de trabalho. Além disso, pontuando sobre a situação socioeconômica encontrada dentro do ambiente de obras. Para a resolução desses problemas, a pesquisa aponta algumas saídas: criar projetos de elevação de escolaridade, políticas de recursos humanos que desenvolvam avaliações que não dependam, exclusivamente, do certificado de cursos, políticas públicas que formem cidadãos sempre ficcionalização nas atividades ligadas ao setor, entre outras.

Remuneração

Outro cenário apontado como decisivo para a escassez de mão de obra na construção civil é a baixa remuneração. Nesse sentido, Maria Carulina Neves Mota, elucida sobre como se dá os salários em Goiânia. “Os locais que pagam mais ficam com os melhores profissionais. Empresas que não conseguem pagar tão bem às vezes não conseguem esses profissionais”, assim explicando a relação entre qualificação e remuneração. 

Sobre isso, Luiz Henrique Miranda, explica: “Um ajudante ganha em média o salário mínimo, e o pedreiro na carteira também ganha uma média de R $1.800. Esses salários não podem ser considerado um salário bom, ainda mais o trabalho deles que é muito exaustivo é um trabalho que que a pessoa passa o dia todo no sol entendeu é um trabalho pesado não chega a ser perigoso, mas é um trabalho no sol quente que que tem muita ação de intempéries de sol e chuva”. 

Dessa forma, corroborando com os dados coletados pelo Observatório Fieg, que 62,1% dos entrevistados que trabalham na construção civil, acreditam que “Melhores Salários” atraíram mais funcionários para o setor. Além disso seriam motivo para permanência desses na área. 

Para os engenheiros consultados, a escassez não está ligada aos perigos que a profissão representa, pois os funcionários que executam estas tarefas, tendem a ser qualificados para isto. “Se a pessoa tiver conhecimento e qualificação para mexer numa rede elétrica, por exemplo, ela não vai tornar aquele serviço perigoso”, explica o engenheiro.

Socioeconômico

Se faz substancial elencar o cenário brasileiro socioeconômico com a problemática da mão de obra, além da baixa escolaridade, baixos salários, riscos atrelados às demandas de trabalho, o que mais pode está afastando o trabalhador de seu posto. Estão entre os pontos divulgados pela Fieg: Transporte para o local da obra; os superiores serem mais cordiais com funcionários; eventos comunitários e esportivos; boa alimentação; melhores benefícios entre outras características que contribuem com a dignidade do funcionário. 

Sobre isto Luiz Henrique Miranda, afirma, “motivos das evasões dos funcionários de algumas obras são por causa de de álcool, eles bebem muito eles consomem muito eu não sei se está atrelado alguma coisa em relação a pobreza mas a maioria dos trabalhadores da do mercado da construção civil tão numa linha de pobreza, faz com que é isso vá acarretando alguma algumas inconveniências”. 

Assim, alertando para os problemas que estão além das atribuições de funções, mas também ligadas à saúde. Nesse sentido, a Fieg aponta que 19% dos trabalhadores da construção civil em Goiás não se sentem valorizados no local de trabalho. Isto corrobora para uma situação que deve ser colocada em evidência pelos empregadores.

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