Inflação encarece medicamentos e produtos farmacêuticos

Gastos das famílias com saúde passaram de uma elevação de 0,82% em março para uma alta de 1,49% em abril

Postado em: 15-05-2023 às 07h44
Por: Alexandre Paes
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Gastos das famílias com saúde passaram de uma elevação de 0,82% em março para uma alta de 1,49% em abril. | Foto: Agência Brasil

Quando se fala em saúde no Brasil, um dos problemas é o elevado custo dos remédios. Para se ter uma ideia, a inflação ficou em 0,61% na passagem de março para abril, e essa alta foi puxada pelo preço dos medicamentos. E quem mais sofre com essa situação são os idosos e pessoas com doenças crônicas, que precisam de medicamentos contínuos. 

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os brasileiros com mais de 70 anos comprometem 5,2% da renda mensal com remédios. A pensionista Grassuita Maria Leite, 58, é hipertensa e ainda possui problemas cardíacos. Ela acaba sobrevivendo com a ajuda dos filhos, principalmente nos últimos dois meses, com o reajuste e alta da inflação nos medicamentos.

“Desde 2016 meu médico me passou remédios para o coração, pressão e ansiedade. Todo mês deixava quase R$500 na farmácia. Só que desde os últimos dois meses, aumentou R$150. Quem recebe um salário mínimo é complicado. Metade da minha renda é para me manter saudável”, desabafa Grassuita.

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Cíntia Ribeiro, 34, tem um filho caçula, que é portador de asma e precisa usar continuamente bombinhas para a doença crônica. Até março ela pagava cerca de R$100 com desconto de farmácias populares, mas agora o valor mínimo que ela encontra é de R$124.

“Mesmo com o desconto da farmácia, cada bombinha aumentou de R$18 a R$24. Se eu não tivesse esse benefício, pagaria mais de R$165. Eu estou tendo que desembolsar R$80 a mais desde abril para comprar os medicamentos do meu filho. Sempre sobra para o consumidor final”, argumenta a jornalista.

O bolso do seu Alceu Lima, 70, também está sentindo a alta da inflação, já que os gastos com os remédios de circulação e analgésicos triplicaram. “Toda ida na farmácia eu deixo praticamente R$200. E esse valor é quase que semanal ou a cada 10 dias. Para quem é aposentado, fica difícil sobreviver”, conta.

Aumento supera salário-mínimo

Como os remédios em geral são produtos de necessidade do indivíduo, não há como o consumidor fugir da compra do produto. Segundo a economista Adriana Pereira, esse aumento da inflação reflete uma perda do poder de compra do consumidor. “Como o IPCA mede a inflação, o índice está relacionado ao aumento do preço de produtos consumidos em sua maioria pela população”, explica.

Os gastos das famílias com Saúde passaram de uma elevação de 0,82% em março para uma alta de 1,49% em abril, o equivalente a uma contribuição de 0,19 ponto porcentual para a taxa de 0,61% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no último mês, informou o IBGE.

O resultado foi puxado pela alta de 3,55% nos produtos farmacêuticos, com uma contribuição de 0,12 ponto porcentual para a inflação do mês. A alta ocorreu após a autorização do reajuste de até 5,60% no preço dos medicamentos, a partir de 31 de março.

Considerando que o aumento do salário mínimo, no período dos últimos 12 meses, foi de 8,91%, e o preço dos medicamentos teve aumento de 5,60%, os números mostram que o reajuste do salário-mínimo não representa o ponto de vista real, já que quem compra muitos medicamentos teve seu rendimento consumido.

“De fato o salário mínimo não subiu os 8,91%, já que 5,60% está sendo consumido pelos medicamentos, principalmente aqueles pacientes com doenças crônicas, idosos, aposentados e pensionistas que em sua maioria dependem dos remédios. Nesse sentido, a inflação impacta diretamente o consumidor”, ressalta a economista.

De acordo com Adriana, essa parte da população que utiliza medicamentos frequentemente tem que pesquisar e buscar adquirir remédios genéricos e similares para que aperte menos o bolso. “É importante o consumidor pesquisar nas farmácias e drogarias as melhores ofertas dos medicamentos prescritos pelos profissionais de saúde”, destaca.

“As pessoas precisam buscar alternativas de produtos e substitutos para conseguir encaixar esses produtos na sua lista de consumo. Talvez não seja a melhor saída, e sim a única alternativa que o consumidor tenha para escalar da alta inflacionária do setor farmacêutico”, conclui Adriana.

IPCA deve desacelerar

Puxada pela alta nos medicamentos, a inflação ficou em 0,61% na passagem de março para abril. O resultado indica uma desaceleração em relação ao mês de março, quando ficou em 0,71%. Os dados são do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e foram divulgados pelo IBGE

Todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados apresentaram alta, segundo o IBGE. O destaque ficou para o grupo Saúde e cuidados pessoais, que registrou a maior variação (1,5%) e foi responsável por 0,19 ponto percentual da inflação no mês.

“O resultado nesse grupo foi influenciado pela alta nos produtos farmacêuticos, justificada pela autorização do reajuste de até 5,60% no preços nos medicamentos, a partir de 31 de março”, explica o analista da pesquisa, André Almeida, destacando a contribuição de 0,12 p.p. desses itens no mês.

Já os preços dos planos de saúde tiveram alta de 1,20%. Segundo o IBGE, houve incorporação das frações mensais dos reajustes dos planos novos e antigos para o ciclo de 2022 a 2023.

Os economistas preveem que a inflação acumulada em 12 meses vai desacelerar até meados de junho, quando volta a pegar tração e terminar o ano ao redor de 6%. Nesse cálculo, sai da conta o efeito das desonerações dos combustíveis, que no ano passado levou o IPCA a registrar três meses seguidos de queda nos preços. Em 2022, o IPCA fechou em 5,79%.

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