Número de empreendedores na periferia cresce em Goiás

ExpoFavela em Goiânia é a primeira fora do estado de São Paulo, com uma visão de conectar os empreendedores das favelas e periferias goianas aos investidores do “asfalto”

Postado em: 22-05-2023 às 08h00
Por: Anna Letícia Azevedo
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ExpoFavela em Goiânia é a primeira fora do estado de São Paulo, com uma visão de conectar os empreendedores das favelas e periferias goianas aos investidores do “asfalto”. | Foto: Wagner Pereira

O estado de Goiás conta atualmente com 382 comunidades, 1,2 milhões de habitantes e 307 mil famílias. Os dados foram levantados pela Central Única das Favelas (Cufa), em pesquisa realizada entre 7 e 13 de março de 2023 em 2.423 entrevistas em 432 periferias. 

Ainda de acordo com o levantamento, 52% dos entrevistados já mentiram sobre a localização em entrevista de emprego. Por conta disso, algumas pessoas que moram nessas regiões resolveram abrir o próprio negócio. 

Aconteceu em Goiânia a Expo Favela Innovation Goiás, a maior feira de inovação e empreendedorismo que conecta a favela e o asfalto, durante a sexta-feira (19) e o sábado (20/05) do último final de semana. Este é um evento realizado pela Cufa, no Centro de Convenções da capital, com dois dias de exposição de ideias, feira, palestras e um espaço destinado a investidores conhecerem empreendedores periféricos. Com a proposta de mudança de paradigmas para aqueles que estão às margens do sistema capitalista, assim ampliando o horizonte de oportunidades.  

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A Expo Favela em Goiânia é a primeira fora do estado de São Paulo, com uma visão de conectar os empreendedores das favelas e periferias goianas aos investidores do “asfalto”, uma vez que empresários bem sucedidos do estado ocuparão o mesmo espaço. Dessa forma, dando a oportunidade de visibilidade a pessoas como Nyna Koxta, uma mulher negra moradora do Setor Antônio Barbosa, que trabalha com moda africana e mantém uma ação social ligada ao seu empreendimento.

“Olha, por causa do propósito, não é só vender os produtos, mas sim vender a ideia para os empresários, os possíveis investidores, e eu tenho um trabalho e ele faz a parte social eu preciso apresentar esse trabalho, eu quero ampliar principalmente o meu projeto social e tem por trás da marca”, explica Nyna Koxta, sobre a oportunidade de estar expondo no evento.

A feira entregou uma concepção diferente, de ambiente e ideias, que está além de puro investimento. Dessa forma, contando com local de vendas e exposição de negócios, conferências, mentorias, rodada de negócios, shows com cantores, apresentações culturais, encontros, games, entre outras atrações. Este combo de atrações, ocasionando um espaço para que a cultura existente nas periferias goianas possa ser manifestada e apresentada ao público, as ideias em sua diversidade apreciadas e as pessoas periferias valorizadas. 

Oportunidade

Os empreendedores apresentaram uma paleta diversa de tipos de empreendimentos, como, artesanatos, arte, moda, tecnologia, engenharia e até empresas de consultoria. Nesse sentido, a democratização do espaço no mercado de trabalho para aqueles que vivem nas periferias dos centros urbanos. 

Assim sendo, Wanderson César, vice-presidente da Cufa Goiás, explica a importância deste evento em território goiano. “O impacto direto é levar para esses bairros periféricos de Goiânia, de Goiás, mostrar para essas pessoas que podem andar com seus negócios, consolidados. E aquelas pequenas ideias não são pequenas, são ideias que podem ser transformadas, mas que precisa de um agente transformador que seria o quê? O investidor financeiro, uma pessoa que possa ali realmente investir e fomentar de alguma forma aquela ideia e aquele negócio”.

Dessa forma, o evento proporcionou a estes empreendedores um espaço de crescimento. “Nacionalmente falando é permitir isso, a conexão entre empreendedores da base da pirâmide com grandes investidores, com pessoas que já estão consagradas nos seus mercado, com suas indústrias, com seus negócios e permitir que essas pessoas possam mentorar essas pessoas que estão começando com seus negócios. E que eles possam ter essa escalada financeira no seu empreendimento e alcançar lugares mais altos porque nós sabemos que tem muitas ideias inovadoras nas periferias, principalmente no nosso estado e nós queremos permitir a essas pessoas que busquem isso e nós possamos entregar da melhor forma”, afirma Wanderson César.

Ademais, ele explica que essa escalada financeira é possibilitada no evento,  “trazendo todo esse pessoal que são os vamos dizer que é o PIB [Produto Interno Bruto] goiano vai estar aqui presente para poder de alguma forma incentivar aqueles negócios que tenho certeza que a maioria aqui serão grandes negócios futuramente”, completa ele otimista em relação aos objetivos dos expositores. 

Propósito

Para a participação do evento foram selecionados negócios não apenas com potencial de crescimento, como também que retratam preocupação social. Nyna Koxta revela qual o objetivo de seus sonhos no mundo dos negócios. “Eu faço roupa, mas eu não vendo só roupa. Eu trabalho em autoestima e empoderamento das pessoas negras, pessoas com síndrome de Down, Mulheres com câncer de mama, cadeirantes, autistas, surdo, mudo, tudo isso em geral, são pessoas que eu coloco na minha passarela. Eu tenho um projeto chamado Moro Inclusivo na Passarela, eu faço desfile, eu produzo toda a galera com roupas e acessórios africanos”. 

Nesse sentido, com um empreendimento que busca valorizar as raízes africanas, ela dá oportunidade a pessoas que também estão às margens sociais de ocupar novos espaços. “Eu não pego os modelos de passarela comercial para a minha passarela. O meu projeto mesmo é colocar as pessoas que não tem está numa passarela comercial para entrar na minha passarela e descobrir novos talentos. Eu tenho uma menina de síndrome de Down que me desfilou pela primeira vez na vida na minha passarela e hoje em dia ela faz comercial. É isso que eu quero procurar e dar oportunidade a essas pessoas, principalmente aos modelos negros que não tem muita oportunidade nas agências”, completa a empreendedora. 

Além disso, as palestras da feira contam com temas como, “Empreendedorismo Afro, empoderamento feminino e seus desafios”. “A importância da tecnologia e inovação para o presente e o futuro dos negócios” e Acesso à educação: Uma importante Conquista”, entre outros tópicos sobre o empoderamento de empreendedores periféricos. Na tarde da ultima sexta-feira (19/05), Preto Zezé, presidente da Cufa, empreendedor, produtor artístico e musical, escritor e ativista brasileiro, falou durante o evento sobre a tomada de espaços que são dominados por pessoas brancas, por negros. Com o objetivo de ressaltar que negros devem seguir seus sonhos e lutar pelos espaços que almeijam, especialmente no mundo dos negócios. 

Goiás

A feira já consagrada em São Paulo, este ano começa a percorrer 20 estados do Brasil, assim sendo Goiás o segundo estado brasileiro a receber o evento. Esta série de feiras finaliza em dezembro em seu estado de origem, São Paulo, com as ideias vencedoras entre as Expo Favelas pelo país. 

Dessa forma, o vice-presidente da Cufa Goiás, explica: “Nós temos a parceria com a Fundação Dom Cabral e a favela mundos que eles montaram uma curadoria e essa curadoria selecionou 100 empreendedores e nesse empreendedor saíram 10 ideias e essas 10 ideias elas ao final terão ali os vencedores, que ao ao final de toda toda Expo Favela que ocorrerá em 20 estados, será produzido um reality show com os grandes campeões, e o vencedor receberá um prêmio de  R$ 20 mil”.

Para isto, ocorrer em todas as Expo Favelas, são selecionados empreendedores para estarem no espaço de expositores, ou seja, apresentarem suas ideias a possíveis investidores. Além desses, o evento proporciona um espaço de feira, para aqueles que não foram selecionados como expositores ainda terem a oportunidade de mostrar o seu trabalho. 

Como exemplo, a Dona Marli, uma artesã que faz bonecas de pano com material reciclável, que ela cata. “Eu trabalho com artesanatos, bonecas de pano, materiais reciclados e macramê. Uso latas, garrafas que cato sozinha”. A pequena empreendedora realiza suas vendas por encomendas e feiras, e pode levar a Expo Favela o que aumentou o seu público.

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