Goiás tem 317 mil analfabetos entre pessoas de 15 anos ou mais

Ao todo, 6,1% da população goiana não sabe ler. Idosos e negros somam o maior contingente

Postado em: 04-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Ao todo, 6,1% da população goiana não sabe ler. Idosos e negros somam o maior contingente

Rafael Melo

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Em Goiás, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade foi estimada em 6,1% (317 mil pessoas). Já no que se refere a investigação por raça ou cor, a separação é um subsídio inédito, mas que veio mostrar mais uma vez que brancos têm mais acesso à educação no país do que negros. A taxa entre pretos e pardos do total desse grupo de pessoas é de 9,9%, mais que o dobro da de pessoas brancas (4,2%). A predominância de populações mais velhas também foi constatada pelas pesquisas. A taxa de analfabetismo de pessoas com 60 anos ou mais é a mais alta do país, de 20,4% ou 6,07 milhões de pessoas.

Em contrapartida, o último levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) constatou que houve uma queda na taxa de analfabetismo do país. A pesquisa difundida em dezembro de 2017, mostra que em 2016 o percentual caiu para 7,2%. Em comparação a 2015, momento em que 8% dos brasileiros com 15 anos ou mais não sabiam ler ou escrever. Especialistas afirmam que o contingente maior de analfabetos nas camadas mais velhas da população remonta deficiências de alfabetização do século passado. Já a diferença de acesso entre negros e brancos é explicada pelo fato de haver mais negros vivendo em áreas carentes do país.

Apesar da quantidade de analfabetos no país ainda ser um fator alarmante, mesmo com inúmeros programas e movimentos educadores, esse mecanismo obriga o mercado de trabalho a se questionar quando se depara com dificuldades de capacitação. No entanto, há diferenças entres ter um título de conclusão dos estudos e, ainda assim, não ter conhecimentos básicos de leitura e escrita. Estima-se que dos 11,5 milhões de brasileiros analfabetos existentes, 5,3 milhões deles afirmam já terem frequentado a escola, o que corresponde uma margem de 46% desse grupo de pessoas que não conseguiram aprender a ler e escrever.

Para a professora da Faculdade de Educação da USP, Sônia Krupa, não é surpresa alguma a diferença na escolarização de negros e brancos. “Em todos os direitos básicos, há discrepância no acesso entre raças. Jovens negros da periferia, por exemplo, morrem quatro vezes mais que brancos. Isso já explica muita coisa”, disse Krupa. “A desigualdade social produz também desigualdade da educação”, complementa a professora de uma das instituições mais conceituadas do país.

Os programas de alfabetização

O IBGE também estimou que 1,7 milhões de pessoas que frequentam os cursos chamado Alfabetização de Jovens e Adultos ou Educação de Jovens e Adultos (EJA). Esses cursos geralmente são ministrados à noite para pessoas atrasadas em seu nível de escolaridade. Esses cursos substituíram os antigos supletivos. De acordo com as pesquisas, muitos alunos que frequentam a escola não estão na série adequada a sua idade. Das crianças de 6 a 14 anos, 96,5% estão na série correta do ensino fundamental. A estatística mostra, porém, que nos anos finais do ensino fundamental, há percentual menor de jovens na idade correta para determinada série. Na faixa etária de 11 a 14 anos de idade, 84,4% estavam na série adequada.

Oportunidades 

Ainda segundo o IBGE, do total de estudantes no Brasil, 73% frequentam instituições da rede pública, enquanto 26,5% estudam em escolas e universidades privadas. Essa relação muda conforme o curso frequentado. Instituições privadas são maioria na graduação (74% contra 25,7% públicas) e nas especializações, mestrados e doutorados (67,1% contra 32,9% públicas).

No ensino fundamental e médio, porém, o percentual de alunos na rede pública é muito superior, de 83,4% e 85,8%, respectivamente. Na creche, 27 por cento dos alunos frequentam unidades privadas, enquanto 73%, instituições públicas. A falta de creches é algo que atinge as regiões mais pobres do país. Enquanto a parcela de alunos de até 3 anos fora da creche no Brasil é de 30,4%, na região Norte, por exemplo, o indicador fica em 14,4%. No Centro-Oeste, a taxa é de 25% e no Nordeste, 27,2%. Sul (38%) e Sudeste (35,9%) têm taxas acima da média nacional. 

Pedreiro recomeça estudos em busca do tempo perdido 

O Brasil tem 3,6 milhões de alunos frequentando a Educação de Jovens e Adultos (EJA), proposta educacional customizada às necessidades de alunos com idade superior a 18 anos. Em 2016, um em cada cinco estudantes desta modalidade de ensino tinha 40 anos ou mais, mostrou os dados do Censo Escolar de 2016.  Pessoas que, na a infância e na juventude, não puderam se dedicar aos livros e perceberam na prática a falta que eles fizeram ao longo da vida. Adultos que, mais do que incentivar os filhos a estudar, passaram a buscar a formação educacional para si mesmos. 

O pedreiro José Cícero Pinto de Oliveira, 49 anos, pertence à estatística. Mesmo após o cansativo dia de trabalho, após o expediente, ele vai para o banco na escola. O pedreiro está prestes a concluir, em junho deste ano, o Ensino Médio, por meio do programa Ensino Consciente, da construtora da Capital, que disponibiliza o EJA em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi). As aulas acontecem no canteiro de obras onde ele trabalha.

Deixar a escola não foi uma escolha na vida dele. O pedreiro, que residia na região Nordeste, conta que o pai deixou a família, e como irmão mais velho teve que assumir o papel de “homem da casa” aos 13 anos de idade. Nesta época, cursava a 4ª série do Ensino Fundamental. “No Nordeste ou você trabalha ou ajuda pai e mãe a colocar comida dentro de casa: saco vazio não para em pé”, resume o pai de duas meninas. A mais velha, com 17 anos, também vai concluir o Ensino Médio neste ano. Já a caçula, de 10 anos, segue os passos do pai estudante.

Ele não se limitou apenas em estimular as filhas a estudarem.  Retomou os estudos há cinco anos depois de perceber que há ainda a oportunidades em tempo tardio. “Vejo uma mini pá carregadeira na obra que, no momento, está parada porque não tem ninguém que sabe operá-la. Meu sonho é fazer o curso deste equipamento”, anseia. 

A iniciativa do projeto

A escola instalada na obra de um edifício em Goiânia, atende a uma turma de 16 alunos e idade média na faixa dos 35 anos. A empresa investe na formação escolar dos colaboradores como forma de proporcionar a cidadania e a oportunidade de crescimento profissional dentro da obra. “Há funções no canteiro que dependem de escolaridade”, diz o Coordenador de Responsabilidade Social da Consciente Construtora, Felipe Inácio Alvarenga. 

A professora de José Cícero, Leysa Dayane Barbosa Gonçalves, relata que muitos alunos se sentem frustrados por não conseguirem ajudar os filhos com as tarefas escolares, e isto também os motiva a retornarem à escola. Ela reconhece o empenho dos alunos para superar o aprendizado após um dia de trabalho. “Eles têm que vencer o cansaço, e este é um fator que influencia muito no aprendizado”, pontua. 

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