Período de estiagem deixa vazão do Meia Ponte perto do nível de atenção

De acordo com o Cimehgo, a Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte é a principal fornecedora de água para a Região Metropolitana de Goiânia

Postado em: 26-05-2023 às 08h05
Por: Larissa Oliveira
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O Cimehgo afirma que, hoje, a água do reservatório da Barragem do Ribeirão João Leite atende 70% da população | Foto: Divulgação/ Samuel Straioto

Não chove na bacia do Rio Meia Ponte de forma regular há mais de 28 dias, de acordo com o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), principalmente nos pontos de captação de água em Goiânia e regiões conurbadas, que são a união de duas ou mais cidades devido a expansão.

Além disso, o órgão prevê que a estiagem deve durar mais tempo e com temperaturas mais altas se comparado com períodos anteriores. A previsão de seca para 2023 é de muita intensidade, devido a irregularidade das chuvas, redução na disponibilidade dos recursos hídricos, entre outros fatores.

Segundo o Relatório de Segurança Hídrica do Cimehgo, a vazão do Rio Meia Ponte na Região Metropolitana de Goiânia se aproxima do nível de atenção. A diminuição na quantidade de água corrente no manancial já é reflexo dos primeiros dias do período de estiagem, que começa ainda no mês de maio e deve se estender até outubro. A vazão de escoamento da água do Meia Ponte está em 13 mil 179 litros por segundo, apenas 1 mil 179 litros acima do nível de atenção, que é 12 mil litros por segundo.

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Inconstância

Com as vazões de escoamento do manancial, no ponto de controle, abaixo das médias históricas, a Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Social (Semad) e o Sistema Estadual de Gestão de Recursos Hídricos têm mantido permanente estado de atenção quanto ao monitoramento e evolução do escoamento do rio Meia Ponte. Em pouco tempo, a bacia do Meia Ponte apresentou grande variação de vazão. Em 28 de janeiro, por exemplo, a vazão chegou ao seu nível máximo em 2023, em cerca de 54 mil litros por segundo.

Já no dia 15 de maio, data dos últimos dados divulgados pelo Cimehgo, a vazão média registrada foi de 15.247 litros por segundo. Desde então, está em queda constante, devido a falta de chuvas para recarregar os afluentes e lençol freático. De acordo com o Cimehgo, quando se chega a 12 mil litros por segundo de vazão de escoamento, nível considerado como sendo de atenção, inicia-se a divulgação da situação da Bacia do Rio Meia Ponte e sobre uso racional da água nos meios de comunicação e mídias sociais. 

Após o nível de atenção, há o nível de alerta, que ocorre quando a vazão de escoamento é menor ou igual a 9.000 L/s. Na sequência, caso o volume de água no Meia Ponte continue reduzindo, há quatro níveis críticos, que ocorrem quando a vazão é menor ou igual a 5.500, 4.000, 3.000 e 2.000 litros por segundo, nessa ordem. A cada nível, medidas mais drásticas vão sendo tomadas gradativamente. Segundo o Cimehgo, o objetivo é garantir prioritariamente o abastecimento de água para os seres humanos.

Meia Ponte

O Cimehgo afirma que a Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte é a principal fornecedora de água para a Região Metropolitana de Goiânia. Uma forma de amenizar os efeitos da crise hídrica em grandes centros urbanos é a utilização de reservatórios. Goiânia, por exemplo, conta com a Barragem do Ribeirão João Leite, na região norte da cidade. Há 13 anos o lago começou a ser enchido e atualmente abastece grande parte da cidade.

O coordenador do Sistema da Barragem do Ribeirão João Leite, Ivaltemir Carrijo, relatou que hoje a água do represamento é importante para dar segurança hídrica. “Esta água aqui do reservatório atende 70% aproximadamente da população e o restante é atendido pelo Meia Ponte. No futuro, a gente tirará três vezes mais água que tiramos hoje, o sistema do João Leite pode atender até 3 milhões de pessoas, e a projeção para esta população é para 2055, o que for além disso é preciso construir outro sistema de abastecimento”, afirmou.

Quanto ao enchimento da barragem, o coordenador explica que a recarga depende da alimentação de córregos e riachos tributários. Ivaltemir relatou que a chuva na área de 14 km do espelho d’água ajuda, mas não é suficiente. “Hoje estamos num nível muito bom, quase 100%, e tivemos um período razoável de chuvas. A água chega pelos tributários, que são os rios e riachos que chegam no reservatório, e se você tem muitas chuvas na região dos 18 tributários, vai somando tudo isso e tendo mais água no reservatório”, destacou.

Preocupações

Nos últimos anos, o Cimehgo tem analisado que a situação hídrica da bacia do Rio Meia Ponte apresenta piora. Segundo o órgão, a situação da bacia é agravada pelas questões climáticas, com redução das precipitações e consequente redução na vazão de escoamento do manancial. Consequentemente, comprometendo a capacidade de atender aos múltiplos usos existentes e colocando em risco não só as suas condições ambientais, mas toda a sociedade e as atividades que dependem dessas águas.

De acordo com o gerente do Cimehgo, André Amorim, a água sobe rapidamente quando chove, mas basta ficar alguns dias sem chuva, que o nível fica muito baixo. “Como uma montanha-russa, sobe e desce, reagindo à chuva, e aí que mora o perigo. A situação é preocupante não só para a administração pública, que tem mecanismos para minimizar a situação, mas precisa da união de todos para passar pelo período de estiagem. Pensar em crise hídrica é pensar no futuro, pensar com consciência”, destacou.

Outra preocupação é quanto a incidência de fenômenos climáticos, como o El Niño e a La Niña. O primeiro é o aquecimento das águas do Oceano Pacífico e o segundo se trata do resfriamento. Os fenômenos refletem nas temperaturas e também nos ciclos de chuva. “A expectativa é que a seca seja um pouco mais prolongada, estamos com a iminência do El Niño, que traz temperaturas mais elevadas, consequentemente as pessoas vão consumir mais água. Portanto, precisamos fazer o uso racional dos recursos hídricos”, explicou.

Consciência

Segundo a Semad, a água é um recurso natural e limitado, imprescindível à vida e a todas as atividades exercidas pelo ser humano. Ela precisa ser gerida de forma racional, com planejamento, de forma articulada, pensando no uso múltiplo, fazendo com que todos tenham acesso a ela, em quantidade e qualidade necessários às suas atividades, e inclusive para que se possa garantir, em caso de escassez, os usos prioritários.

A saída vital e que pode amenizar eventuais impactos negativos da redução dos níveis de vazão da bacia do Rio Meia Ponte é o uso consciente da água. O professor Marcelo dos Santos Targa, especialista em hidrologia, explica que é um mito que a água um dia possa acabar. “Na realidade, a água circula pelos diversos elementos do ciclo hidrológico, hora está no solo, subterraneamente, em aquíferos, na atmosfera, depois vira nuvem, chove, evapora, vai para o oceano e esse ciclo nunca acaba”, orienta.

Segundo Marcelo, o consumo mundial de água aumenta a cada ano. “O consumo mundial de água está relacionado às melhorias de condição de vida e a gastos excessivos, que aumentam a cada ano, além da área de agricultura irrigada, que aumenta todo ano, e, se aumenta a área irrigada, aumenta o consumo de água. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), desde a década de 80, o consumo de água aumenta 1% ao ano”, expõe. 

O especialista também alerta que, nos próximos anos, é possível que haja uma grande crise de abastecimento de água. “Pois não se consegue reduzir o consumo excessivo de água e nem o aquecimento global. Além das ações de conservação serem locais, elas dão um efeito de contribuição razoável. Se todos se unissem para realizá-las, teríamos um resultado muito melhor, mas, na maioria das vezes, essas ações não têm continuidade”, argumenta.

Além disso, o professor destaca que as indústrias consomem mais água do que a população. “Os dados da ONU comprovam que a indústria consome cerca de 20% da água doce do planeta. Aqui no Brasil, por exemplo, cerca de 10% da água doce é utilizada pela indústria”, afirma. Por fim, o especialista ressalta sobre a importância da economia de água. “Nas indústrias, deve-se utilizar água de reuso e a captação de água em telhados para uso em atividades que não colocam em risco a saúde humana. Também deveria ser feito o controle da irrigação e o uso de sistemas mais eficientes que promovem melhor uso da água, reduzindo as perdas”, finaliza Marcelo dos Santos Targa.

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