Redução de até 10% no preço dos carros deve aumentar vendas do setor

Descontos que incidirão sobre o valor dos veículos irão de 1,5% a 10,96%, de acordo com critérios de preço, eficiência energética e densidade industrial

Postado em: 30-05-2023 às 08h05
Por: Alexandre Paes
Imagem Ilustrando a Notícia: Redução de até 10% no preço dos carros deve aumentar vendas do setor
Descontos que incidirão sobre o valor dos veículos irão de 1,5% a 10,96%, de acordo com critérios de preço| Foto: Divulgação/ Alex Malheiros

Nos últimos anos comprar um veículo tornou-se algo caro, já que desde 2020 a indústria automobilística vinha sofrendo com o aumento no custo da produção. Mas na última semana, o brasileiro comemorou o anúncio realizado pelo Governo Federal, referente a redução de impostos com o objetivo de diminuir o valor final de carros novos no Brasil. A medida será possível com a redução das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do Programa de Integração Social e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) para a indústria automotiva.

Segundo as informações dadas pelo vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, os descontos que incidirão sobre o valor dos veículos irão de 1,5% a 10,96%, de acordo com critérios de preço, eficiência energética e densidade industrial no país. A medida vale para carros de até R$ 120 mil.

De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o preço final ao consumidor pode cair para menos de R$ 60 mil, conforme a política de cada montadora. Atualmente, não é possível comprar um carro popular por menos de R$ 68 mil. O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, explicou à Agência Brasil que é importante que o benefício seja de pelo menos 12 meses, para melhor planejamento e investimentos da indústria.

Continua após a publicidade

Contudo, ainda não há definição de qual será o nível de redução das alíquotas e como o governo compensará o benefício. A medida está em discussão no Ministério da Fazenda, que terá 15 dias para apresentar os parâmetros que serão usados na edição de um decreto (para reduzir o IPI) e de uma medida provisória (MP) (para reduzir PIS/Confins) que será encaminhada para aprovação do Congresso Nacional.

Carros populares 

Os chamados “Carros populares” são uma categoria de veículos mais baratos, voltados aos trabalhadores com menor poder aquisitivo. Também conhecidos como carros “de entrada”, esses modelos geralmente têm menos opcionais de fábrica para baratear o seu custo de produção. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o preço dos carros populares no Brasil. “Qual é o pobre que pode comprar um ‘carro popular’ por R$ 90 mil? Um carro de R$ 90 mil não é popular, é para a classe média”.

De acordo com a Anfavea, atualmente poucos carros são considerados “de entrada” no Brasil, como por exemplo o Renault Kwid e o Fiat Mobi, que custam a partir de R$ 68.990. Já o Peugeot 208 e o Citröen C3, a partir de R$ 69.990. Até o momento, ainda não se sabe quanto vai custar cada um desses modelos “de entrada” com as mudanças anunciadas pelo governo.

Para Daniel Barbosa, executivo de vendas da Saga Seminovos, em Goiânia, é possível que o setor tenha um crescimento de até 30% nas vendas de veículos novos após essa suposta queda anunciada. “A maioria dos clientes opta por comprar um carro financiado, e com essa redução, mesmo que as taxas de financiamento não estejam atrativas, ainda deve prevalecer a compras por financiamento, principalmente em veículos populares”, destaca o executivo.

Após as flexibilizações por conta da pandemia, aumentou o número de pessoas em busca de veículos seminovos, e uma das principais causas desse crescimento é a falta de alguns veículos novos a pronta entrega. “Um pequeno percentual de concessionárias que possuem a opção de veículos zero km a pronta entrega. Então o mercado de seminovos ampliou esse leque, oportunizando que o cliente pague e leve o veículo de ‘imediato’, sem ter que aguardar a produção ou encomenda que leva de três a nove meses”, explica Daniel.

Ainda não se sabe, mas a expectativa (do governo federal e das montadoras) é que os carros populares mais baratos custem menos de R$ 60 mil. A intenção inicial do governo era ter carros populares na faixa de R$ 45 mil a R$ 50 mil, mas a ideia se mostrou inviável. Passou-se, então, a buscar uma equação para que alguns modelos fossem oferecidos na faixa entre R$ 50 mil e R$ 60 mil.

Produção dos últimos anos 

Segundo a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), o setor automobilístico passa por impactos devido à conjuntura econômica nacional e mundial. Em 2019 foram produzidas 2,8 milhões de unidades de veículos leves e licenciados 2,7 milhões, o que representa 95% do total. Já no ano de 2022, a produção teve queda para 2,2 milhões de unidades e 1,7 milhões de licenciamentos, 78%.

Considerando o primeiro quadrimestre de 2023, foram produzidas quase 700 mil unidades e licenciadas 500 mil, apenas 74% do total.É notório que além da queda na produção, também ocorreu uma redução ainda mais intensa na venda de veículos. Esses dados são da Anfavea e mostram como tem aumentado a ociosidade nos pátios das montadoras.

Dados da Pesquisa Industrial do IBGE (PIM-PF) mostram que a fabricação de veículos vem caindo desde o final de 2022, especificamente em Goiás, quando encerrou o ano com retração de 6,1%. De janeiro a março de 2023 o setor já acumula perda de 19,2%. “A medida de redução de impostos lançada, de alguma forma, contribui para a melhora desse cenário, ainda que haja a preocupação com a questão fiscal”, apontou a Fieg.

A expectativa é de que haja um aumento na venda de automóveis em torno de 200 mil unidades. A projeção é de que as vendas de 2023 saiam de 2,1 milhões de unidades para 2,3 milhões, no acumulado do ano. 

Entretanto, vale destacar que por ser uma medida pontual, é preciso que venha acompanhada de uma maior oferta de crédito e, principalmente, redução na taxa de juros, senão o efeito pode acabar sendo muito pontual também. 

Afinal, a realidade nacional é de uma considerável queda do poder aquisitivo da população, juros acima da Selic para financiamentos de automóveis, que chega a 28,6% ao ano, e dificuldade de acesso a crédito, que se mostram ainda como grandes entraves desse setor. As informações foram encaminhadas pela assessoria da Fieg.

Veja Também