Goianos reclamam de aumento no preço do leite

Preço do produto chegou a sofrer aumento de mais de 20% no último ano no país

Postado em: 02-06-2023 às 07h46
Por: Redação
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Preço do produto chegou a sofrer aumento de mais de 20% no último ano no país | Foto: Arquivo/Embrapa

Pedro Paulo Lemos

Não é de hoje que a população brasileira convive diariamente com o aumento da inflação e a variação constante de produtos básicos de nossa rotina o que gera assim muita insegurança e revolta em consumidores.

 Nos últimos dias, principalmente por meio das redes sociais, diversos internautas demonstraram muita insatisfação com o acréscimo nos valores do leite e de seus derivados, parte fundamental de qualquer dieta nos dias atuais.

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A estudante Ana Beatriz Lopes, de 19 anos, relatou ao Jornal O Hoje ter sentido bastante a variação dos valores em suas últimas compras. “Fiz minha última compra nessa semana e reparei que marcas não tão famosas estavam chegando a quase R$ 6, enquanto as mais procuradas estavam passando dos R$7”, contou Ana, moradora da região do bairro Itatiaia, em Goiânia.

Preço elevado 

A empresária Maria Lorediene, de 35 anos, moradora do bairro Santo Antônio, próximo a Aparecida de Goiânia, contou que ultimamente os preços têm variado entre R$6 e R$4,99 em casos de melhores promoções.

Se por um lado as donas de casa vem sofrendo com os preços elevados, na ponta inversa da cadeia de produção do leite é possível ver o oposto, já que os produtores continuam relatando estar recebendo o mesmo valor, ou até menos a depender do caso, conforme destaca o produtor de leite, Edson Souza. 

“Aqui nós continuamos produzindo normalmente, principalmente após a normalização da pandemia, mas continuamos recebendo o mesmo valor, aproximadamente R$2 ou R$2,50 pelo litro. Se esse aumento está chegando na mesa dos consumidores, aqui o valor não está chegando da mesma forma”, relata. 

Segundo a Federação Agrícola do Estado de Goiás, a variação média do valor pago aos produtores foi de 2,30%, chegando até R$2,94 o valor do litro. Ainda segundo a Federação, o leite e seus derivados chegaram a sofrer aumento de mais de 20% entre 2022 e 2023.

O dono de um supermercado da capital, Junio José da Silva Elias, relatou baixa nos valores em sua loja. “Tem uns dois meses que o leite está em baixa. Aqui estamos recebendo das fábricas por até R$4,60 reais o litro e estamos revendendo entre R$4,99 e R$5,99 o litro.”.

O economista, Marcelo Teles, explica que o motivo para esta disparada nos preços pode ser a queda no volume de leite produzido nas propriedades rurais do estado e do país nos últimos meses. Segundo ele, depois que um crescente número de produtores reduziu a produção ou até deixou a pecuária leiteira por conta da pandemia causada pela Covid-19, nos anos de 2020 e 2021.

CPI do Leite

Desde junho de 2022, a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (ALEGO), realiza uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), com o objetivo de investigar e analisar a variação e a inconstância nos valores do leite, além dos motivos que estão levando a grande diferença dos preços pagos aos produtores e os que chegam até a mesa do consumidor.

A CPI do Leite tem como autor da proposta, o deputado Amauri Ribeiro (UB). Além disso, ele anunciou os nomes dos integrantes: Coronel Adailton (Solidariedade), como relator; Fred Rodrigues (DC), Wagner Neto (Solidariedade) e Cairo Salim (PSD). Os suplentes são Gugu Nader (Agir), Charles Bento (MDB), Dra. Zeli (UB), Veter Martins (Patriota) e Delegado Eduardo Prado (PL).

“Queremos saber onde está a falha nessa cadeia. Vamos chamar representantes de laticínios, comércio atacadista e varejista para encontrar o erro. Essa CPI trará à tona irregularidades da cadeia, como o fato de o produtor só receber 50 dias depois de entregar o leite, sem saber o valor que será pago”, afirmou Amauri Ribeiro, por meio de sua assessoria.

É sempre importante lembrar que em caso de o consumidor se sentir lesado de alguma forma, o Procon Goiânia está disponível para orientações de consumo e denúncias, de segunda a sexta-feira, exceto feriados e pontos facultativos, das 7 às 18h, por meio do número 151. Lembrando que a ligação é tarifada conforme operadora telefônica do consumidor e restrita ao município de Goiânia. 

Classe C é mais afetada 

As famílias da classe C são as que mais sentem o impacto. As que ganham entre R$ 5,2 mil e R$ 13 mil mensais, gastam em média um terço, o equivalente a 33,3%, dos rendimentos com alimentação, segundo pesquisa divulgada no mês de abril pelo Instituto Locomotiva. 

Entre as da classe B, com rendimento de R$ 13 mil a R$ 26 mil, o percentual da renda comprometida com alimentação cai para 13,2%. Para as famílias com rendimentos entre R$ 1,3 mil e R$ 5,2mil, classificadas como classes D e E, mais da metade do dinheiro recebido mensalmente (50,7%) é gasto com comida.

O estudo foi encomendado pela empresa de benefícios VR. De acordo com o estudo, para a classe C, os benefícios como vale-refeição e vale-alimentação representam, em média, entre 3% e 8,5% dos gastos com alimentação. Para as classes D e E, esses benefícios chegam a cobrir 33% dessas despesas.

A classe C, segundo a pesquisa, representa no Brasil aproximadamente 109 milhões de pessoas, a maioria negras (60%). Quase a metade dessas famílias são chefiadas por mulheres (49%) e 52% dessa população não concluiu o ensino médio. “Chefiados por mulheres porque parte é mãe solteira”, detalha o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles.

Nos últimos anos, em um processo agravado pela pandemia da covid-19, Meirelles disse que houve perda do poder de compra dessas famílias. “Há cinco anos, com 40% do valor de um salário-mínimo dava para comprar uma cesta básica. Hoje, 59% do valor do salário-mínimo dá para comprar uma cesta básica”, explica o economista, Enoque Estevão de Brito. 

Por isso, de acordo com ele, esses consumidores se tornaram ainda mais atentos aos produtos que consomem. Nessa camada da população, estratégias, como adotadas por várias marcas, de reduzir o tamanho das embalagens ou a qualidade da composição dos produtos como forma de disfarçar aumento de preços tendem, segundo Meirelles, a ser especialmente mal-vistas.

“O custo do erro na classe C é muito maior. Então, se o consumidor da classe C compra um produto que está mais barato, mas não entrega o que promete, ele vai ter que comer aquele produto o mês inteiro, porque o dinheiro que ele tinha para aquele produto era contada”, explica sobre o impacto da redução da qualidade nessas famílias. “Dentro do que cabe no bolso, vai buscar a melhor qualidade, é esse o movimento que veio para ficar, isso não vai mudar”, acrescenta.

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