Funcionários da Saúde de greve

A Saúde de Aparecida de Goiânia enfrenta crise nas estruturas de atendimento e na qualidade dos serviços

Postado em: 12-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Funcionários da Saúde de greve
A Saúde de Aparecida de Goiânia enfrenta crise nas estruturas de atendimento e na qualidade dos serviços

Gabriel Araújo*


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A paralisação dos servidores da Saúde de Aparecida de Goiânia, que começou ontem (11) e segue por tempo indeterminado, já afeta os Centros de Atendimento Integral à Saúde (Cais), Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e Programa de Saúde da Família. De acordo com a Lei de Greve, apenas os serviços de urgência e emergência não podem ser afetados.

De acordo com os servidores, a atual gestão não está cumprindo as determinações legais quanto à Lei do Plano de Carreira, além de melhores condições de trabalho e a correção do valor da data-base. “Tentamos evitar que a situação em Aparecida de Goiânia culminasse em uma paralisação, mas a falta de empenho da gestão não deixou alternativas”, ressaltou a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde), Flaviana Alves.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirmou que as reivindicações fariam os gastos do município ultrapassarem o permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). “Diante da decisão de paralisação de parte dos servidores de Saúde de Aparecida, a Prefeitura informa que continua dialogando com o Sindsaúde e espera resolver conjuntamente todos os apontamentos da categoria, da melhor forma possível, sem prejuízos à população”, afirmou em nota.

Uma equipe do O Hoje visitou o Cais Nova Era e constatou que apenas quatro médicos estavam realizando atendimento na tarde de ontem. A unidade contava com quatro clínicos gerais e nenhum pediatra, mas os atendimentos estavam dentro da normalidade no local.

Para a população, o funcionamento do Cais é fundamental para o atendimento médico na região. “Esse Cais está aqui já faz uns 30 anos, todo mundo daqui depende disso”, contou um morador que preferiu não se identificar. “A gente fica preocupado quando acontece esses negócios de greve, o atendimento às vezes é rápido e outras bem demorado”, completou.

Os servidores se reunem em frente ao Cais Nova Era, no Jardim Nova Era, e durante a tarde de ontem, apenas alguns serviços das unidades de atendimento 24 horas não estavam normalizados, como o curativo, a vacinação e o atendimento de enfermagem do Cais Nova Era. Além disso, as atividades realizadas pelos agentes de saúde comunitários e de endemias foram prejudicadas. Eles são responsáveis pelo controle do mosquito Aedes aegypti, que é vetor da dengue, febre amarela, zika e chikungunya.

O sindicato ainda informou que as negociações já estavam em andamento a pouco mais de um ano e, caso as reivindicações forem tomadas, o salário médio dos servidores iria aumentar em cerca de 30% por mês.


Falta de médicos

Há cerca de um mês, a equipe do jornal O Hoje visitou o setor Buriti Sereno, em Aparecida de Goiânia, e constatou o déficit de profissionais para o atendimento da população. Na ocasião, apenas dois profissionais estavam realizando exames físicos, enquanto o ideal, segundo a própria Secretaria, é que cinco médicos estejam trabalhando por turno, sendo três clínicos gerais e dois pediatras.

Dados oficiais cedidos pela SMS de Aparecida de Goiânia mostram que o município conta com cerca de três mil profissionais de saúde, divididos entre médicos, enfermeiras e técnicos de enfermagem. São 36 unidades básicas de saúde, cinco de unidades de emergência e uma maternidade geridos pelo poder público municipal. Segundo a pasta, são pouco mais de 700 médicos divididos em todas as 42 unidades de atendimento.

De acordo com o órgão, nas unidades de urgência e nos Centro de Atenção Integrada à Saúde (Cais), onde são ofertados serviços ambulatoriais e de emergência, são cinco médicos por turno de 12 horas, com dois pediatras e três clínicos gerais. Nestas unidades, os pacientes recebem o atendimento básico e são encaminhados para especialistas que realizam os tratamentos mais complexos.


Atendimento simples se concentra nas Unidades Básicas de Saúde 

Conforme informado pela Secretaria de Saúde do município, os atendimentos mais simples são realizados nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), que contam com profissionais que trabalham com o programa de Estratégia de Saúde da Família. Nestes casos, as equipes são formadas por um médico generalista, um enfermeiro, um técnico em enfermagem e agentes comunitários.

Estas unidades estão preparadas para realizar o atendimento em diversos casos, já que os profissionais das equipes tem uma formação generalista, prontos para atender todas as patologias. Em casos de complexidade maior, os pacientes são encaminhados para outros níveis de atenção, como o secundário, onde estão os especialistas e a terciário, em casos de internação hospitalar.

O programa de Estratégia de Saúde da Família é o projeto de atendimento básico do Governo Federal implantado no município em 1998 para reorganizar a atenção básica e primária do Sistema Único de Saúde (SUS), como os casos de consultas e solicitações de exames.


Estudo

O estado de Goiás possui 13.360 médicos, de acordo com estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa é realizada anualmente desde 2010 e busca realizar um senso de profissionais médicos do país. De acordo com o estudo, o Estado tem 1,97 profissionais por mil habitantes, o que corresponde a uma taxa menor que a nacional, de 2,18 médicos por mil habitantes.

Conforme informado, Goiás tem 61,5% dos profissionais do Estado com alguma especialidade, sendo 38,5% mulheres e 61,5% homens. O principal problema enfrentado na busca de uma melhora no atendimento é a desigualdade na concentração de médicos, Goiânia possui 8.966 profissionais, o que corresponde a 67% dos médicos de Goiás.

Para o estudo, a cirurgia geral concentra a maioria dos especialistas do Estado, são 1.124, seguida pela clínica médica, com 1.056, ginecologia e obstetrícia, com 971, pediatria 947, e anestesiologia 751. As especialidades com menor número de especialistas são genética médica, com seis, cirurgia de mão, com 12, medicina esportiva, que possui 16 profissionais, cirurgia torácica tem 17, radioterapia tem 18 e cirurgia de cabeça e pescoço e medicina nuclear, com 23.

O Brasil tem hoje 452,8 mil médicos, o que corresponde a 2,18 médicos por mil habitantes. Os homens são maioria nessa profissão, 55,1%, enquanto as mulheres são 44,9%. Em 2010, data de realização da primeira demografia médica, as mulheres eram 41% do conjunto de profissionais. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian). 

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