Brasileiros usam cada vez menos dinheiro físico

O Pix foi responsável por 12% das transações em 2022, segundo estudo do Banco Central

Postado em: 05-06-2023 às 08h16
Por: Larissa Oliveira
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O Pix foi responsável por 12% das transações em 2022, segundo estudo do Banco Central | Foto: Divulgação; iStock

Criado pelo Banco Central do Brasil em novembro de 2020, o Pix surgiu no momento certo. A medida emergencial de isolamento aplicada por conta da Covid-19 fez com que o pagamento instantâneo facilitasse a vida de muitas pessoas. Além disso, as transações com cartões de débito e crédito também aumentaram. Como consequência, os brasileiros usam cada vez menos o dinheiro impresso no dia a dia. Segundo um estudo do Banco Central (BC), o Pix foi responsável por 12% das transações de 2022.

O Pix fez tanto sucesso que, em 2020, as transações por meio do Pix somaram R$ 180 milhões. No ano seguinte, R$ 9,43 bilhões, e em 2022, R$ 24,05 bilhões. Quando se trata de transações de valores mais altos, a indicação do estudo é de que há preferência por transferências bancárias, que responderam por cerca de 65% de todo o volume financeiro de 2022. O estudo do Banco Central concluiu que há uso preponderante do Pix e dos cartões nas transações de valor mais baixo.

Segundo a entidade, isso indica o importante papel que essas operações têm na inclusão financeira. Já as transferências tradicionais consistem nas principais opções para transações corporativas, de valores substancialmente mais altos. Dessa forma, o Banco Central considerou razoável supor que o Pix e os cartões representaram importante papel na digitalização de camadas mais amplas da população. O estudo também observou crescimento expressivo da quantidade de transações com cartões.

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O Banco Central destacou que esse aumento é influenciado pela expansão de instituições financeiras, que desempenham papel relevante na inclusão financeira. Essas instituições, segundo o BC, proporcionam contas de pagamento a pessoas que anteriormente não tinham nenhum relacionamento com o sistema financeiro. Por conta disso, o estudo destacou que muitos jovens iniciam seu relacionamento com o sistema financeiro por meio desse tipo de instituição. 

Consolidação do Pix

Dentre os meios de pagamento digitais, o Pix deve manter sua popularidade e conquistar cada vez mais consolidação no mercado. Segundo o Banco Central, até junho de 2022, eram mais de 469 milhões de chaves Pix ativas, com mais de R$889 milhões transacionados em mais de 1,9 bilhão de transações no mesmo período. Dessas, 21%, aproximadamente 336 milhões de transações, foram efetuadas de pessoas físicas para empresas.

Em entrevista ao jornal O Hoje, a empresária Aglys Nadielle, dona de uma loja de acessórios femininos, informou que é muito raro receber dinheiro físico. “É quase que de cada 100 vendas, uma é paga em dinheiro físico. A maioria é feita por pix”, afirmou. Quando um cliente paga com cédulas ou moedas, Aglys explica que o troco não é mais um desafio como antigamente. “Eu sempre deixo uns trocadinhos em dinheiro na loja, mas quando não tem eu passo por pix mesmo”, disse.

De acordo com o Banco Central, os próximos passos para o Pix devem ser as ampliações de suas funções, com o lançamento do Pix cobrança, Pix débito automático e Pix parcelado, todas previstas ainda para este ano. Além disso, cada vez mais estabelecimentos passam a aceitar o Pix, que já supera as transações feitas com cartões de débito, segundo a consultoria GMattos, que aponta que houve um aumento de 65% de estabelecimentos aceitando Pix até o final do ano passado.

Dinheiro em espécie vai sumir?

A contadora, Cleonice Maria Rosa, informou que o dinheiro físico está longe de simplesmente desaparecer. “De fato, a tendência é de que o uso de cédulas e moedas diminua cada vez mais. Porém, a substituição completa de pagamentos físicos por digitais se dará apenas a longo prazo. O Pix ainda é uma ferramenta recente, com grande potencial de expansão. Outras formas de pagamentos digitais também surgirão até que digamos adeus às notas em papel”, afirmou.

A especialista em auditoria contábil também ressaltou que a desigualdade social faz com que o dinheiro físico ainda seja importante. “Embora as soluções digitais estejam em ascendência no Brasil, uma boa parte da população não tem nem acesso à internet”, disse. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada em 2020, cerca de 46 milhões de pessoas estão offline. “Isso faz com que os meios de pagamento com dinheiro em espécie sejam ainda uma necessidade para muitos”, concluiu Cleonice.

Ainda segundo a contadora, para que o dinheiro impresso deixe de existir, o governo precisaria democratizar o acesso à internet para toda a população ou essa parcela da sociedade teria que ser excluída do mundo financeiro. “Como as duas opções são bastante inviáveis, é muito difícil que o dinheiro físico seja completamente eliminado. Ele será cada vez menos utilizado até que o Brasil atinja a primeira opção. Em um mundo ideal, todos teriam acesso à educação, saúde, moradia e também internet”, enfatizou Cleonice Maria.

Lei para extinção do dinheiro vivo

Em 2020, foi apresentado o projeto de lei (PL) 4068/2020 na Câmara dos Deputados, para extinguir o papel-moeda no Brasil. A proposta é que as notas de R$ 50 sejam proibidas até um ano após a aprovação do projeto e que as demais células sejam extintas em até cinco anos. O deputado Reginaldo Lopes, que sugeriu a lei, argumenta que os crimes e a corrupção seriam quase impossíveis de acontecer e a sonegação de impostos seria reduzida, porque qualquer operação financeira poderia ser rastreada.

O PL 4068/2020 propõe que o governo federal, através da Casa da Moeda, tenha que adotar medidas necessárias para garantir acesso de toda a população aos meios de transações digitais. Segundo o Banco Central, o Real Digital deve estar à disposição da população até o fim de 2024 e, de acordo com o BC, vai propiciar um ambiente seguro e regulado para a geração de novos negócios e o acesso mais democrático aos benefícios da digitalização da economia a cidadãos e empreendedores.

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