Custo de tratamento de câncer encarece e mortes em Goiás aumentam 17% em 8 anos

Dados do Observatório de Oncologia mostram que no ano de 2022, 6.743 pessoas vieram a óbito devido a doença no estado

Postado em: 07-06-2023 às 11h55
Por: Ícaro Gonçalves
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Dados do Observatório de Oncologia mostram que no ano de 2022, 6.743 pessoas vieram a óbito devido a doença no estado | Foto: AgeCom

As mortes por câncer no estado de Goiás aumentaram 17,8% nos últimos 8 anos. Informações do Observatório de Oncologia, com dados do Ministério da Saúde (DataSUS), Instituto Nacional do Câncer (INCA) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que no ano de 2022, 6.743 pessoas vieram a óbito devido a doença no estado. Já em 2014, oito anos antes, o número registrado era de 5.720. Em Goiânia, foram 1.729 óbitos no último ano.

Os cânceres com mais casos de mortes são os de traqueia, brônquio e pulmão, com 929 óbitos registrados. Na sequência aparecem os de cólon e reto (669), mama (530), próstata (480), estômago (348) e pâncreas (325). A população masculina é a mais afetada, com a maior taxa de óbitos registrada entre as idades de 60 a 79 anos.

E as estimativas apontam para um crescimento da doença em meio a população brasileira para os próximos anos. O Instituto Nacional de Câncer projeta que, entre 2023 e 2025, são esperados 705 mil novos diagnósticos de câncer no Brasil por ano, principalmente as que estão localizadas nas regiões Sul e Sudeste, onde estão concentradas 70% da incidência.

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Presidente da Associação de Combate ao Câncer de Goiás (ACCG), Jales Benevides Santana Filho | Foto: Divulgação

Em entrevista ao jornal O Hoje, o presidente da Associação de Combate ao Câncer de Goiás (ACCG), doutor Jales Benevides Santana Filho, alerta que os diagnósticos em Goiás também devem crescer. “No triênio 2023-2025 são esperados 25,5 mil casos novos por ano. Somente em Goiânia, deve ser 6 mil casos novos por ano.

Para o médico, o aumento dos casos decorre de múltiplos fatores, incluindo fatores culturais ligados a alimentação e estilo de vida. “Com o passar dos anos nossa população tem adquirido hábitos e estilos de vida ruins. Vemos jovens fumando muito, bebendo muito, vemos a incidência do câncer de pulmão crescer tanto em homens quanto em mulheres. Também a aumento da obesidade, o consumo de enlatados e embutidos, uma dieta pobre em fibras e alto consumo de fast foods. Tudo isso é ruim para nosso organismo. Com isso a população fica mais exposta aos fatores de risco dos cânceres”, alerta Jales.

As campanhas de prevenção ao câncer são fundamentais para que possamos mudar e diminuir a incidência de câncer.

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Encarecimento e defasagem no SUS

Se por um lado os diagnósticos de câncer aumentaram nos anos recentes, por outro, o custo para o tratamento de pacientes também aumentou. Isso gera uma sobrecarga de demanda dos tratamentos tanto na rede pública como na rede privada.

As descobertas de novos medicamentos, equipamentos, tratamentos e terapias tem aumentam em muito as chances de cura do câncer, mas também encarecem o valor do tratamento. A descoberta tardia da doença, o acometimento em jovens e o uso de tecnologias caras são outros fatores. Considerando estimativas da Sociedade Norte-Americana de Câncer, os gastos com tratamento de câncer, ao nível mundial, aumentarão de US$ 290 para US$ 458 bilhões entre 2010 e 2030.

No Brasil, a maioria dos casos é detectada em estágios avançados e as estratégias de prevenção do câncer ainda têm uma cobertura muito baixa. Com isso o número de pessoas que necessita de medicamentos e terapias (mesmo as novas e mais caras) tende a ser proporcionalmente elevado.

Com isso, os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com tratamento de câncer chegaram a R$ 4 bilhões em 2022, o que representou 3% dos recursos totais destinados à saúde brasileira. Esse valor inclui os procedimentos ambulatoriais, internações e cirurgias. Na comparação com 2020, primeiro ano da pandemia da covid-19, houve crescimento de 14% nos investimentos feitos na área de oncologia.

“O SUS não consegue pagar a integralidade dos tratamentos oncológicos. Os hospitais precisam de novas tecnologias e aparelhos, capazes de tratar mais pacientes com menos efeitos colaterais. Precisamos de drogas novas, medicamentos capazes de combater o câncer na imuno e na quimioterapia. Essas medicações são caras e que as vezes pacientes do SUS não tem acesso a elas”, ressalta doutor Jales Benevides.

O médico ainda afirma que a tabela SUS, com os valores dos repasses feitos pelo governo federal ao hospital que tratam o câncer, está defasada há décadas. “A tabela de repasse do SUS não tem atualizações há mais de 20 anos. O que o Hospital Araújo Jorge recebe é uma tabela de 20 anos atrás.  Nesse período, a inflação fez crescer o preço da medicação, custos de infraestrutura dos hospitais, especialmente na pandemia. Isso coloca as instituições em uma situação financeira difícil”, finaliza.

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Financiamento em debate

No dia 1º de junho, a deputada federal Flávia Morais (PDT-GO) promoveu uma audiência pública na Câmara dos Deputados para debater o financiamento e as políticas de oncologia no Brasil. Os participantes foram unânimes em defender o aumento dos recursos públicos para prevenção e tratamento do câncer.

Segundo a deputada, a criação de um Fundo de Enfrentamento ao Câncer representa “a solução para o financiamento da oncologia” no país. “Já existe projeto de lei. Nós vamos fazer o levantamento de todos, já tem um requerimento de urgência, até de nossa autoria, pedindo que vá direto ao Plenário. Além da aprovação do projeto, a gente vai colocar uma rubrica específica para captar recursos para a oncologia”, destacou.

De acordo com Patrícia Gonçalves dos Santos, representante da Coordenação-Geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, o Brasil conta com 315 serviços habilitados para atendimento oncológico pelo SUS. Para realização de radioterapia são 91 centros habilitados.

Para o representante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), René José Moreira, a adoção do teto de gastos no País fez com que o financiamento da União para a área da saúde sofresse uma “redução significativa”. Atualmente, o governo federal paga apenas 37,6% das despesas do SUS; os demais 62,4% ficam a cargo de estados e municípios, disse René Moreira.

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