Obesidade em Goiás aumenta em praticamente todas as idades

De 2010 a 2020, em Goiás, excesso de peso em crianças e adolescentes aumentou praticamente em todas as idades

Postado em: 10-06-2023 às 10h05
Por: Larissa Oliveira
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De 2010 a 2020, em Goiás, excesso de peso em crianças e adolescentes aumentou praticamente em todas as idades. | Foto: iStock

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a obesidade infantil uma epidemia mundial. Segundo a entidade, cerca de 340 milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 19 anos, apresentam sobrepeso e obesidade. No Brasil, o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde (SISVAN/MS) constatou que mais de 820.000 crianças e adolescentes estão nessas condições, o que corresponde a quase 32% de toda a categoria. Somente em Goiânia, há mais de 2.400 jovens com essas problemáticas. No Estado de Goiás, o número aumentou para 26.400. 

Segundo os dados do SISVAN/MS, a obesidade em Goiás está aumentando em praticamente todas as idades. Em dez anos, apenas as crianças menores de 5 anos mantiveram estável o índice do excesso de peso. A constatação foi divulgada no Atlas da Obesidade no Estado de Goiás, desenvolvido por pesquisadoras da Faculdade de Nutrição (Fanut) e do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com a Secretaria do Estado da Saúde de Goiás (SES-GO). 

De acordo com o estudo, os adolescentes goianos tiveram o maior aumento no número de pessoas com sobrepeso e obesidade por faixa etária. Entre eles, no intervalo de 2010 e 2020, a prevalência teve um aumento relativo de 80%, passando de 18,2% em 2010 para 32,7% em 2020. Já as crianças entre 5 e 9 anos tiveram um aumento de 30% (passando de 25,7% para 33,5%). Nos adultos, o aumento foi de 47% (de 44,7%, em 2010, atingindo 66,7% em 2020), e nos idosos de 25% (de 38,8% passaram para 48,4%). As crianças menores de 5 anos mantiveram o índice em 15%.

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Obesidade

De acordo com o especialista em cirurgia bariátrica e aparelho digestivo, Leonardo Sebba,a obesidade é uma doença crônica e inflamatória complexa, multifatorial e de difícil manejo que cresce a cada ano em todo o mundo, sendo considerada um problema de saúde pública no Brasil. “A obesidade envolve diversos fatores, como genética, estilo de vida, alimentação, sedentarismo e fatores emocionais. Trata-se de uma doença que não escolhe idade, gênero ou classe social”, explica. 

A endocrinologista pediatra, Pietra Moleirinho, alerta para os riscos, ocasionados pelo excesso de peso, à saúde das crianças. “O sobrepeso ou a obesidade infantil favorecem o desenvolvimento de muitas outras doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, problemas cardiovasculares, articulares e ósseos”, explica. Além disso, a especialista chama a atenção para os transtornos mentais, que podem causar ou agravar a obesidade infantil. 

“É importante estarmos atentos à relação com a saúde mental. Distúrbios como ansiedade, depressão e compulsão alimentar podem tanto contribuir para o aumento de peso como ser consequência da situação estabelecida”, enfatiza. Segundo o levantamento Proteja: Estratégia Nacional Para Prevenção E Atenção À Obesidade Infantil, publicado pelo Ministério da Saúde em 2022, crianças com obesidade têm 75% mais chances de se tornarem adolescentes obesos e 89% dos adolescentes com obesidade podem se tornar adultos com a doença.

Causas

Segundo a endocrinologista, nem sempre a obesidade está relacionada ao alto consumo de alimentos ou ao sedentarismo. “Questões hormonais, metabólicas e predisposição genética, associada a hábitos de vida pouco saudáveis, são alguns dos principais fatores para o desenvolvimento da doença”, explica Pietra Moleirinho. Por isso, ela ressalta que o acompanhamento médico é importante para rastrear comorbidades associadas, como diabetes, colesterol alto, alterações da tireoide, vitamina D baixa, alterações na função hepática, entre outras. 

“O diagnóstico é clínico, mas suas causas precisam ser rastreadas através de testes laboratoriais para descobrir a origem do problema”, afirma. Em crianças, o aumento do peso ainda pode acarretar a puberdade precoce, como explica a consultora médica. “É possível ocorrerem alterações hormonais, antecipando o aparecimento de caracteres sexuais, especialmente, nas meninas. Entre eles estão pelos pubianos, brotos mamários ou a primeira menstruação antes do tempo esperado”, explica.

Prevenção e tratamento

Para evitar o aparecimento de novos casos de obesidade, ainda na infância, a especialista recomenda, aos pais e responsáveis, um conjunto de boas práticas. “Manter uma alimentação adequada durante a gestação, amamentar exclusivamente com o leite materno até os seis meses de idade, realizar introdução alimentar baseada em refeições saudáveis, estimular a prática de atividades físicas, não oferecer açúcar até os dois anos e evitar o consumo após essa idade, reduzir ingestão de industrializados, controlar o tempo de uso de aparelhos eletrônicos e combater o sedentarismo”, pontua Pietra Moleirinho.

Em entrevista ao jornal O Hoje, Mateus Monteiro, licenciado em Educação Física, ressalta que o tratamento deve ser personalizado, levando em consideração as características individuais de cada paciente. “Os profissionais de saúde têm um papel fundamental no combate à obesidade, desde a prevenção até o tratamento da doença. Devem orientar seus pacientes sobre a importância de mudanças de hábitos alimentares e da prática de atividades físicas”, destacou. 

Segundo o professor, a reeducação alimentar é apenas uma das principais medidas para evitar o ganho de peso excessivo e a obesidade. “Uma alimentação saudável é sim crucial para combater a obesidade, mas deve estar somada a uma prática de atividades físicas regulares. Mudar os alimentos alimentares não é suficiente. Para que o tratamento da obesidade seja eficaz, deve envolver tanto as mudanças alimentares quanto a prática de exercícios físicos”, concluiu Mateus Monteiro.

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