30% da água de comunidades rurais de Goiás apresenta vírus causadores de diarreias

Sem acesso à água tratada, as comunidades recorrem a fontes superficiais e subterrâneas para o consumo de água

Postado em: 15-06-2023 às 08h11
Por: Ícaro Gonçalves
Imagem Ilustrando a Notícia: 30% da água de comunidades rurais de Goiás apresenta vírus causadores de diarreias
Sem acesso à água tratada, as comunidades recorrem a fontes superficiais e subterrâneas para o consumo de água | Foto: Emasa/Divulgação

Uma pesquisa feita pelo Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (IPTSP/UFG) em 23 comunidades rurais e tradicionais do estado de Goiás mostrou que cerca de 30% da água consumida pelos moradores estava contaminada por vírus causadores de doenças gastrointestinais e diarreias.

Sem acesso à água tratada, as comunidades recorrem a fontes superficiais e subterrâneas para o consumo de água, como poços, nascentes e cisternas. Entre as fontes subterrâneas, como poços tubulares, o rotavírus foi o indicador viral mais encontrado. 

Já nas amostras de nascentes, houve a identificação de uma porcentagem de 11,8% de adenovírus humano. As amostras de cisterna vieram contaminadas com a mesma prevalência de 15,8% de adenovírus e rotavírus. “Esses resultados revelam que a população analisada está vulnerável a doenças de veiculação hídrica”, afirma a pesquisadora Graziela Bordoni no estudo.

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Também foram coletadas amostras de mananciais superficiais, água da chuva armazenada em cisternas e caminhão pipa. Um dos alertas que a pesquisa fez foi com relação à qualidade das águas retiradas de fontes subterrâneas e profundas, popularmente consideradas as de melhor qualidade.

“Infelizmente as hipóteses não se confirmaram. Esperávamos que não haveria contaminação, principalmente de poços tubulares”, afirma a pesquisadora Graziela Bordoni.

Outro dado encontrado diz respeito à contaminação de cisternas, água das chuvas, na qual foi constatada contaminação tanto na pesquisa realizada anteriormente, pelo pesquisador Fernando Lima, quanto na segunda tiragem de amostras analisadas por Bordoni. 

O estudo anterior, também associado ao mesmo projeto de pesquisa do IPTSP, avaliou a presença do enterovírus e do adenovírus nas comunidades rurais. As novas análises detectaram mais um tipo viral, o rotavírus.

Projeto

A pesquisa desenvolvida faz parte do Projeto SanRural, fomentado pelo Ministério da Saúde e pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), e envolve a Faculdade de Enfermagem e a de Engenharia Ambiental. 

O projeto tinha como objetivo abarcar as comunidades tradicionais e mais vulneráveis de forma homogênea, porém como a coleta de amostras se deu em um período pandêmico, houve a redução de 44 comunidades para 23 comunidades de fato analisadas. “Há a ideia de voltarmos às comunidades que não analisamos para preencher as lacunas que ficaram”, afirma a orientadora do estudo e professora de Microbiologia do IPTSP, Lilian Carneiro.

Segundo Graziela Bordoni, a vulnerabilidade sanitária ainda é muito presente em comunidades rurais e tradicionais, como as ribeirinhas, quilombolas e assentamentos, que apresentam ausência de condições adequadas de saneamento e saúde ambiental sem acesso às políticas públicas. Uma constante entre as 23 comunidades escolhidas foi a presença de uma vulnerabilidade individual e coletiva, social e de políticas públicas relacionadas ao enfrentamento de situações prejudiciais à saúde e ao saneamento.

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