Preço da carne cai no campo, mas consumidor sente alta nos açougues

Segundo especialistas, os supermercados e açougues estão aproveitando menor cotação do boi para aumentar o lucro

Postado em: 17-06-2023 às 09h30
Por: Alexandre Paes
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De janeiro a 6 de junho deste ano, a arroba do boi gordo recuou 14,6%, para R$ 244,90 | Foto: Wagner Pereira

O valor do boi caiu bastante nos últimos meses, mas o consumidor ainda não foi totalmente beneficiado por este movimento, e está tendo que desembolsar mais para comprar 1kg de carne. Segundo economistas, isso está acontecendo porque os supermercados não estão repassando boa parte da queda de preços de acordo com o que acontece no campo. Ao mesmo tempo, o poder de compra do brasileiro também não melhorou.

“Enquanto o boi gordo caiu cerca de 15% [entre abril e maio], o preço da carne no atacado recuou 7% aproximadamente e, no varejo, teve uma queda de apenas 2% a 3%”, diz o analista, Fernando Henrique Iglesias. “o varejo está aproveitando esse momento para ampliar a sua margem operacional [ou seja, o seu lucro]”, acrescenta. 

O analista explica que, quando os preços pagos aos produtores diminuem no campo, o varejo, tradicionalmente, não repassa a queda para o consumidor na mesma velocidade. De janeiro a 6 de junho deste ano, a arroba do boi gordo recuou 14,6%, para R$ 244,90. A arroba é uma medida do peso da carcaça bovina, cada uma equivale a 15 quilos.

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A cotação atingiu a sua maior alta em 24 de março de 2022, quando bateu R$ 352. De lá para cá, o valor despencou cerca de 30%. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA Esalq/USP). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que de janeiro até maio, as carnes recuaram 3,87% nas gôndolas dos mercados. Alguns cortes tiveram quedas maiores, como contrafilé (-5,5%), acém (-5%) e picanha (-4,4%), enquanto o patinho, por exemplo, caiu menos (-2,5%).

Para o economista Luiz Carlos Ongaratto, o preço da carne está sendo repassado gradativamente ao consumidor, e ele acredita que a justificativa é devido a maioria se encontrar endividado no momento. “Muitos estão endividados com cartão de crédito, financiamentos ou empréstimos. O preço em si da carne bovina teve queda, incluindo a carne de frango também. A proteína caiu bastante e é justificado pela queda do preço do milho. Então todo o mercado de proteínas tem baixado de preço”, analisa.

Ovos tem sido uma saída

Os dados compilados pela Gerência de Inteligência de Mercado Agropecuário da Seapa revelam um crescimento de 2,2% na produção goiana em 2022, totalizando 217,1 milhões de dúzias. Esse volume posiciona Goiás como o nono maior produtor do país, considerando tanto os Estados quanto o Distrito Federal, com uma participação de 5,3% na produção total nacional. Mesmo assim, o preço nas gôndolas continua alto para os consumidores.

Na casa da Renata Lima, estudante de 21 anos, até o ovo deixou de ser uma opção mais barata, já que a cartela com 12 ou 30 unidades subiu muito. “Senti bastante a alta da carne, eu substituí pelo ovo, que também está caro. Deixei ainda de levar outras coisas, como ‘besteirinhas’, alguma proteína mais cara, para poder comprar arroz e feijão, que não tem como cortar”, conta ela, que trabalha como recepcionista de hotel.

“Ficou quase impossível comprar carne de boi. Eu como carne de porco e frango, que é mais barata até que o ovo atualmente. Alguma proteína precisamos comer”, comenta a auxiliar de serviços gerais, Andreia Lopes Silva, de 43 anos. E esse reflexo de variação, aumento e baixa de preço também tem sido sentida pelos comerciantes do ramo alimentício.

Para Alessandro Lima, de 49 anos, dono de restaurante, disse que o aumento dos preços é persistente e tem acontecido há bastante tempo. “Isso não é recente. Hoje, eu como frango, porque a carne bovina subiu muito. O contrafilé que era R$ 21 o quilo, eu pago hoje R$ 42. Mas há ocasiões em que eu tenho boas saídas para aproveitar as promoções e baixas repentinas nos preços dos açougues”, afirma. 

“Se você tem essa troca de proteína animal para o mercado de ovos, ali você tem um aumento de demanda. O que deve ser observado é que esse aumento do produto é questão substituição da população. Então ele tem essa explicação mais mercadológica”, observa Ongaratto, que destaca que a cadeia de insumos e transporte dos ovos está em baixa no momento.

Na tentativa de economizar, a busca por ofertas cresceu. Solange Alves, 38 anos, tem usado essa estratégia nos últimos meses, e tem encontrado alguns cortes de carne por um valor mais em conta. “Os mercados até mostram umas ofertinhas, e eu aproveito para fazer meu estoque de carne da semana. As coisas estão muito caras, mas vou dividindo, um dia como frango, outro bife de vaca, ovo e carne de porco”, conta.

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