Educação para crianças com autismo ainda é desafio para gestões municipais

De acordo com último levantamento da SME, 1.319 alunos diagnosticados com TEA estão matriculados na rede municipal de ensino de Goiânia no ano de 2023

Postado em: 20-06-2023 às 08h00
Por: Ícaro Gonçalves
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De acordo com último levantamento da SME, 1.319 alunos diagnosticados com TEA estão matriculados na rede municipal de ensino de Goiânia no ano de 2023. | Foto: Reprodução

Um dos grandes desafios e receios de pais de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é a inclusão dos filhos na rede regular de ensino. Como assegurado pela Constituição, a educação é direito de todos e deve ser oferecida sem distinções, de forma a atender às Necessidades Educacionais Especiais dos alunos.

Raimunda Sampaio é mãe de Kaleb, de 10 anos, diagnosticado com TEA desde os 4. Atualmente morando em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, Raimunda relatou ao O HOJE os desafios iniciais enfrentados até que Kaleb se adaptasse à vida de estudante.

“No início foi bem complicado, relutei muito tempo para aceitar o diagnóstico. Minhas preocupações envolviam todos os campos da vida de meu filho, principalmente com a educação, que é um dos mais desafiadores, envolve a socialização e a aprendizagem. Para Kaleb os primeiros anos foram difíceis porque ele resistia ao fato de ficar na escola. Mas hoje ele socializa bem com os colegas. Sabe ler e escrever”, relata.

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Mesmo com a adaptação com o tempo, alguns alunos com TEA precisam de acompanhamento contínuo para se desenvolverem juntos aos colegas de sala. Aluno da rede de Trindade, Raimunda diz que Kaleb tem bons professores, mas sente falta de professores de apoio.

“A gestão da escola é muito boa. As professoras têm minha gratidão porque realmente se esforçam para ensiná-lo. No que se refere ao professor de apoio, no momento Kaleb está sem. Faltam profissionais formados e especializados em educação especial para apoiar as crianças atípicas”, disse à reportagem.

Aparecida de Goiânia

Já Esthefania Lis é mãe de Miguel Estevão Oliveira, de 4 anos, conta que o filho recebeu o diagnóstico aos 2 anos, logo no início da pandemia. Morador de Aparecida de Goiânia, Miguel foi matriculado em um CMEI do setor Vila Maria, mas não encontrou a estrutura de apoio necessária para as aulas.

“Quando ele teve o diagnóstico, ele estava na rede particular. Muitos profissionais ainda não eram treinados sobre o autismo e não sabiam como lhe dar. Para ele se adaptar tivemos desafios. Quando levamos ele para a rede pública também foi difícil. Ele ficava mais a parte das outras crianças”, disse Esthefania à reportagem.

“Ele ainda não se comunica, então nos preocupamos muito pois, apesar dele ser muito tranquilo, ele interage pouco. Inclusive, nos primeiros meses, alguns professores queriam separá-lo das demais crianças. Ele estuda em período integral, mas só tem professor de apoio na parte da manhã”, disse.

Esthefania completa, dizendo que como mãe de uma criança com TEA, sente falta treinamento para os profissionais de educação no ensino das crianças. “Temos uma quantidade muito grande de crianças autistas nas salas de aula, então acho que deveria haver maior treinamento e capacitação. Também precisamos de trabalhos de conscientização que possam integrar os alunos e melhores matérias de ensino, voltados às crianças autistas”, finaliza.

A respeito da queixa apresentada pela mãe, a Secretaria Municipal de Educação informou que o CMEI Cantídio Rodrigues conta com professores de apoio para os alunos com laudos.

Ainda de acordo com a pasta, para o período vespertino a SME está convocando os professores aprovados no último processo seletivo, para que possam assumir a vaga e com isso zerar o déficit. A expectativa é que essa demanda seja resolvida já para o próximo semestre. 

Formação continuada em Inclusão

No ano passado, entre Educação Infantil e Ensino Fundamental, a rede municipal de Educação da capital atendeu 1.121 estudantes com TEA. Além do ensino nas unidades educacionais, é oferecido às famílias o atendimento no contraturno, em dois Centros Municipais de Apoio à Inclusão (Cmai), nas 52 salas de recursos multifuncionais instaladas nas unidades de ensino, além das instituições conveniadas de ensino especial.

De acordo com a pasta estão matriculados atualmente na Rede Municipal de Educação de Goiânia 3.251 crianças e estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), sendo destes 1.319 diagnosticados com TEA.

A partir das necessidades diante dos matrículas na RME de Goiânia, a Gerência de Inclusão, Diversidade e Cidadania através de seus profissionais especializados elaboraram uma série de vídeos com o objetivo de recomendar orientações para acolhimento e atendimento a crianças e estudantes diagnosticados com o espectro autista.

 Inicialmente, as doze produções foram socializadas e discutidas nas instituições. Em continuidade a este projeto, que teve início em 2022, a Superintendência Pedagógica orientou que a Gerência de Formação dos Profissionais da SME (GERFOR) viabilizasse uma ação formativa voltada a estes profissionais (administrativos e pedagógicos) com objetivo de ampliar os atendimentos ofertados.

A formação foi estruturada para 11 mil profissionais, entretanto, com o interesse dos profissionais, foram efetivadas mais de 14 mil inscrições no curso de 60 horas iniciado em janeiro de 2023 com previsão de término em novembro.

Encontro em Goiânia

Para contribuir nos debates sobre políticas públicas para a educação especial e inclusiva, a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (SME) promove hoje (20/6) o encontro “Possibilidades e estratégias para desenvolver a atenção da criança com TEA”. O encontro integra a Política Nacional de Educação Especial, com objetivo de acolher e atender em suas especificidades às crianças e estudantes, dentro do Projeto TEA – Escola Comum Inclusiva.

Esta é a quarta formação do ano voltada aos pais e familiares que têm crianças com TEA atendidas nas unidades de Educação Infantil e Ensino Fundamental da capital. Iniciados em 2022, os encontros oferecem formações para pais e responsáveis de crianças diagnosticadas com autismo.

No ano passado, entre Educação Infantil e Ensino Fundamental, a rede municipal de Educação da capital atendeu 1.121 estudantes com TEA. Além do ensino nas unidades educacionais, é oferecido às famílias o atendimento no contraturno, em dois Centros Municipais de Apoio à Inclusão (Cmai), nas 52 salas de recursos multifuncionais instaladas nas unidades de ensino, além das instituições conveniadas de ensino especial.

De acordo com a pasta estão matriculados atualmente na Rede Municipal de Educação de Goiânia 3.251 crianças e estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), sendo destes 1.319 diagnosticados com TEA.

“Foram 13.300 profissionais formados em 2022 e o nosso desejo era trazer as famílias. E aqui estamos para promover uma educação cooperativa, ampliar o diálogo e trocar experiências”, ressaltou o gerente de formação dos profissionais da Educação da SME, Elias Antônio Democh.

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